PATRIMÓNIO DOS POBRES
O Património dos Pobres, segundo o pensamento do Pai Américo, destina-se primariamente a auxiliar os Pobres na sua habitação e a denunciar perante o público, as autoridades e a Igreja Católica a dramática situação de tantas famílias privadas do acesso a uma casa digna.
Não me calo, nem jamais deixarei de gritar, como faz o Papa Francisco, enquanto sentir o alheamento dos confortados pela riqueza pessoal, pelo poder político ou religioso e pelos que têm duas, três ou mais casas, na cidade, no campo, na praia, neste e noutros países, para gozar férias e passear; não se incomodando com o frio, a doença e desânimo daqueles que não têm capacidade para enfrentar a distracção voluntária, contínua e persistente dos ricos e poderosos.
Sem casa, ninguém pode viver. As barracas, e os aglomerados familiares no mesmo andar, são, quase sempre, uma descida para a miséria social que recai sobre os Pobres, sobre o Estado e todos os cidadãos - Pobres, remediados e ricos. A miséria desaba sobre nós como uma maldição generalizada.
Um casal a viver num carro velho, gente madura, ele com uma pneumonia e ela, pessoa habituada a um certo recato e algum nível humano, vem ter comigo com uma carta e a recomendação do senhor Bispo para que eu lhes arranje uma casa.
— Eu não tenho casas. Era bom se as tivesse...
Mandei-os procurar no mercado imobiliário uma casa para habitarem, comprometendo-me a ajudá-los nos primeiros meses. Isto aconteceu há mais de 30 dias e ainda não encontraram nada; pelo menos, jamais me apareceram.
Hoje, ter casas para alugar rende muito mais que ter o dinheiro no banco.
Alguns senhorios valem-se desta crise e exigem três, quatro e cinco meses de caução para fazer um contrato de arrendamento!
Qual é a família pobre que tem dinheiro para estas propostas? Nenhuma.
Creio que a Constituição Portuguesa obriga o Governo a providenciar habitações para todas as famílias!
Quando, entre nós, apareceu um Governo de esquerda esperei que fosse uma governação voltada para os mais Pobres, mas... infelizmente enganei-me.
Quer uns, quer outros, todos procuram, em primeiro lugar, os seus interesses.
Os Pobres são carne para canhão. Deles, dos Pobres, apenas interessa captar votos.
Os Pobres são gente indefesa. Não fazem greves. Não reivindicam nada. Muito menos provocam revoluções. Não metem medo a ninguém. Então? Deixai-os. Que se arranjem.
Houve quem chamasse ao Padre Américo o profeta do Vaticano Segundo e foi em certa medida, mas a luz daquele Concílio projectou-se na Igreja mais na Liturgia do que na CARIDADE.
Que valor terá uma liturgia animada, se na sua retaguarda não reflectir uma manifesta caridade ardente?... Se os Pobres são esquecidos, se os cristãos adormecem à volta do pároco ou se esses, sonhando, se lembram dos leigos apenas para a liturgia, a catequese e umas passeatas peregrinas!...
Como é actual a proposta do Padre Américo nunca desactualizada por ser evangélica!: Cada freguesia cuide dos seus pobres!
Onde estão as conferências vicentinas? Sim, onde estão? Quem, na hierarquia eclesiástica, se esforça por criar, no seu meio apostólico, conferências vicentinas com o espírito de Ozanam? Que fazem? Como inquietam os párocos e a assembleia eucarística com o sofrimento dos Pobres e os levam ao lugar onde estes vivem?
Os párocos e os padres inquietos afligiriam os Bispos e estes, incomodados, gritariam mais alto, denunciando toda a mentira política e não se comprometeriam com ela, em nada.
Espero, pelo menos, que o meu grito contínuo seja ouvido pelos Apóstolos de Jesus Cristo.
Padre Acílio