
PATRIMÓNIO DOS POBRES
Neste tempo de Epifania lembramos a manifestação de Deus aos Homens de todo o mundo e não apenas a uma raça, nação ou classe. Todos são alvo da sua Luz, isto é, da sua mensagem e do seu Amor.
Como levar esta Luz aos pobres? É Pai Américo, um homem de experiência e de doação que no-la recomenda: levar o pão e o pão, e sempre pão.
Cristo virá e segundo a primeira linguagem do Evangelho, entra-lhes pela boca, pela casa, pelos remédios, etc.
Aquela mãe de seis filhos, vítima dos maus tratos do pai deles, a quem tenho mandado várias vezes, com o cartão da Casa do Gaiato, a um hipermercado fornecedor, telefona-me a dizer que não tem mais ninguém a quem recorrer, que tinha regressado do hospital, onde esteve internada em psiquiatria, vários dias e se encontrava agora, rodeada dos filhos, a chorarem de fome, sem nada para lhes dar.
Mais aquela que me assalta à saída da capela onde celebro a Santa Missa e se atira ao chão de joelhos, rogando que lhe acuda. O forro da casa caiu ao chão, com a água que o telhado não vedou e a senhoria recusou-se a concertar. A chorar e de mãos postas, como quem reza, implorava-me por Deus que lhe valesse. Agora dormia num carro velho com os dois filhos e pretendia alugar outra casinha, por 300€, só com um mês de caução.
Eu tenho duas meninas pobres, na universidade. Uma está apoiada por uma senhora cristã, que se ofereceu para lhe pagar os estudos. A outra, ainda não... penso ir à Segurança Social pedir ajuda, mas enquanto as coisas se resolvem, já lhe paguei dois trimestres com quarto e comida, 900€ . A mãe desta, queria ir busca-la a Évora, tirá-la de estudar, por não ter capacidade económica. Para esta mulher, o meu compromisso com a filha não vale nada. Eu já lhe havia comprado um computador, pois ela, só estudava e fazia os testes, pelo de uma amiga, o qual tinha avariado.
Como responder, evangelicamente àquela mocinha que tanto deseja estudar? Senão dar-lhe o indispensável, para ela continuar os seus ideais!...
E como ajudar, aquela pobre mãe, setubalense que tendo fugido do país onde vivia com o pai das três filhas, apenas com a roupa que tinham vestido, enquanto o malvado tomava banho, com dinheiro, chegou de Vigo ao Porto. Na estação, se acolheram as quatro, encostadas umas às outras, até que alguém do Porto se apercebeu. Deixou mover o coração com pena, e se ofereceu para as trazer ao destino, a Setúbal. A mãe, teria uma senhora conhecida, que alugaria um T1 por 350€ mês, apenas um, com caução.
No Porto há sempre gente boa, capaz de se sacrificar pelo próximo, a viagem foi uma grande aventura, sinal que o sofrimento, na casa própria era forte. Ao chegarem à cidade sadina, alguém lhes indicou a casa onde vivíamos, e a D. Conceição lhes matou a fome, as confortou, ouviu os seus dramáticos queixumes.
Quando cheguei a D. Conceição contou-me a história daquelas vítimas. Como organizar a vida em Portugal se todas eram espanholas, inclusive a mãe que se havia naturalizado? A casa, as rendas, a escola das pequenas, toda uma vida que era preciso, reorganizar de novo. Dei 800€ para o mais urgente.
E aquela doente, ameaçada de ir para a rua, de um quarto que alugara, se não lhe desse ajuda? E outra mãe de família, com duas crianças, abandonada pelo progenitor, com graves problemas na tiróide e o médico a dizer-lhe que ela deveria ter sido operada ontem, quando os serviços sociais, lhe davam um ano ou dois de espera. A operação custou-lhe mais de 3.000€, e o Património colaborou com 1.700€.
Eis um pouco da minha vida com os pobres, nesta quinzena. Conta-se que São José quando se viu obrigado a fugir com o Menino e sua mãe para o Egipto, se valeu da oferta dos Magos, sobretudo o ouro. Que seria, que seria aquela viagem, e aquela vida, sem a ajuda Divina que os Magos lhe trouxeram?
A história repete-se e os cristãos devem abrir os olhos aos acontecimentos actuais. Evangelizar os pobres, como Jesus, é repetir a história d'Ele.
Padre Acílio