
PATRIMÓNIO DOS POBRES
O Estado, através dos seus agentes na cidade, atribuiu uma casa, um rés-do-chão, num bairro chamado social, a uma família cigana com três crianças - três meninos, um de dois anos e dois gémeos, de meses.
Até aqui, tudo de louvar. Sem casa não há família e é impossível viver com saúde por muito tempo.
A morada, porém, não estava habitável, em virtude de a casa de banho se encharcar de água suja a cair do tecto da congénere do primeiro andar, pois estas situam-se todas, como é regra da construção, na mesma prumada para aproveitamento da canalização das águas e dos esgotos.
Foi para remediar este defeito que eu fui chamado. Pedreiro para limpar, reconstruir, pôr alguma dignidade, pediu-me 1.500€, preço que achei razoável e mandei executar.
Agora, devo perguntar: afinal, um governo suportado por uma política socialista gasta largas dezenas de milhões de euros a embelezar, guarnecer e comprar gabinetes para os novos membros deste "governão" e entrega aos pobres moradias neste estado? É este o socialismo? Onde está a coerência?
Verifiquei também que o casal, gente nova, não trabalha, nem ela, nem ele.
Ao olhar-lhes nos olhos e ao pôr-lhes o problema do trabalho, cara a cara, ouvi desculpas que não me convenceram: falta de escolaridade, xenofobia por parte dos outros, etc. Em vez de hábitos e educação para o trabalho e a disciplina que o mesmo exige e, talvez até, o hábito de andar na pedincha, mais a falta do sentido de responsabilidade que os filhos acarretam: - Então, vocês têm filhos para os outros governarem? Não acham isso injusto? Vocês, não trabalhando, fazem dos vossos filhos uns burgueses. O trabalho não vos entra pela porta adentro; é preciso procurá-lo e, mais ainda, mantê-lo, estando a horas, não faltando, esforçando-se por mantê-lo, fazendo bem as tarefas para agradar a quem os emprega.
O trabalho é fonte de saúde física, psicológica e moral.
Houve tempos em que nas prisões portuguesas havia escolas oficinais, lavoura, pecuária, hortas e até fábricas, o que não deixava de ser punível e era muito mais regenerador do que a fria e rígida cela.
A lei do trabalho é um mandato natural que tem de ser respeitado por quem rege o País.
Ninguém pode ser isento daquilo que é natural, conforme as capacidades de cada um e ser obrigatório. Isto não é política de extremos, nem de esquerda nem de direita. É assim porque a natureza humana o exige para o desenvolvimento do homem.
Nesta situação há mais a observar.
A uma família cigana, porque tem crianças, faculta-se uma casa, fraca e inabitável, sim, mas é um abrigo. Não se retiram as crianças até que ela crie condições para ter consigo os seus filhos, o que já não acontece, na prática, às outras famílias portuguesas, como a daquela pobre aqui falada no penúltimo O Gaiato, em que o tribunal a pôs na rua, não chamou a contas o senhorio e a solução apresentada foi, segundo ela, creio ser verdade, que lhe levam os filhos para instituições até que ela crie ambiente para lhos devolverem.
Como é que uma mulher, sozinha, a pagar 550€ por mês de renda de casa poderá alguma vez criar condições? Como? Só se jogar na lotaria e ela lhe sair! Alguém lho garante?
Se a uma família cigana se dá uma casa, o que temos de aplaudir, por ela ter crianças pequenas, não será antes por que, se lhe retirarem os filhos, eles fazem um chinfrim danado?
Não está o Estado a fazer injustiças? Não somos nós um país multirracial? Não somos todos portugueses? Então, porque é que a uns sim e a outros não? Será, talvez, por aquela ter sido inscrita mais cedo? Não será antes pelo chinfrim que eles fazem? É que nunca vi retirarem filhos aos ciganos.
Seja como for, àquela família referida, composta por duas meninas, um menino ainda bebé e uma mãe abandonada se dá uma receita destas, impossível de alcançar?
O Estado não sabe, de há muito, que situações como esta estarão sempre a aparecer e, mais ainda, num Estado laico, com leis anti-naturais!
E onde estão as casas em condições?
Padre Acílio