PÃO DE VIDA

No dia 21 de Abril, a Igreja Católica e o mundo inteiro receberam uma triste notícia com grande impacto: o Papa Francisco partiu para a casa do Pai, com 88 anos [1936 †2025]. Como ministro da Igreja, dedicou a sua vida ao serviço do Senhor Jesus e da Igreja, especialmente no ministério petrino, com predilecção pelos Pobres. Também recomendamos o Santo Padre à misericórdia divina, junto do Senhor, para que viva eternamente com Deus!

Na Bula de proclamação do Grande Jubileu ordinário do ano 2025, intitulada Spes non confundit – A esperança não engana, de 9 de Maio de 2024, afirmou que a esperança é a mensagem central deste Jubileu, na linha de S. Paulo, que infundiu coragem à comunidade cristã de Roma. Assim, desejou ardentemente que «possa ser, para todos, um momento de encontro vivo e pessoal com o Senhor Jesus, 'porta' de salvação [cf. Jo 19, 7.9]; com Ele, que a Igreja tem por missão anunciar sempre, em toda a parte e a todos, como sendo a 'nossa esperança' [1 Tm 1, 1]. E continua: «Todos esperam. No coração de cada pessoa, encerra-se a esperança como desejo e expectativa do bem, apesar de não saber o que trará o amanhã. Porém, esta imprevisibilidade do futuro faz surgir sentimentos por vezes contrapostos: desde a confiança ao medo, da serenidade ao desânimo, da certeza à dúvida. Muitas vezes, encontramos pessoas desanimadas que olham, com cepticismo e pessimismo, para o futuro como se nada lhes pudesse proporcionar felicidade. Que o Jubileu seja, para todos, ocasião de reanimar a esperança» [n. 1].

De facto, «a esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» [Rm 5,5], sendo que «a esperança nasce do amor e funda-se no amor do Coração de Jesus trespassado na cruz» [n. 3]. Na verdade, «a esperança cristã não engana nem desilude. Porque está fundada na certeza de que nada e ninguém poderão jamais separar-nos do amor divino» [idem; cf. Rm 8, 35-39], sendo que «funda-se na fé e é alimentada pela caridade» [idem]. Neste caminho, é de pedir «a graça da paciência, que é filha da esperança e, ao mesmo tempo, seu suporte» [n. 4].

Por isso, «deste entrelaçamento de esperança e paciência, resulta claro que a vida cristã é um caminho que precisa também de momentos fortes para nutrir e robustecer a esperança, insubstituível companheira que permite vislumbra a meta: o encontro com o Senhor Jesus.»
[n. 5]. E mais: «Não é por acaso que a peregrinação representa um elemento fundamental de todo o evento jubilar. Pôr-se a caminho é típico de quem anda à procura do sentido da vida.

Numa Nota Pastoral, de 3.IX.2024, sob o título Peregrinos da Esperança, o Bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes, indicou que a Sé Nova é «a Igreja jubilar da Diocese de Coimbra e a peregrinação jubilar o centro do Ano Santo». Com efeito e neste sentido, a família eclesial da Casa do Gaiato de Miranda do Corvo – Coimbra, tem participado em algumas das peregrinações agendadas. Por outro lado, foi deixado caminho aberto para outras peregrinações jubilares. Nesta dinâmica eclesial, recebemos a feliz notícia de que a Unidade Pastoral da Mealhada tinha programado uma Peregrinação à Casa do Gaiato de Miranda do Corvo, no dia 29 de Março, tendo à frente o seu dinâmico Pároco, Padre Rodolfo Leite. Esta Unidade Pastoral é constituída pelas seguintes Paróquias bairradinas: Barcouço (Nossa Senhora do Ó), Casal Comba (S. Martinho), Luso (Nossa Senhora da Natividade), Mealhada (Santa Ana), Pampilhosa (Santa Marinha), Vacariça (S. Vicente), Ventosa do Bairro (Nossa Senhora da Assunção). É de recordar aqui a presença da nossa Comunidade na Mealhada, a 18 de Novembro de 2018, bem acolhidos e celebrando o Dia Mundial dos Pobres, nomeadamente com uma Eucaristia na igreja de Santa Ana e um espectáculo no Cineteatro Messias. Foi um grande dia de festa!

Considerando que algumas centenas de cristãos se inscreveram para peregrinar até à primeira Casa do Gaiato da Obra da Rua, com a sua amizade e as suas partilhas, foi bem aceite pelo Pároco de Miranda do Corvo, Padre Pedro Miranda, que a peregrinação tivesse o seu ponto alto com a Eucaristia celebrada na igreja matriz da Vila, tornada assim também como que jubilar. Assim aconteceu, envolvendo num belo arco humano e eclesial várias comunidades da Diocese de Coimbra, que subiram a íngreme ladeira do Calvário, tendo em volta painéis da Via Sacra do mestre Padre Nunes Pereira. O pastor da Mealhada referiu-se na homilia à chegada de Padre Américo a esta terra há 85 anos, para lançar a Obra da Rua.

Estando a Obra da Rua viva no serviço dos pobres, em Portugal e África, cerca de três centenas de peregrinos desceram melhor em direcção à Casa do Gaiato, onde foram recebidos com júbilo na porta antiga, centenária, no Largo de S. Brás, pela Comunidade com o Padre Manuel. Nesse sítio emblemático, entrou Pai Américo com os três primeiros garotos pobres das ruas de Coimbra, no dia 7 de Janeiro de 1940, sendo a festa do Santíssimo Nome de Jesus. Por referência à Porta Santa universal da Igreja Católica, na Basílica de S. Pedro, no Vaticano, e para situar a passagem da nossa porta santa familiar, o Padre Rodolfo afirmou: «Ancorados em Cristo, cruzamos o limiar dessa Porta santa e entramos no tempo da misericórdia e do perdão, para que cada um de nós esteja aberto ao caminho da esperança que não desilude. Deus perdoa sempre e tudo. Com a passagem desta Porta Santa, a porta de esperança, Deus diz a cada um: 'Há esperança também para ti!'. E há esperança para todas as situações de desolação. Há tantas desolações neste tempo e nas nossas vidas. […]». E continuou: «a esperança cristã exige de nós a audácia de antecipar hoje essa promessa, através da nossa responsabilidade e compaixão. E aqui, talvez, nos faça bem a pergunta sobre a nossa própria compaixão: Eu tenho compaixão? Sei sentir a dor dos outros? O Padre Américo é o exemplo da compaixão…! Passou esta Porta Santa com algumas crianças. Sofria com elas! É tempo de esperança, acolhendo o amor misericordioso de Deus e a compaixão com os mais pobres! Neste dia, é para ti que se abre esta Porta Santa do coração de Deus. Jesus é nossa esperança, como o foi para o Padre Américo. Com Jesus a alegria floresce, com Ele a vida muda, com Ele a esperança não desilude.». Seguiu-se a oração própria deste Ano Jubilar, rezada por todos, que conclui assim: «A graça do Jubileu reavive em nós, Peregrinos de Esperança, o desejo dos bens celestes e derrame sobre o mundo inteiro a alegria e a paz do nosso Redentor. A Ti, Deus bendito na eternidade, louvou e glória pelos séculos dos séculos. Ámen.».

O convívio foi-se alargando por toda a Casa e tendo chegado a hora certa do almoço, em mesas e até sobre a relva, da quinta, os peregrinos bairradinos estenderam as suas toalhas, para comerem e partilharem alegremente das saborosas refeições que trouxeram nas suas sacolas. Em jeito da multiplicação dos pães, de Jesus, vivo no mundo, ainda sobraram vários cestos. A casa-mãe, dos pequenitos e onde Pai Américo vive cuja beatificação é desejada ansiosamente foi lugar de visita especial. Muito fica por dizer, do que a nossa Comunidade e os Peregrinos amigos viveram neste dia magnífico! É de notar, ainda, que as Criaditas dos Pobres esperavam na Sé Velha os mesmos peregrinos, que se despediram de nós com os rostos muito felizes, pois foi um dia magnífico e memorável! Do coração, bem-hajam!

Padre Manuel Mendes