PATRIMÓNIO DOS POBRES

Tinha pensado levar hoje aos meus leitores alguns reflexos mais importantes da Carta Encíclica do Papa Francisco, «Fratelli Tutti», sobre a fraternidade e a amizade social, pois ele é também, em alguns capítulos, um espelho da alma, de vós, meus amigos e irmãos.

Não fosse essa pureza de espírito, nunca Pai Américo levantaria a Obra da Rua, muito menos nós a aguentaríamos, pois o que o Santo Padre diz nesta Carta é o mesmo que afirmo a tantos leitores meus, marcados pelo sofrimento dos pobres.

Esta leitora é de Torres:

«Quando leio O Gaiato e vejo, ou melhor, tenho conhecimento de tanta necessidade e miséria, fico constrangida e doente.

Por aqui, embora haja gente com pouco, não há pobreza extrema. Há sim, miséria: aqueles que recebem o subsídio e tomam diariamente pequeno-almoço no café!...»

Receber o subsídio sem trabalhar, só por malandrice ou preguiça, é aumentar a miséria e nunca vencê-la, pois esta só se derruba com o trabalho. Este é uma fonte de saúde e dignidade. Ajudar quem não trabalha sem séria desculpa é semear miséria.

«Sr. Fulano (eu), emocionada com a situação descrita no Gaiato, vem-me à mente o pensamento de William Shakespeare: os grandes roubos fazem dos seus autores homens honestos, mas como o roubo é pequeno, ele entra imediatamente na cadeia. Isto é justiça de preto.»

Esta leitora está de acordo com todo o grito de justiça que «O Gaiato» apregoa.

Maria Giberta:

«O primeiro artigo que leio no vosso jornal é o Património dos Pobres. Dói-me sempre o coração.»

O que escrevo, comento eu, é mesmo para chegar aos corações cristãos. São eles os primeiros alvos como também os primordiais beneficiários. Todo o dom perfeito vem do Alto. Parte do Pai das Luzes, como nos diz São Tiago.

Da amiga Adelina:

«Hoje foi dia de receber «O Gaiato» e sempre tirei alguns minutos dos afazeres domésticos para ler, sempre em primeiro lugar, o Património dos Pobres e outros artigos por ordem de interesse social e humano com que os Senhores Padres tão bem informam os leitores. Todos os casos narrados no Património são sempre impressionantes, mas alguns bradam aos céus e o de hoje foi um desses. E, a respeito, faço-lhe uma confidência: já me tem passado pela ideia pedir que o jornal fosse enviado para os nossos governantes, mas hoje tive a confirmação que já o fazem e assim faço minha a sua pergunta - será que alguém lê e faz chegar-lhes estes casos dramáticos aos seus conhecimentos? Realmente, o tal advogado, seu conhecido, tem razão em dizer: só com a SIC ou outra rede de comunicação encontram eco nesses duros corações. Um abraço e votos de melhoras.»

Nós fazemos sempre o possível para amolecer os corações duros e indiferentes, mas a sua perspectiva é outra. Já o Mestre se queixava que era muito difícil um rico entrar no Reino dos Céus. O Património não é deste mundo, embora seja por este mundo. Só o entende as que vivem na terra, o Reino que Jesus pregou.

O Santo Padre, na citada Encíclica, narra a história que Jesus expõe: «Conta Jesus que havia um homem ferido, estendido por terra no caminho, que fora assaltado. Passaram vários ao seu lado, mas... foram-se e não pararam. Eram pessoas com funções importantes na sociedade que não tinham no coração o amor pelo bem comum. Não foram capazes de perder uns minutos para cuidar do ferido ou, pelo menos, procurar ajuda.

Um parou, ofereceu-lhe proximidade, curou-o com as próprias mãos, pôs também dinheiro no seu bolso e ocupou-se dele. Sobretudo deu-lhe algo que, este mundo apressado, regateamos tanto: deu-lhe o seu tempo. Tinha certamente os seus planos para aproveitar aquele dia a bem das suas necessidades, compromissos ou desejos, mas conseguiu deixar tudo de lado, à vista do ferido e, sem o conhecer, considerou-o digno de lhe dedicar o seu tempo.»

O comentário à reflexão do Papa, deixo-o ao Leitor.

Padre Acílio