PÃO DE VIDA

A excelência do cristianismo

No post scriptum transcrito anteriormente, de uma carta de Américo Monteiro de Aguiar, datada de Junho de 1927, enviada ao seu irmão Jaime, que acompanhou uma cópia de um exercício teológico, de Junho de 1927,feito no Seminário de Coimbra,são indicadas algumas figuras desse tempo, cujas obras aconselhou a ler, nomeadamente: Francisco Gomes Teixeira, Orison Swett Marden e Manuel Gonçalves Cerejeira. Então, como complemento informativo, seguem-se breves verbetes biográficos desses autores citados.

De notar que Américo de Aguiar admirava muito o Doutor Gomes Teixeira, católico e figura proeminente da Ciência em Portugal, como grande matemático e insigne professor universitário. Eis este seu pensamento: «Olhando para a montanha, o homem sente a impressão de que lhe esmaga o corpo e lhe levanta o espírito. Ao subi-la, a gravidade puxa-lhe o corpo para baixo, mas o espírito dirige-lhe o olhar para o cume. Quando chega ao cume, o seu corpo pára, mas a sua vista estende-se pelo espaço e o seu espírito sobe e voa até Deus.» [vd. Santuários de Montanha, 1926, p. 17-18]. Francisco Gomes Teixeira nasceu em 28 de Janeiro de 1851, em S. Cosmado, no concelho de Armamar, filho de Manuel Gomes Teixeira e Maria Madalena Machado. Frequentou a instrução primária na sua terra e os estudos liceais no colégio do Padre Roseira, em Lamego. Depois, frequentou Matemática na Universidade de Coimbra [1869-1874], concluindo a licenciatura. A 18 de Julho de 1875, alcançou o grau de Doutor na Faculdade de Matemática. Exerceu funções de Lente substituto e Lente proprietário, e de Lente catedrático [1879], da Universidade de Coimbra. Em 1877, fundou o Jornal de Ciências Matemáticas e Astronómicas. Com 30 anos, casou com Ana Arminda Cardoso, do Porto, e tiveram três filhas. Transferiu-se para a Academia Politécnica do Porto [1883], onde continuou a sua investigação e o ensino superior. Ainda foi o primeiro Reitor da Universidade do Porto [1911-1917] e Reitor Honorário em 1918. É autor de uma importante obra de investigação em Análise Matemática e Geometria, sendo publicados vários livros sobre Matemática e artigos também em revistas estrangeiras. Ainda foi astrónomo no Observatório Astronómico de Lisboa, pertenceu a várias associações científicas, recebeu alguns prémios e foi doutorado Honoris causa em Madrid [1922] e Toulouse [1923]. Publicou também livros sobre viagens e temas religiosos [v.g., Apoteose de S. Francisco de Assis (Sua Vida e Obra), Lx.ª: Liv. Clássica Ed., 1928]. Morreu em 8 de Fevereiro de 1933, com 82 anos, no Porto; e foi sepultado na igreja matriz da sua terra natal. [vd. Henrique de Vilhena – O Professor Doutor Francisco Gomes Teixeira (Elogio, Notas de Biografia, Bibliografia, Documentos), Lx.a,,1936].

Outro autor citado por Américo de Aguiar é Orison Swett Marden, com uma biografia multifacetada. Nasceu em 11 de Junho de 1848, em Thornton Gore, New Hampshire – EUA, filho de Louis e Martha Marden. Ficou órfão em criança, de mãe [aos 3 anos] e de pai [aos 7 anos]. Sendo adolescente, no sótão de casa, encontrou o livro Auto-ajuda, do escocês Samuel Smiles [1812†1904], que o marcou. Orison S. Marden formou-se em Medicina e em Direito, entre outras formações. Depois, foi empresário hoteleiro. Fundou a revista Success, em 1897. Escreveu muitos livros motivacionais, sobre o sucesso pessoal e como alcançá-lo, que se tornaram best-sellers. Dos seus pensamentos, este: «Todos os que realizaram grandes feitos tiveram um grande objectivo, fixaram o olhar em uma meta que era alta, uma que às vezes parecia impossível.». Para além do referido livro A Alegria de viver, [Porto: Figueirinhas, 1923], entre outros, temos à mão – com dedicatórias do editor e tradutor António Figueirinhas [a Albino de Forjaz Sampaio]: A Influência do Optimismo e da Alegria na saúde física e moral, nova ed., Porto: Casa Ed. de A, Figueirinhas, 1924; e Sê perfeito em tudo o que fizeres, Porto: Figueirinhas, 1924. Orison S. Marden faleceu a 10 de Março de 1924, em Los Angeles – EUA.

Sobre o «outro livro que saiu a lume há dois anos, de um actual lente desta Universidade» de Coimbra, refere-se certamente à obra [com várias edições] A Igreja e o Pensamento Contemporâneo [Coimbra: Coimbra Ed., 1924], da autoria do Dr. M. Gonçalves Cerejeira, Professor da Faculdade de Letras de Coimbra. O precioso exemplar que temos à mão tem esta dedicatória manuscrita: Ao Snr. Cónego Tomás,/ homenagem de/ Janeiro de 1925./ M. Gonçalves Cerejeira. O Cónego Tomás Fernandes Pinto [18-III-1880, Vila da Feira †10-X-1940, Coimbra], entre outros serviços eclesiais no Porto e em Coimbra, foi Vice-Reitor do Seminário de Coimbra, de 1916 a 1936. O autor do citado livro é, pois, D. Manuel Gonçalves Cerejeira [29-XI-1888, Lousado, Vila Nova de Famalicão †1-VIII-1977, Lisboa], que foi o célebre Cardeal Patriarca de Lisboa, desde o final de 1929 [vd. Padre [Francisco] Moreira das Neves – O Cardeal Cerejeira, Patriarca de Lisboa, Lx.a: Ed. Pro-Domo, 1948].

Ainda é referido o Comandante João Belo [1876†1928], militar e político, que foi para Moçambique em 1895 e aí permaneceu durante 29 anos, em diversos serviços. Na ditadura militar, foi responsável pela pasta das Colónias, com um papel notório na redefinição das relações da Metrópole portuguesa com os territórios ultramarinos. O Manifesto à Nação referido poderá ser o Manifesto de 1926, divulgado após o golpe militar de 28 de Maio de 1926. Quanto à frase – a autoridade está no povo – nela ecoam ideias defendidas por vários pensadores, como Jean-Jacques Rousseau [28-VI-1712 †2-7-1778], filósofo iluminista, cuja obra principal é o Contrato social [1762]. Os considerandos políticos feitos, no post scriptum, terão de ser vistos num contexto de grande instabilidade política em Portugal, por insatisfação crescente com o regime republicano e de crise económico-social.

[continua]

Padre Manuel Mendes