PATRIMÓNIO DOS POBRES
Neste Santo Tempo Quaresmal, irei apresentar-lhe duas faces da esmola: a primeira parte trata de duas mães abandonadas pelos (pais?) progenitores dos seus filhos, a segunda, é a reacção cristã de um homem de idade perante as necessidades inadiáveis, de uma estudante pobre.
A primeira foi aquela mãe de 4 filhos, sendo o mais velho de 14 anos e o mais novo de 5 a sofrer de autismo. Apareceu-me esverdeada, os olhos encovados e negros, com o cabelo envolvido numa única trança, magra, mal vestida e arrepiada de aflição e frio.
O pai dos filhos abandonara, e o senhorio ameaçou-a de a pôr na rua, por falta do pagamento de dois meses da renda da casa. Levou-me 700,00€.
Voltou, passados dias a informar-me que o senhorio havia vendido a casa e lhe oferecera uma outra com quintal, na Lagoinha, uma aldeia no conselho de Palmela, onde ela também arranjou trabalho e exigiu a caução de 400,00€ e mais a renda da mesma quantia.
O senhorio é advogado. Sabia muito bem que não era legal, vender a casa, sem informar a inquilina, sabia, mas ignorou, explorando a pobre desvalida.
É a opressão de que os pobres são vítimas!… Na minha catequese este é um pecado que brada ao Céu.
A segunda mãe a quem dei 1000,00€ para pagar dois meses de renda é igualmente uma mulher com 4 filhos, tendo o mais novo 2 meses e logo a seguir uma menina com quase 3 anos de idade. O progenitor fugiu com outra mulher e deixou a desgraçada sozinha.
Estes indivíduos, como sabemos, não cometem crime. Abandonar os filhos por si gerados não é crime perante a lei, é um ato que ninguém castiga, nem sequer agora, a opinião pública. Enquanto a mãe fica com uma carga avassaladora, o progenitor é livre, para se juntar com outra mulher, sem filhos e sem encargos.
É assim que somos iguais perante a lei ?!…
A outra face é bem mais doce. Recebi um email que muito me confortou.
Como os leitores se lembram, disse aqui que apoio duas meninas pobres, no ensino universitário. Agora e durante algum tempo, são três, porque, entretanto, o pai da terceira, morreu e perante os procedimentos da administração pública são demorados e a mãe quis tirá-la da universidade, por não poder pagar o funeral do marido e muito menos, aguentar as despesas da filha no ensino superior.
Um assinante de Aveiro, mandou-me 1000,00€ e para cada uma das outras, apareceu uma madrinha de Lisboa e um padrinho com quem troquei email's , mas não sei quem é, e de onde é. O último email é a resposta ao meu, onde lhe indicava a melhor forma de agir, com o pagamento das despesas da aluna adoptada; «Fica combinado no princípio de cada ano farei o depósito de 2000,00€, mas eu gostaria de lhe pedir para nunca deixar de me indicar, o que precisa, quando surgir alguma necessidade que tenha de ser coberta, sem poder aguardar a finalização dos procedimentos da administração pública. A razão é simples. Eu nasci de pais muito pobres (minha mãe foi criada em asilo que a preparou para ser criada/mulher a dias de gente rica) que literalmente imolaram as suas vidas, para conseguir que os seus filhos estudassem, se formassem, se doutorassem e fossem professores universitários.
Ao morrer, as últimas palavras que ouvi da boca da minha mãe foram muito claras: teu dinheiro não vale nada, aquilo que as pessoas necessitam é que lhes dês todo o Amor que puderes.
Eu apenas procuro merecer os pais que tive e espero que Deus me ajude a consegui-lo.
O padre Acílio é um dos "instrumentos" que Ele colocou à minha disposição.
Como temos praticamente a mesma idade, acho que formamos uma "dupla perfeita".
Aceite a amizade do João.»
Como o mundo seria melhor se toda a gente, não só os ricos, mas também todos aqueles que vieram de pais pobres, e entraram na chamada classe média, bebessem esta mensagem, não só da mãe como do filho. Verdadeiramente, ninguém leva o dinheiro para o cemitério, nem este, nem mais nada deste mundo. Ali acabam todas as ilusões do mundo: os carros, as empresas, as propriedades, tudo!… Apenas permanece o Amor que dedicámos aos outros homens, particularmente aos pobres e necessitados, como indica Jesus na história do rico avarento e do pobre Lázaro.
O João apenas procura merecer os pais que teve e naturalmente, encontrar-se com eles, Naquele que é Amor.
O Património é o único meio, que eu conheço, para ajudar os necessitados, enquanto se aguarda os procedimentos da administração pública. Se o Património tiver dinheiro, não é para guardar, mas para distribuir às pessoas que têm a corda na garganta.
Padre Acílio