PATRIMÓNIO DOS POBRES

Este Património vai encontrar-vos na alegria e vitória pascal as quais serão justas e agradáveis ao Senhor se vos tiverdes sacrificado pelo jejum em favor dos pobres, pela oração de modo semelhante, pois diante da Majestade Divina todos os homens são pobres embora a maior parte não o reconheça. Rezar pela Igreja e pelos pecadores é um acto de humildade e comunhão com o Espírito Santo. Na esmola para socorrer tantos dos nossos irmãos que vivem na doença sem medicamentos, na fome sem alimentação, no frio sem a casa e na miséria por terem de se juntar com a sua família a outras, viver e dormirem juntos, quase como animais numa promiscuidade inqualificável.

No meu catecismo de criança aprendi que são felizes os pobres de espírito e na minha caminhada dentro da Igreja tenho descoberto que o sentimento de Jesus está mal traduzido ou melhor feito a maneira dos instalados. O que o Senhor quis dizer é que são bem-aventurados os que tem espírito de pobre e passam a sua vida a tirar dos seus rendimentos a reparti-los com os infelizes e a fazer uma vida económica. Esta vida de pobre é muito diferente do que ditava o meu pensamento de criança julgando que os pobres de espírito eram os deficientes mentais os atrasados e os ignorantes.

O contacto com os pobres veio trazer-me luz, abrir horizontes e sofrer no coração.

A Anabela é doente sofre de uma anemia crónica provocada pela fome ou alimentação desprovida de proteínas. Tendeira é o seu modo de vida e sustento. Nas feiras e arraiais das festas, ia mais ou menos, ganhando dinheiro para a sua família de cinco filhos com o mais novo deficiente. A pandemia tudo arruinou nem festas nem feiras, tudo desapareceu. A Câmara atribui-lhe uma casa onde vive. É o que vale pois o marido abandonou-a.

Já falei dela e uma família do Porto, antiga assinante do Jornal prontificou-se a pagar-me as exigências do Estado através do Tribunal, uma elevada quantia todos os meses resultado de multas e seus juros sempre arrastados os quais levá-la-iam à ruína ou à prisão.

Temo-la ajudado e por esta Páscoa também, com alguma comida e um bom avio e até um bacalhau dum fardo comprado para distribuir por estes pobres mais mal alimentados. A Anabela voltou de novo com duas multas da PSP uma por trazer a chapa da matrícula descaída e outra por não ter ido à revisão a tempo com o velho carro, cada uma no valor de 250 euros e as duas juntas eram 500 euros. Ao ouvi-la relatar em soluços pus as mãos na cabeça e barafustei: - Então agora sou eu que lhe pago as multas? Não sabe que a lei é para se cumprir?

- Oh! senhor padre, olhe que eu me fartei de chorar diante dos guardas, disse-lhes da minha doença, o meu estado de pobreza, da situação dos meus filhos, mas eles não fizeram caso. Prenderam-me o carro e deram-me estes papéis -, apresentando-me as multas.

É preciso ver bem estes dramas para nos condoermos. Os agentes cumpriam o seu dever, não fecharam os olhos nem se compadeceram da desgraçada mulher. Tinham um coração de pedra e quando assim é não há nada a fazer dura lex sed lex diziam os latinos mas não é assim para todos os portugueses. Os pobres e os ignorantes que não se sabem defender são sempre as vítimas.

Os 500 euros saíram do Património.Esmolas sagradas vindas dos corações misericordiosos e condoídos. Vai direitinho ao Estado que o gastará não com os pobres infelizes mais muito mais com os apaniguados do seu partido.

O Estado que não obriga os pais de família a trabalhar para vencer a pobreza extrema, nem os habitua à responsabilidade dos muitos filhos mas antes os sustenta com as ajudas do Rendimento Social de Inserção mantendo-os na miséria, não cumprindo as normas da Constituição da República e pondo-os a dormir, em muitos casos, aglomerados em famílias na mesma casa, dando assim origem à continuidade da pandemia.

Vem aí a Páscoa mas com ela, não o júbilo que me deveria trazer mas a cruz negra e perene da pobreza que me rodeia.

Padre Acílio