PATRIMÓNIO DOS POBRES

Património tem como finalidade primária ajudar os Pobres a terem um tecto. É contra a barraca, a tenda, o carro de dormir, o aglomerado de famílias numa única habitação embora socorra também doentes, pagando receitas, liquidando contas de água, de luz e outras dívidas bem circunstanciadas. Raramente o gás.

As necessidades dos Pobres devoram-me, eu não tenho outro remédio senão deixar-me consumir.

A verdade da nossa vida está em sermos pobres, para os pobres, os mais necessitados que vamos conhecendo. É uma pobreza viva e vivida. Não somente em sentido espiritual, mas também material por comungarmos com outros pobres concretos.

Hoje trago o caso de uma pobre escondida e envergonhada, que não vindo primeiramente expor-se, tive seu conhecimento através de pessoas vizinhas e amigas que a têm ajudado, e não conseguindo sozinhas pôr cobro à sua pobreza, me vieram solicitar ajuda, explicando-me a angústia em que vivia aquela infeliz.

Trabalhara no escritório de uma grande empresa que faliu em Portugal e se transferiu para Espanha. Empresa falida equivale a trabalhadores na rua sem possibilidades de reivindicarem nada.

O subsídio de desemprego não dura até ao fim da vida. É temporário. Com 59 anos uma mulher tem poucas possibilidades de arranjar trabalho, sobretudo após ter sido escriturária toda a sua vida. Divorciada, tem uma filha já casada que ela conseguiu proteger até ao mestrado, mas numa loja grande de materiais de construção, onde trabalha, não ganha mais que o ordenado mínimo. Foi o que arranjou para sobreviver.

A mãe possui um pequeno terreno no Pinhal-Novo que ainda não conseguiu vender. Esta, ao ver-se sem nada, recorreu à Segurança Social que não a auxiliou por ela possuir o dito terreno. 

Há meses que não paga a renda e o senhorio não espera, ronda-lhe a porta e ameaça-a: - Ou paga ou vai para a rua.

Ela é uma pessoa não só com dignidade mas também com nível humano e social.

Que fazer então? Ir para baixo da ponte? Entregar-se à prostituição para ganhar dinheiro à custa do seu corpo e dignidade? Pôr-se a pedir, sujeitando-se à ignomínia social?

Foi rogar ao Estado que tinha obrigação de a socorrer e a porta fechou-se. A lei não permite ajuda por ela ter um terreno para vender. Dura lex sed lex, isto é: a lei é lei embora dura.

Não devem as leis estar ao serviço dos homens? Ou é ao contrário?

Não sei quantos casos semelhantes já me apareceram!

Será assim tão impossível encontrar alguém, nos centros da Segurança Social, séria e capaz de administrar, por exemplo 20 mil euros ao ano, para casos bem especificados fora do legal? Será? Se agora é eu recordo tempos em que assim não fora; tendo conhecido, em Setúbal, uma Senhora que tinha capacidade de avaliar os casos e resolvê-los com dinheiro do Estado.

A revolução não se fez para andarmos para trás, nem para encher o bolso dos políticos desonestos, mas para que o povo seja amparado, sobretudo nos momentos difíceis.

Esta questão é com o Senhor Ministro da Segurança Social, homem que parece bom e honesto: - Senhor Ministro é necessário nomear alguém sério e capaz, em cada Centro de Segurança Social, que resolva bem casos como este e não se conte somente com a caridade dos cristãos ou de homens de boa vontade pois o Estado tem deveres que a lei não prevê!

Não é difícil controlar estes valores, basta a identificação das pessoas, dos seus bens, da sua dignidade e um recibo validado.

Vê-se a olho nu que entrou na mentalidade política e social a ideia que o Estado é capaz de resolver todos os problemas da sociedade com leis, e isto é uma pura ilusão. As leis são necessárias, mas não bastam para conduzir justamente a sociedade e acudir a pessoas em aflição que se encontram fora da lei.

Este caso é sintomático, como outros já aqui postos em evidência.

O Património deu a esta digna senhora 700 euros para dois meses de renda, mas ela não está habituada a viver de esmolas, mas pelo seu engenho e trabalho.

De lágrimas nos olhos, fitando-me a tremer disse:

– Logo que vender o terreno venho devolver-lhe o dinheiro.

Ao que respondi: - Não minha senhora, não lhe estou a emprestar o dinheiro. Estou a dar-lho. Não me fica a dever nada. Quando puder, se for possível ajudar o Património dos Pobres, é com sua consciência. Nós agimos por amor de Deus e mais nada.

Padre Acílio