PATRIMÓNIO DOS POBRES
Dói-me muito na alma que o meu grito a favor dos sem casa e das desgraças provenientes desta chaga social seja tão pouco secundado pelos meios de comunicação dirigidos pela Igreja Católica.
O GAIATO é cada vez menos lido, embora chegue às mãos de quase todos os responsáveis mais directos desta nossa Santa Igreja.
Quem se mete na sua vidinha, nela se instala, preocupa-se apenas com as necessidades próprias e de quem os rodeia, nem sequer de longe se apercebe do sofrimento de irmãos nossos que não têm onde dormir, embora não pertençam à moderna classe dos sem-abrigo que povoam vergonhosamente as maiores cidades deste País.
As aflições dos sem-casa chegam-me diariamente e, às vezes, duas ou três por dia. As rendas de casa são cada vez mais altas e qualquer cubículo custa um dinheirão.
Esteve agora comigo — dei-lhes almoço — um casal com dois filhos pequenos e a mãe dele a pedir-me ajuda para entrar numa casa. Foram despejados - é o termo... - como se deita fora o lixo, há oito dias, por falta de renda. Têm dormido no carro, os três adultos e as duas crianças. Estavam muito constipados. Arranjaram uma casa em Palmela a pagar 250 euros e a senhoria não lhes exigiu caução. Neste mundo encontra-se gente boa.
Da morada antiga, donde foram evacuados, a renda mensal era de 400 euros.
Surgiu uma depressão ao chefe da família e o senhor para quem trabalhava - uma empresa agrícola - não descontava para a Segurança Social. O resultado é evidente. Sem ordenado, sem baixa e doente é impossível manter a renda em dia.
Nesta situação quem lhes poderá valer?! Ainda foram ao Pároco, mas este remeteu-os para a Assistente Social, dizendo-lhes que não os podia socorrer. É uma forma de tirar a água do capote, ou melhor de passar adiante como o sacerdote da parábola que Jesus contou acerca do samaritano.
Organizar um processo pela Assistente Social resulta em meses de demora. Os dias, as semanas e os meses não fazem intervalos. Não esperam que as normas se cumpram!
Então? Se o Sacerdote fosse um homem pobre, de forma a sentir as agruras dos seus paroquianos, faria nas missas que celebra ao Domingo um apelo vivo para acudir àquela família e, de certeza que a Assistente Social poderia organizar o dito processo, entretanto os pobres não iriam para a rua.
Aquela localidade de onde foram obrigados a sair é um lugar de veraneio e aos fins-de-semana aparecem na Igreja sempre algumas pessoas de posses.
Seria uma forma de desinstalar os cristãos, levá-los a fazer partilha, a doerem-se das situações, a serem económicos nos seus gastos e, por último, a comungar o sofrimento dos pobres o qual é a dor perene de Jesus imolado no Santo Sacrifício por todos nós no altar da Santa Missa!
Oh! Evangelho, como estás longe de tantas celebrações eucarísticas!...
Oh! Religião sem Evangelho, que não convences ninguém nem atrais os que andam perdidos!...
A Missa é, como ouvi dizer há tempos, mais uma reunião de gente bem-educada do que um encontro onde Deus se torna presente e enche os corações.
Padre Acílio