PATRIMÓNIO DOS POBRES

Trago hoje aos Leitores uma notícia cuja verificação me encheu a alma de júbilo.

Um sacerdote foi tomar conta de várias paróquias e encontrou necessidades urgentes em todas as igrejas, como telhados rotos e alguns em ruína evidente.

O que fez ele? Qual a sua primeira preocupação? Visitar os pobres das suas paróquias e averiguar as condições em que vivem.

Na década de 1945-55 um padre zeloso, com alma de apóstolo, construiu para os Pobres da sua principal freguesia um pequeno bairro, no adro da igreja matriz, com doze casinhas, viradas umas para as outras, com uma única empena e um corredor ao ar livre para acesso a cada casa com largura de três metros e esgoto das águas pluviais.

Ao entrar na porta do corredor, tive a impressão de ver uma ilha.

Os telhados, feitos de telha francesa daquele tempo, começam a ceder à chuva e a criar goteiras em vários lados das casinhas. Depois, estas com exíguas dimensões têm somente uma sala e uma chaminé, as mais pequenas. As maiores, dois quartinhos pequenos mais sala e chaminé. Não têm casas de banho, nem água, nem luz.

Situadas na zona nobre da vila, de vistas maravilhosas e largas, o devotado pároco tem de obedecer hoje a determinadas regras impostas pela lei, enfrentar tudo para acomodar os seus paroquianos mais indigentes em casas dignas que satisfaçam as exigências modernas, com sala-cozinha, dois quartos e casa de banho, aproveitando o espaço de duas, construindo nele apenas uma.

Já tem uma arquitecta a trabalhar no assunto para apresentar o plano às entidades públicas, a fim de lhes pedir também ajuda.

O Património irá colaborar e, como sinal de adesão ao projecto, deixei-lhe dois mil euros e mais mil para outra necessidade, cuja solução está a dar frutos.

Actualizar as moradias é um acto de apostolado, visível a toda a gente.

Ora, aqui temos uma iniciativa que derruba o pensamento de um Bispo, já resignado: "O Padre Américo trouxe muitos problemas à Igreja com o Património dos Pobres".

Senhor Bispo, tem aqui a prova que o Padre Américo apenas quis despertar a Igreja para aquilo que o actual Papa prega desde o início do seu apostolado, como cabeça da Igreja Católica. Ora, mais: - Há ali uma conferência vicentina a funcionar, a sério, com visitas regulares aos pobres, para os ajudarem, protegerem e animarem. Com que alegria eu vi uma idosa apontar um roupeiro e dizer-me: - Isto foi o Sr. Manuel que mo deu. Os pobres trazem linguagem de Deus aos nossos sentidos e fazem-nos estremecer com a Sua presença.

Por esse Portugal além, quantas iniciativas de padres construíram casas para os Pobres, amparados pelo Padre Américo, as quais foram simplesmente abandonadas ou desprezadas, sem qualquer remorso pelos seus continuadores. Quantas que eu já visitei?!... Os Pobres acrescentaram, demoliram a seu bel-prazer, juntaram galinhas, cães e gatos nas suas moradias, à vontade de cada um, sem que ninguém os advertisse, que as casas eram propriedade da fábrica da igreja e não sua!... Quantas? E ali, nem pároco, nem bispo, ninguém quis saber.

Quem dera que os planos pastorais começassem todos como este, como insiste o Papa Francisco.

Então, a Igreja brilharia como o sol, enchendo o mundo de luz.

Padre Acílio