PATRIMÓNIO DOS POBRES
A Misericórdia é um movimento do coração humano e divino. É o motor dos melhores e mais belos sentimentos da pessoa, por isso Jesus declarou: Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Esta é a força do Património dos Pobres ou melhor a sua génese ou a sua fonte.
Todos os homens desejam misericórdia mas, infelizmente, nem todos os cristãos procedem de maneira a poderem merecê-la e hoje, são poucos os que a praticam a começar pelos mais responsáveis.
Pergunta este Bispo, no trecho que me serve de inspiração: Oh! homem, com que coragem ousas pedir a Deus o que recusas dar aos outros? E ele continua: Quem deseja alcançar misericórdia no céu deve praticá-la neste mundo. E ele segue: Por conseguinte, já que todos desejamos misericórdia, façamos dela a nossa advogada através da misericórdia praticada na terra que chegará à misericórdia do céu.
Existe a misericórdia humana e terrena e a misericórdia celeste e divina. A humana, é aquela que se dói dos doentes, dos que não têm casa, dos que vão para a rua, dos que vivem em vergonhosas espeluncas ou acumulados em casas apertadas, sem espaço e sem ar, com pessoas estranhas. E qual é a divina? - A que nos concede o perdão dos pecados. Tudo o que dá a misericórdia humana será retribuído na Pátria Celeste. Deus que incarnou nos doentes, nos presos, nos que passam fome, nos que não tem remédios e aguentam as suas doenças, os que sofrem o desprezo porque foram educados no desleixo... o mesmo Deus que recompensará no céu, quer receber de nós misericórdia nesta vida terrena.
Que espécie de gente somos nós: quando Deus dá o que queremos receber, mas quando pede não queremos dar? Quando um pobre não tem casa é Cristo que está na rua. Não desprezes, por isso, a miséria dos pobres se queres esperar confiadamente o perdão dos pecados pessoais.
Que quereis ou que buscais quando vos dirigis a Deus? Dai, portanto, a misericórdia terrena e recebereis a misericórdia celeste, o pobre pede-te uma ajuda material e tu imploras ao Senhor a vida eterna.
Dá ao pobre para poderes receber de Deus!
Não compreendo como queres receber de Deus aquilo que não queres dar ao homem? Como tenho dificuldades em me deslocar mando vir os pobres ao pé de mim para desabafarem as suas dores e a compaixão mova a minha misericórdia. Sinto aqui a experiência do Papa Francisco que tanta falta faz ao padres de hoje.
Não é a primeira vez que esta mulher se dirige à Casa do Gaiato. Não sei o seu nome, mas já a tinha na memória visual, aquele corpo cheio de cortisona, aqueles olhos esbugalhados de chorar aquelas pernas inchadíssimas... um enorme cilindro humano, senta-se numa cadeira ao pé de mim a chorar que não é capaz de viver! O marido incapacitado por um AVC não mexe um dos lados do corpo e tem uma pensão de 200 e poucos euros. Três filhos ainda sem idade de trabalhar e na escola e eu neste estado. Passa as mãos por cima da volumosa barriga. A renda de casa - uma casa no campo com água e luz 400 euros. Que fazer senão dar-lhe os 400 euros?
Um homem novo, alto, doente das pernas, vestido de preto: sempre sofri dos olhos, sempre vi mal!
Os óculos, 292 euros e 10 cêntimos. Que fazer? - Dei-lhe um cheque com o custo dos ditos, dirigidos a Óptica que lhe fez o preço.
De
onde me vem o dinheiro? Sim, de onde? Do Estado? Nem um cêntimo - da
misericórdia humana que se há-de derramar celestialmente sobre aqueles a quem
pede, batendo no coração.
Padre Acílio