PATRIMÓNIO DOS POBRES

As aflições dos pobres à nossa volta são propriedade do Património.

Aquela desgraçada que alugou uma casa que não lhe pertencia, nem a ela, nem à sua senhoria, nem ao dono da sua morada, mas a outra entidade, como referi no último jornal, ou ainda pior, não só não pode arranjar uma casa para morar, ficou sem o marido e por fim a Segurança Social tirou-lhe os filhos. Toda a desgraça caiu sobre a própria mulher!...

O Estado foi responsável por ela ficar sem casa, pois tendo-a perdido, por uma causa aparentemente justa, ela tornou-se imerecida pelo facto de ter sido abandonada pelo pai dos filhos sem qualquer defesa.

O marido deixou-a, sem consideração nenhuma pela mulher ou pela esposa como não é possível alijar qualquer animal. É crime abandonar um animal, mas não é crime abandonar a mãe dos seus próprios filhos: três crianças ainda menores e pequenas.

A mãe que é uma pessoa aparentemente com alguma dignidade e brio, castigada por ter ficado sem casa, sem capacidade para alugar, por ter um ordenado inferior à renda da casa, quando o Estado era obrigado constitucionalmente a favorecer-lhe uma morada.

Se não há rendimentos suficientes para alugar uma casa, é ao Estado que compete facilitar essa tarefa. Justificar-se-ia que lhe retirassem os filhos se a mãe não fosse uma mulher decente e capaz, o que não é verdade.

Eu quero saber o que farão a tantas mães com os filhos abandonados por maridos ricos?!

As mães endinheiradas não deixam os filhos caírem na Segurança Social. Se fosse necessário, arranjariam logo um bom advogado que as iria defender a elas e aos filhos. Mas se for uma pobre mãe como esta, não tem outro remédio senão sujeitar-se à injustiça da pobreza. Não há força que lhe devolva os filhos, apenas a condição de arranjar uma casa para morar, mobílias para a fornecer, electrodomésticos mínimos, algumas mesas e cadeiras e casa de banho.

Vejo protestos em vários lados e com motivos para isso, em muitas zonas do país, mas há mais de 20 anos que o Património grita por casas suficientes, quando há tantas famílias aglomeradas a viverem em cubículos, barracas e agora, até estas, sem quartos e com rendas altíssimas.

Há muito que os programas do governo deviam de olhar para esta necessidade natural: uma casa para cada família portuguesa. Mas isso não tem preocupado, nem se virão a inquietar os responsáveis, além dos pobres.

Ainda dando voltas por uma morada semelhante à que há 12 anos comprei para uma família pobre, esta agora mais estragada, com as mesmas dimensões foi vendida pelo triplo e os responsáveis por esta inflação não se mostram inquietos com tal derrapagem.

Desejei muito comprar a referida casa, situada num Bairro Social, cujo preço era tão alto que nem me atrevi, sequer, a oferecer algum valor para adquirir a mesma como habitação, para a infeliz pobre que referi no princípio.

Esta é uma das razões pelas quais temos motivos para acreditar que a pobreza em Portugal, pelo menos na maioria dos casos, gera pobreza, e não se sai facilmente da pobreza para uma vida remediada.

Perguntem aos parceiros da Europa se nos seus países, os problemas familiares também se resolvem desta forma, não é exactamente ao contrário?!...

As mães ou os pais abandonados têm direito a um valor correspondente às suas despesas e necessidades. Desta forma, as crianças ficam com a mãe, a mãe com os filhos e os irmãos juntos. É a única forma: não direi de acabar, mas pelo menos diminuir muito, o número dos internados, o qual depende das mães e dos pais descobertos.

Parece que todas as paredes são muros e as portas trancas que existem apenas para estorvar os meninos e as meninas porque a vida não é como elas a ansiavam, exactamente no princípio quando começaram.

Padre Acílio