PATRIMÓNIO DOS POBRES

Foi no passado dia 14 de Julho que entregámos oficialmente a casa à família da Ana.

Para lá chegarmos tivemos de percorrer caminhos penosos como pagar às finanças dívidas que o pai das crianças contraíra, com um carro velho, em nome dela. Não deu baixa do veículo, passou pela via verde sem registo, muitas vezes, fez trinta por uma linha em nome da desgraçada.

O Estado não perdoa juros e dever-lhe não é um encargo como qualquer outro, os números estão sempre a subir, a seu favor, de forma que, para fazer a escritura da casa, em seu nome, tivemos de pagar 1300 euros de dívidas às finanças e a outras entidades.

Eu não sei se haverá maneiras de se conseguir isenção destas custas, mas nós, os pobres, não conhecemos mais nada. A única forma de andar para a frente é pagar em silêncio, forçadamente.

Alguns ricos conseguem fugir aos impostos, aldrabar o Estado, comer à grande e safam-se. São poderosos. Os pobres, ao contrário, têm que pagar, nem que seja com a prisão.

O prédio tem gás canalizado, mas o andar adquirido não tinha. Foi preciso ligá-lo com mais despesas, perto de novecentos euros.

Teria muito gosto que o Pároco estivesse presente para conhecer a família e gozar a alegria desta evangélica acção mas as suas férias não o permitiram.

Participaram comigo apenas um jornalista, encarregado de divulgar no Diário da Região a dádiva de mais uma casa a uma família posta na rua pelo tribunal, em nome das forças e leis do Estado, mais a gratuita mediadora entre a antiga dona e o Património dos Pobres, uma benfeitora, professora de arte, e a família cuja composição damos a estampa.

A casa foi pintada sobre a direcção desta professora, amiga do Património, mobilada e fornecidos todos os electrodomésticos necessários, mais uma televisão antiga, mas a funcionar.

O ambiente ficou bastante agradável, edificante e acolhedor.

Comemos com a família à mesa da sua casa um jantar simples, confeccionado pela Ana, com produtos que lhe fornecemos.

O convívio à mesa é importante para apreciarmos o nível de dignidade e activismos e conversarmos sobre a vida individual, familiar de cada um e contamos para todos as vitórias e as dificuldades que tivemos de vencer de modo que tanto as crianças e a mãe se apercebessem que a vida é feita de muito esforço e compensada pelas vitórias conseguidas.

A filha mais velha, ainda adolescente, diz pensar ser, quando for maior: - Quero ser médica, logo a Professora atalhou: - É preciso estudares muito e já. Esta fez o nono ano com boas classificações e respondeu: - Durante as férias vou rever as matérias dadas.

Não dispensamos o aspecto religioso do acto, pois a dádiva de uma casa é um dom de Deus que actuou nos corações generosos e amigos do Senhor e que aqui se tornou presente com este sinal poderoso.

- Ah! Como quereria uma Igreja pobre e dos pobres - disse o Papa Francisco quando foi eleito como primeiro responsável da Igreja.

Padre Acílio