PÃO DE VIDA

A excelência do Cristianismo

Como cristãos, vivemos especialmente o mês de Dezembro e, aproximando-nos com alegria do Natal do Senhor Jesus, neste Ano Jubilar 2025, sabemos bem que a Sua vinda ao coração de cada ser humano que o queira receber é sempre urgente e consequente. Com imensos focos de violência no mundo, e contra a maré publicitária e de ideologias perversas — de rejeição da paz, da vida e da família — não podemos esquecer e deturpar o centro desta solenidade da Igreja: a encarnação do Filho de Deus — o nascimento do Menino Jesus, no seio da família de Nazaré, para a Salvação da humanidade. Sendo acolhido interiormente, no sacrário da consciência humana, o Filho de Deus é o verdadeiro presente para a nossa vida!

Na Exortação Apostólica Dilexi Te, do Santo Padre Leão XIV, sobre o Amor com os Pobres, de 4 de Outubro de 2025, memória litúrgica de S. Francisco de Assis, o Papa recordou num parágrafo importante o verdadeiro Messias esperado: […] Desde a sua entrada no mundo, Jesus experimentou as dificuldades relacionadas com a rejeição. O Evangelista Lucas, narrando a chegada a Belém de José e Maria, já próxima do momento do parto, observa com pena 'não haver lugar para eles na hospedaria '[Lc 2, 7]. Jesus nasceu em condições humildes: logo após o nascimento, foi recostado numa manjedoura, e, pouco tempo depois, os seus pais fugiram para o Egipto para O salvar da morte [cf. Mt 2, 13.15]. No início da sua vida pública, foi expulso de Nazaré depois de ter anunciado na sinagoga que se cumpria n'Ele o ano da graça no qual os pobres se rejubilam [cf. Lc 4, 14-30]. Não houve um lugar acolhedor nem sequer no momento de sua morte: a fim de ser crucificado, levaram-n'O para fora de Jerusalém [cf. Mc 15, 22]. É nesta condição que se pode resumir claramente a pobreza de Jesus. Trata-se da mesma exclusão que caracteriza a definição dos pobres: eles são os excluídos da sociedade. Jesus é a revelação deste privilegium pauperum. Ele apresenta-se ao mundo não só como Messias pobre, mas também como Messias dos pobres e para os pobres.» [n. 19].

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Este parágrafo bem claro, de fundo evangélico, reafirma categoricamente que o Messias prometido e esperado é Jesus, o Pobre de Nazaré, enviado a anunciar a Boa Nova aos pobres. Na verdade, é situado o Cristianismo no seu verdadeiro lugar teológico: como religião do encontro com Deus e com os irmãos e irmãs, especialmente pobres, frágeis, todos salvos por Cristo Jesus na cruz redentora.

Deste sentido profundo do Cristianismo decorre a apresentação de mais umas linhas do pequeno exercício A excelência do Cristianismo sobre o Islamismo, que Américo Monteiro de Aguiar redigiu em Março de 1927. A anteceder a conclusão, com fundamentação paulina, escreveu o seguinte:

« [p. 6] […] Sublime doutrina

A doutrina de Jesus sintetiza todas as leis do espírito e as aspirações mais delicadas da alma. Desprezar a vida para a possuir em toda a sua amplitude. Esmagar a matéria, para dar liberdade absoluta ao espírito. Destruir o egoísmo no coração, para abrigar a caridade. Consumir-se, sacrificar-se, aniquilar-se, dando-se a si mesmo no amor dos homens, porque só desta maneira o nosso amor é grande aos olhos do Senhor. O cristianismo é amor. Ser cristão é viver amando. Ideal sublime!

A matéria é um óbice à letra do Evangelho. Quem não tiver forças nem coragem de a aniquilar, não compreenderá jamais a grandeza do mistério do amor. É só à alma que Jesus prega.

E quando o cristianismo ainda infante, gemendo nas pesadas argolas de todo o Império, mordido pelas feras nas arenas, de rastos no conceito dos homens de então, perseguido na noite das catacumbas, lança as bases da sua imortalidade espiritual, absorvendo a maior civilização de todos os tempos — acode a voz máscula de Paulo de Tarso, o maior homem que todos os séculos têm gerado e solta o grande triunfo:

(Carta aos Coríntios) Irmãos, também eu me encontro preso, mas não o está a palavra de Deus. [cf. 2Tm 2, 9] Não demos a ninguém ocasião alguma de escândalo, que não seja vituperado o nosso ministério, antes mostremo-nos em todas as coisas como ministros de Deus, na muita paciência nas tribulações, nas necessidades, nas angústias, nos açoites, nos cárceres, nas sedições, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns, na castidade, na ciência, na mansidão, no Espírito Santo, na caridade não fingida, na palavra da verdade, na virtude de Deus, pelas armas da Justiça para combater à esquerda, na prosperidade e na adversidade, por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama, como sedutores e não obstante verdadeiros, como desconhecidos e todavia conhecidos, como morrendo e eis que vivemos, como castigados, mas não amortecidos, como tristes, mas sempre alegres, como pobres, mas enriquecendo a muitos, como que não tendo nada e possuindo tudo. [cf. 2Cor 6, 3-10].

É neste espírito que o homem é capaz de pôr em movimento os recursos misteriosos das potências da alma e viver plenamente o cristianismo. […]».

Américo de Aguiar citou assim de relance S. Paulo, que indicou aos colaboradores de Deus as dificuldades encontradas no ministério apostólico, com armas ofensivas e defensivas, numa vida de paradoxos. É uma certeza da nossa fé que Jesus, o Messias pobre, foi rejeitado e excluído. É o nosso Deus vivo e verdadeiro — Deus ferido

Padre Manuel Mendes