PATRIMÓNIO DOS POBRES

O tempo de Natal é a época em que lembramos o aniversário do nascimento do Senhor do Universo, que nasceu pobre, numa gruta, sem casa nem berço, mas numa manjedoura, esquecido dos grandes do seu tempo e manifestado apenas aos pequeninos: os pastores e os humildes.

Nunca na minha vida, tinha visto tanta televisão como agora e auscultado a propaganda às comezainas e às festas profanas do Natal!... Nunca! Também só agora, enquanto como à mesa e abro os olhos para o ecrã, aparecem os banquetes e se realçam as vaidades febris natalícias.

Se à beleza da vida de Jesus se fizesse a mesma publicidade, a Ele na sua autenticidade e não na fantasia, como entrava muito mais no coração dos homens!

No meio de tantas aflições que os pobres vivem e a quem acudimos, pagando rendas para não irem para a rua, neste tempo invernoso, remédios para doenças e outras ajudas urgentes a que o Estado não responde, queremos dar aos amigos do Património, várias alegrias eternas que ninguém pode apagar. São três as que mais nos custaram e que vos anuncio.

Gente que tem a necessidade de mostrar a sua pobreza extrema, sua e dos seus filhos. Trata-se de mulheres abandonadas pelos progenitores dos próprios filhos, e com capacidade humana e resiliente para fugir à extrema pobreza.

Se agora lhes damos a mão é para evitar que elas e os frutos dos seus ventres, caiam na fossa do empobrecimento. Demos-lhes a ajuda que os bancos exigem, para comprar uma casa, a uma 7.000€ que com as suas economias, chegou à tabela bancária e comprou, com recurso a crédito à habitação, uma casinha para se abrigarem, descansarem e conviverem.

É muito difícil descobrir uma casa para arrendar e nunca por menos de 700€, 800€ ou até mesmo 900€ e... não as há.

Passaram-se mais de 20 anos e o meu grito tornou-se mais actual, agora que chegámos ao extremo. Não há casas para arrendar nem para vender. O Estado e as câmaras têm fechado os ouvidos aos meus apelos, como se não fossem sérios e dirigidos aos bem comum.

Uma das beneficiárias trabalha há 17 anos num Pronto a Comer e ganha por volta de 700€ por mês. Pagava uma renda de 650€ que eu suportei alguns meses. Agora ficou a pagar 400€. É uma mulher trabalhadora, responsável, vive para os dois filhos e neles desafoga a sua necessidade afectiva. Na empresa é responsável e estimada pelos demais. Com esta ajuda poderá levantar a cabeça e dos seus dois pequeninos. O pai abandonou-os, foi-se com outra mulher!

Paguei-lhe vários meses a 650€ quando esteve doente. Agora o Património liberta-se desta carga e ficou mais livre para outras!... Dei-lhe para a irmã 6 750€ e daqui a 12 anos a casa será sua.

Penso que é assim que se combate a pobreza, evitar quanto possível que esta chaga aumente e que desta forma, com a colaboração das mães, os filhos cheguem a ter um nível digno.

Outra, é uma mãe trabalhadora, embora com alguma deficiência mental, acompanhada por um homem que também trabalha. Conheço-a há muitos anos, por ser mãe de um rapaz criado na Casa do Gaiato.

Como a mãe não tinha casa com espaço físico para todos, dei-lhes esta ajuda e ela ficou com mais uma assoalhada para o rapaz dormir fora do quarto das meias irmãs, criando assim uma envolvência familiar mais adaptada, com autoridade para exigir dele colaboração, trabalho e submissão, quer a ela quer ao padrasto.

As teorias valem pouco, muito menos a altivez. A humildade e a firmeza ligadas ao amor e ao testemunho do próximo, valem muito mais que certa ciência não experimentada.

E a terceira ajuda, foi a mais uma mulher abandonada, pelo progenitor dos seus filhos, a quem paguei vários meses a 800€ de renda. Dei-lhe apoio e ela voltou para a sua casa, que era dela e duma irmã, com muito melhor nível.

Fora posta na rua com os dois filhos pequenos, por uma entidade, dona da casa, pois o senhorio era falso. Tinha-se apoderado desta e doutra casa, mudando as fechaduras de forma que assim se apresentava como sendo o proprietário das mesmas e
senhorio.

Quero que os meus leitores rejubilem com estas Alegrias Natalícias que o Redentor nos traz.

Padre Acílio