PATRIMÓNIO DOS POBRES

Ainda em épocas de pandemia e confinamento, a Ana foi despejada pelo Tribunal da casa que habitava e posta na rua, de um dia para o outro sem qualquer defesa.

Nem os três filhos nem ela, desamparada e sem trabalho, nada fez recuar a sentença.

Alugar uma casa em Setúbal é negócio muito caro e difícil, pois as habitações são poucas e a procura é um exagero.

Esta mulher, abandonada pelo progenitor da sua geração, para não dormir na rua, alugou uma, como relatei no jornal, por 550€/mês e caução de dois meses. Quem esteve por trás de todo o apoio foi o Património dos Pobres, que tem pago as rendas e dado o dinheiro e os alimentos para sobreviverem.

Com a informação de uma senhora professora que vem gratuitamente dar explicações aos mais pequenos, duas vezes por semana, e estando metida no negócio das casas, encontrei uma em bom estado com dimensão suficiente para a família e comprei-a. Tem uma boa cozinha, sem fogão, uma sala de jantar grande, dois quartos, uma casa de banho, uma despensa e uma varanda. Situa-se no centro da cidade, na rua que, saindo na frente da Igreja da Nossa Senhora da Conceição, vai para a Camarinha, logo no fim do primeiro quarteirão, à esquerda, um primeiro andar.

Toda a gente entende que uma família não se faz sem casa e que hoje a renda das mesmas é igual a um salário mínimo para pessoas saudáveis, porque, para os doentes o preço da morada é uma dor de cabeça contínua e um peso que esmaga dia e noite.

Quem devia fazer estas compras eram os senhores governantes, que juraram cumprir e fazer cumprir A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA, a qual diz claramente que cada família tem direito a ter uma morada para viver.

Se há famílias que não têm morada é preciso exigir, sob pena de um juramento ser apenas uma formalidade ou ainda um embuste para enganar quem neles votou.

Foi um alarme o caso de Odemira. Movimentou Ministros e outra gente comprometida. Foi um bem para os pobres e explorados que, com o seu trabalho e sacrifício, vêm enriquecer o país. Um bem descoberto por um surto de pandemia.

Com o susto político, movimentaram-se logo os responsáveis. É que aquilo caiu-lhes mesmo em cima e o prestígio partidário é algo de intocável.

Realizou-se no Porto uma cimeira da União Europeia dirigida aos problemas sociais de todos os países, a qual, além dos encontros muito bem aparelhados, resultou em quê?

Temos, no meio de nós, gente de certa raça, abundante na cidade, que não trabalha. Vive da pedincha, de expedientes onde entra também o negócio da droga, o submundo da prostituição e outros caminhos que conduzem à miséria social.

Onde está uma LEI DE SESMARIAS que obrigue pelo menos o chefe de família a trabalhar? Ao alto, em grupos, donos dos apoios sociais, entretêm-se em quê? O Estado oferece-lhes oportunidades, com cursos de formação profissional e aprendizagem escolar, mas quem os frequenta? Quem os ajuda? Mais, quem os obriga? Se, por si próprios, pela responsabilidade dos filhos não se sentem coagidos, tem de haver uma autoridade que os obrigue. Não podemos estar à espera que as necessidades os estimulem.

Quando os sinto caídos na valeta da miséria, POR MISERICÓRDIA DIVINA, acudo-lhes com as esmolas sacrificadas dos amigos dos pobres, mas aviso, que não ajudarei quem não trabalha.

A actividade humana responsável, é o melhor bem social que se pode ter, mais ainda, é um mandamento divino: COMERÁS O PÃO COM O SUOR DO TEU ROSTO.

O trabalho tem ainda um efeito profilático de grande alcance social e a preguiça é a mãe de todos os vícios.

Passaram-se mais de seis anos em que, nesta cidade, não se construiu prédio nenhum, o que levou a uma situação catastrófica dos alugueres de casa subirem muito acima dos rendimentos familiares, criando ajuntamento de famílias na mesma habitação.

Há dias, uma das desgraçadas que me batem à porta e a quem paguei dois meses de remuneração, disse-me que se inscreveu, como candidata a uma casa de baixo preço, e lhe disseram no respectivo serviço que à frente dela estavam mais de seis mil famílias.

Padre Acílio