PATRIMÓNIO DOS POBRES

A falta de casas para morar neste País, é um clamor que atinge uma boa parte da sociedade em geral e, de modo muito grave, as classes mais pobres com ordenados que, de forma alguma correspondem às necessidades básicas das famílias sem outros meios.

Ouvi, há dias, na Comunicação Social, dizer que a colocação dos professores para o próximo ano lectivo estaria ainda sujeita à aceitação de cada docente, por causa das rendas das casas, dos apartamentos e dos quartos, pois os seus ordenados não dariam para pagar também os preços elevados de uma morada ou mesmo um quarto para viver.

Verdadeiramente estamos a chegar a um ponto extremo do preço das habitações, pelo menos nas grandes cidades e nas zonas onde se perspectivam alguns progressos económicos.

Conheço pessoalmente alguém que fez uma casa com oito quartos e duas casas de banho, apoio de cozinha e mais nada, recebendo por cada quarto a quantia de 350 euros mensais e os quartos estão esgotados por trabalhadores, na sua maioria estrangeiros os quais ganham ordenado mínimo.

Como poderão viver? Não comem? Não precisam de calçar e vestir? A sua higiene é só com água? Vivem sempre com saúde? Não precisam de médicos nem remédios? Vão a pé ou de graça para o trabalho? Meu Deus!... As coisas são mais que evidentes para não incomodarem quem nos governa!... Será que o Parlamento não tem com que se entreter, se não levantar o gargarejo a ver quem pica mais alto? Não há assuntos mais importantes, como este preço a que chegaram as casas aos cidadãos e os estrangeiros pobres?

A banalidade da política partidária chega para encher a boca? A questão é clara. Tão clara que um hábil demagogo está a prometer que daqui a três anos todos os portugueses terão casa. Promessas para atrair votos, as quais depois se esquecem, como é costume.

Nestes dias apareceu-me um casal com mais de 60 anos a pedir-me um cantinho onde pudessem arrumar as suas mobílias pois sentiam-se obrigados a ir viver para um quarto porque não conseguiam pagar o alto preço a que chegou a sua casa.

O homem era alto e magro com olhos negros e cara macerada expunha a sua situação com expressões tristes e desesperadas. Agora só se preocupava com as mobílias: onde as arrumar?

Ir viver com outras famílias, partilhar a cozinha ou a casa de banho já não o afligia. Era secundário. Estava disposto a tudo!... a mulher sentada debaixo da garrida buganvília que enfeita a frente da nossa Casa, punha os olhos no chão, olhava-me com um soslaio magoado e fixava-se mais na calçada tentando distrair-se da vivência a que estava obrigada.

Claro que o Património poderá resolver, aqui ou acolá uma situação como tem acontecido em comprar uma casa em extrema pobreza ou ajudar a resolver casos concretos mais gritantes à custa de corações cristãos abertos a Deus e aos pobres, mas não dispõe de capacidade para sanar esta aguda ferida social. Só lhe resta gritar sem descanso, nem desânimo.

Padre Acílio