PÃO DE VIDA
De Cernache do Bonjardim
No itinerário geográfico dos passos e andanças de Américo Monteiro de Aguiar por terras e mares, pode figurar sem timidez Cernache do Bonjardim. Quando era rapazito, foi colocada a possibilidade de ir para o Colégio das Missões, mas não chegou a concretizar-se. Mais tarde, sendo Padre, teve bons amigos nessa terra.
Justifica-se também muito esta viagem até essa ridente vila do município da Sertã, pela sua importância histórica inegável para a Igreja em Portugal, sendo o torrão da naturalidade [como hipótese mais verosímil] de S. Nuno de Santa Maria e nomeadamente pela grande importância do Seminário das Missões de Cernache do Bonjardim, onde se formaram muitos missionários para as terras de além-mar. Em 20 de Outubro de 2019, também aí fomos em romagem eclesial para a evocação da missionação portuguesa, com o monumento ao Venerável D. António Barroso e aos 320 Padres missionários saídos do Real Colégio das Missões, entre 1856 e 1912.
É, pois, de referência obrigatória o Santo Condestável, cujo berço teria sido naquela antiga freguesia da Beira Baixa. Recordamos bem uma peça de teatro levada à cena no Seminário Maior de Nossa Senhora da Conceição, do Porto: Herói e Santo, 1431-1931, de G. [Gomes] Penafiel; afinal do penafidelense António Ferreira Gomes, Padre e mais tarde Bispo do Porto [1952-1982]. Sendo o seu primeiro livro, invulgar [mas à mão], diz respeito a D. Nuno Álvares Pereira, que veio à luz em Junho de 1360, lutou heroicamente na Batalha de Aljubarrota [14-VIII-1385], foi donato carmelita e amigo dos pobres, partiu a 1 de Abril de 1431 [Domingo de Ressurreição] e foi canonizado a 26-IV-2009, pelo Papa Bento XVI.
Depois, no itinerário biográfico do Padre Américo, Cernache do Bonjardim tornou-se presente - na adolescência e ao serviço dos pobres. Assim sendo, é de sublinhar que as fontes disponíveis confirmam que Américo de Aguiar teve vontade e foi insistindo para entrar no Seminário pelos seus 13-14 anos, sendo sugerido o Colégio das Missões Ultramarinas de Cernache do Bonjardim. Neste propósito empenhou-se a sua mãe Teresa, que escreveu ao seu filho mais velho, Padre José, em Cochim, pedindo-lhe para interceder. Nesta fase, tem significado notar que até o seu pai Ramiro se ia deixando vencer, conforme afirmou: «se quer ser padre entre no Colégio de Cernache, o que eu entendo poder conseguir pelos meus amigos» [vd. O Gaiato, N.º 478, 7 Julho 1962, p. 3]. Porém, tal vontade de Américo de Aguiar não teve o encaminhamento desejado, pois seu pai retrocedeu; e, com 15 anos, foi trabalhar para uma loja de ferragens no Porto.
Vem ao caso notar que o Colégio das Missões Ultramarinas, depois da extinção das Ordens Religiosas, reviveu em 1856 e no sentido de formar missionários do clero secular para o Padroado português de África e do Oriente. Naquela época [1885-1905], era responsável o Padre Dr. António José Boavida [9-III-1838 †18-VIII-1910].
Apesar deste desvio vocacional, mais tarde Padre Américo acabou por ficar ligado efectivamente a Cernache do Bonjardim, como comprovámos pelo testemunho e pelas informações deixadas no interessante livro Casa que conta [Lisboa: ML, 2013], devidamente anotado, do Dr. Tomás Machado Lima, Diácono e parente da família Queiroz e Mello, enraizada nessa terra e muito ligada à Igreja Católica.
Padre Manuel Mendes