
PÃO DE VIDA
O Padre Américo e as Criaditas dos Pobres
«As Criaditas dão a vida pelos seus pobres. São da Igreja.»
Padre Américo
A cidade e a Diocese de Coimbra — com os seus encantadores fios de água serpenteando desde as belas aldeias serranas aos extensos arrozais à beira-mar, no Vale do Mondego — têm sido um chão propício para ir germinando e dando muitos e bons frutos uma plêiade de figuras eclesiais notáveis, cujos exemplos bem merecem ser conhecidos pelos mais novos. Nomeadamente nos séculos XIX-XX, as suas biografias têm sido abordadas com mestria, por diversos autores, v.g.: P.e António Brito Cardoso — Figuras da Igreja na Diocese de Coimbra; D. Manuel de Almeida Trindade — Padre Luís Lopes de Melo e a sua época (1885-1951) [Coimbra, 1958], e Maria Carolina Sousa Gomes e as Criaditas dos Pobres [Coimbra, 1987]; D. Gabriel de Sousa, O.S.B. [sobre Fr. Bernardo de Vasconcelos], etc. Do Venerável Padre Américo, na bibliografia passiva, que é muito extensa, há vários estudos biográficos complementares. De facto, Américo Monteiro de Aguiar, cujas iniciais têm especial significado [AMA], é um desses grandes cristãos que deixaram mais rica a História da Igreja em Portugal, porque serviu os Pobres por amor de Deus até à Cruz gloriosa!
Acontece que sobre o tema em epígrafe, é de enaltecer um membro virtuoso do presbitério diocesano de Coimbra, ligado às Criaditas dos Pobres e que se destacou na vida eclesial nesta Diocese na primeira metade do século XX — marcado terrivelmente por duas Grandes Guerras Mundiais. Íamos a dizer que se trata do Padre Luís Lopes de Melo. De notar, desde já, que o Padre Américo teve reconhecida veneração por este sacerdote católico conimbricense, que foi seu Professor do Curso Teológico no Seminário de Coimbra, conforme a acta de aprovação [no Arq.º Seminário de Coimbra] no 3.º ano Teológico, em 5 de Junho de 1929, na qual também constam Manuel Trindade Sagueiro e Elias Luís Aguiar. O Padre Luís Lopes de Melo nasceu a 18 de Fevereiro de 1885, em Moimenta da Serra — Gouveia, e foi ordenado Presbítero em 22 De Dezembro de 1907, pelo Bispo de Coimbra, D. Manuel Correia de Bastos Pina. Desde Janeiro de 1908, foi Coadjutor da Paróquia da Sé Velha — Coimbra, licenciou-se em Teologia na Universidade de Coimbra, em Junho de 1909, partiu em Março de 1917 para a Flandres como Capelão do Corpo Expedicionário Português, e regressou em Julho de 1919 à Paróquia da Sé Velha. Na sua passagem por França, foi testemunha da actividade meritória da Sociedade de S. Vicente de Paulo junto dos Pobres; e cerca de trinta anos foi Assistente das Conferências vicentinas em Coimbra [Manuel Paiva Boléo — O Padre Lopes de Melo e o espírito vicentino, Gouveia, 1952]. Faleceu em 24 de Outubro de 1951 e acompanhou o seu funeral uma multidão de pessoas até ao cemitério da Conchada, em Coimbra.
Está sobejamente comprovada a ligação forte entre o Padre Lopes de Melo e as Criaditas dos Pobres, cujas raízes se poderão encontrar no carisma espiritual vicentino — da visita domiciliária aos Pobres, com exemplos fundantes e marcantes no serviço eclesial aos Pobres: S. Vicente de Paulo e António Frederico Ozanam. Convém dizer que Maria Carolina de Sousa Gomes nasceu a 19 de Outubro de 1892, em Braga, sendo filha de Francisco José de Sousa Gomes [católico empenhado e professor da Universidade de Coimbra, falecido em 8 de Julho de 1911] e de Maria Brígida Bressane Leite Perry, de Fafe. Frequentou o Colégio da Rainha Santa Isabel; e foi à volta da Sé Velha de Coimbra que conheceu o Padre Lopes de Melo. Foi mostrando predilecção pelos Pobres, visitando-os, pelo que, a convite do Dr. Elísio de Moura, em 1 de Novembro de 1924, deixou a sua casa de família em Coimbra, levando consigo uma imagem do Sagrado Coração de Jesus, e foi assumir a direcção do Asilo da Infância Desvalida. No final de Maio de 1927, foi juntar-se Maria Clementina Pinto Basto Couceiro da Costa, de Aveiro. Em Abril de 1930, com Perpétua Maria, deixaram esse Asilo de crianças e foram viver para uma casa nas escadinhas do Quebra–costas [n.º 48], donde saíam para as visitas aos Pobres, em Coimbra. Depois, mudaram para a Rua do Norte; e, em Dezembro de 1931, passaram para a Rua da Ilha. Em 15 de Maio de 1932, o Bispo de Coimbra, D. Manuel Luís Coelho da Silva, aprovou as primeiras Constituições das Criaditas dos Pobres [Parvulae Ancillae Christi]. Em 1 de Março de 1936, assumiram o serviço da Cozinha Económica; e em 23 de Outubro de 1956 iniciaram a sua acção no Bairro D. António Barroso, em Miragaia — Porto, da iniciativa do Padre Américo. Maria Carolina, a Mãe, faleceu a 27 de Março de 1969, na Rua da Ilha, em Coimbra, e o seu enterro foi impressionante.
[continua]
Correcção: No artigo «Ruy Cinatti — Mas dizei uma só Palavra», da edição anterior d'O Gaiato, no 1.º parágrafo, onde se lê 1964, deve ler-se 1974.
Padre Manuel Mendes