
PÃO DE VIDA
A excelência do Cristianismo
O Papa Leão XIV efectuou, entre 27 de Novembro e 2 de Dezembro, uma viagem à Turquia e ao Líbano. A primeira viagem internacional do seu pontificado e a quinta de um Papa à Turquia, na época contemporânea, às fontes da fé, entre as raízes do Cristianismo, decorreu sob o lema 'Um só Senhor, uma só fé, um só baptismo'. Não foi à Basílica de Santa Sofia, transformada em mesquita; mas visitou Iznik, a antiga cidade de Niceia, a 140 de Istambul, para assinalar o 1700.º aniversário do I Concílio Ecuménico de Niceia, que reuniu 300 Bispos do Império Romano, sendo um marco histórico muito importante na História da Igreja. O Concílio de Niceia foi um momento histórico crucial, convocado pelo Imperador Constantino I [272-337] e que decorreu em 325 d. C., no qual surgiu o Credo de Niceia, aceite actualmente por milhões de cristãos, em que foi definida a profissão de fé cristã: o Credo. Foi proclamado que existe um único Deus, eternamente existente em três pessoas divinas — o Pai, o Filho e o Espírito Santo, sendo que a heresia ariana negava a divindade de Jesus. A 28 de Novembro, sobre as ruínas da antiga Basílica de S. Neófito, houve um Encontro ecuménico de oração, com o Papa Leão XIV, o Patriarca Bartolomeu I, do Patriarcado grego de Constantinopla [da Igreja Ortodoxa], e outros representantes de Igrejas cristãs, em que rezaram pela unidade dos cristãos, considerando o Cisma de 1054. A 29 de Novembro, foi assinada por ambos uma Declaração conjunta, no Palácio Patriarcal de S. Jorge, reafirmando o compromisso com a unidade dos cristãos e a cooperação ecuménica.
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O intróito supra, com muita actualidade eclesial, foi acenado também pela sua relação com o exercício em análise, dactilografado por Américo Monteiro de Aguiar, no Seminário de Coimbra, em Março de 1927. Depois da breve alusão ao Islamismo, segue-se a continuação da transcrição de mais um naco desse trabalho teológico, que se refere directamente ao Cristianismo:
«[…] Aonde está a excelência do Cristianismo?
[p. 6] – Existência como a de Jesus, isento de alterações, manchas e vicissitudes. Desde os primeiros dias até ao último da sua vida, Ele é sempre o mesmo: majestoso e simples; profundamente severo e profundamente doce; sempre luminoso e impassível. Diz-se que o sublime é um traço da Divindade; que nome devemos dar a quem tiver em si todos os traços do sublime?
Grandeza moral do Cristianismo
É só à alma que Jesus fala. Ele não considera as riquezas: Não queira amontoar riquezas na terra, aonde a acção do tempo e dos homens as pode destruir; amontoa antes no Céu, pois aonde estiver o teu tesoiro, ali está também o teu coração.
Ele não considera grandezas: Aquele dentre vós que quiser ser o maior de todos, faça-se o mais pequeno.
Muito menos os prazeres materiais: Se alguém Me quiser seguir, deve em primeiro lugar abnegar-se, tomando sobre si todos os dias a cruz.
Ensina a perfeição moral: Sede perfeitos como o vosso Pai que está no Céu e entrai pela porta estreita para o caminho da Vida.
Indica a luta individual para conseguir esta perfeição: Não cuideis que Eu vim trazer a paz, mas sim o gládio.
Prega o Amor: Amai os vossos inimigos; fazei bem aos que vos têm ódio e orai pelos que vos perseguem e vos caluniam, para serdes filhos do vosso Pai que está no Céu, O qual faz nascer o sol sobre justos e injustos. […]».
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Como se verifica, Américo de Aguiar fundamenta os seus argumentos apologéticos sobre o Cristianismo com várias citações bíblicas, nomeadamente dos Evangelhos, o que comprova a sua atenção à Escritura, especialmente o Novo Testamento. Assim, para apresentar o segredo da felicidade, começa por indicar qual a verdadeira riqueza – o tesouro no céu – citando três perícopes de S. Mateus – 6, 19-21. De facto, as pessoas que escolhem ser pobres em Cristo não amontoam bens que desorientam o coração humano, mas colocam o seu tesouro em lugar seguro – o Céu.
Depois, refere-se à virtude da humildade, citando S. Lucas – 9, 48. Na verdade, é de evitar o orgulho e a vaidade; mas, ser humilde, como a Virgem Maria, é essencial para uma vida conforme os ensinamentos de Jesus.
Ao apresentar as condições para seguir Jesus, cita um versículo de S. Lucas – 9, 23. Essas palavras são bem claras, como convite a dar a vida pelo próximo, como Jesus, que a entregou pela nossa salvação. A cruz é um sinal fidedigno do seguimento de Jesus.
Em seguida, cita o apelo de Jesus à santidade: S. Mateus – 5, 48. O convite de Jesus, para que cada ser humano seja santo, é um desafio a buscar a felicidade, que não é isenta de pecados – de imperfeição, como vem afirmado no Livro do Levítico – 11, 44, e na Primeira Carta de Pedro – 1, 15-16: Sede santos, porque Eu sou Santo.
Noutra passagem evangélica, de S. Mateus – 10,34, que é controversa, é sublinhado que Jesus é sinal de contradição, como disse o velho Simeão [Lc 2, 34], pois a vida humana é uma luta constante, numa tensão entre a fidelidade a Deus e o comodismo mundano.
Finalmente, noutro ensinamento de Jesus, em S. Mateus – 5, 44, há um convite a um amor que nos leve a ver em cada pessoa humana um nosso irmão, para acabar com um costume antigo da vingança. Jesus sublinha o papel fundamental do perdão, sendo que toda a pessoa humana é digna de ser amada.…
Padre Manuel Mendes