PÃO DE VIDA

Do ambiente digital

Numa análise das respostas ao Questionário do Documento Preparatório para a Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos [UCP - Braga, Março 2018], considerando dados recolhidos em várias Dioceses da Igreja em Portugal, foi verificado o individualismo em que os jovens vivem na actualidade, demasiado dependentes das relações virtuais. Daí decorre que é preciso saber usar as redes sociais, de modo a evitar o individualismo e os excessos do consumo da era digital. De facto, observa-se uma mudança cultural determinada pelo desenvolvimento do mundo digital, que é um desafio, pois gera mudanças no paradigma da evangelização e é um meio cheio de potencialidades que facilita a vida quotidiana. Por outro lado, tem uma vertente negativa que se prende com a utilização excessiva, que traz riscos e que reduz a presença e interacção humana.

Nas tecnologias da informação e comunicação [TIC], em especial as utilizações do computador e do telemóvel - para as comunicações, o trabalho, o estudo e o lazer - são actualmente evidências fortíssimas em todos os cantos do mundo e como que uma extensão do corpo humano. É de questionar seriamente se boa parte dos mais novos (e não só) não estará a regredir para outra escravidão moderna, quando os utilizam massivamente e sem regras. O homem ao inventar as máquinas vai-se tornando escravo delas. Os meios digitais podem infelizmente ser mal usados, para fins destrutivos da personalidade humana e da sociedade actual, globalizada. De facto, verifica-se que a dependência negativa de certas tecnologias digitais - videojogos, redes sociais, internet, etc. - é um problema em crescimento, tornando-se um vício, designado por adição digital. Na adição aos videojogos [gaming disorder], há pessoas como que reféns, esquecendo-se de aspectos básicos do seu quotidiano. Note-se que a pandemia covid-19 agravou esta dependência digital em pessoas com mais vulnerabilidade psicológica. Nesta sequência, tem aumentado a procura de tratamentos nesta área, pelo que a prevenção é o primeiro passo para evitar situações de adição digital. A Organização Mundial de Saúde classificou [em 2018] os distúrbios com videojogos como um problema de saúde mental.

Neste nosso tempo marcado pela globalização e em especial nas sociedades mais urbanas, é demasiado acelerado o ritmo de vida e há desafios muito grandes no planeta Terra que afectam grande parte da população mundial (v.g., perigos climáticos, guerras, doenças, fome, etc.). Passando muita informação e conhecimento pelos meios digitais, evidentemente que é necessário ter interesse pelo mundo digital, recorrendo a especialistas e procurando conhecê-lo minimamente, para se incentivar o espírito crítico e a capacidade de diálogo sobre os múltiplos temas em questão. É também fundamental incrementar legislação específica e mecanismos práticos que protejam as pessoas e as instituições do terrorismo digital, bem como divulgar informações e conteúdos digitais fidedignos.

Sendo uma tarefa árdua, permanente e inacabada, própria da educação humana, também está nas mãos das pessoas que vivem com os mais novos e próximas deles (pais, professores, catequistas e outros educadores, etc.) o seu devido acompanhamento no âmbito digital, ensinando que os meios digitais são instrumentos bons do nosso tempo em que felizmente vivemos e para bem da pessoa humana, se forem usados com critério e discernimento. Por outro lado, é de ter muita atenção para que, desde pequeninos, os mais novos - geração smartphone [telemóvel com recursos de computadores e funcionalidades avançadas] - não sejam instrumentalizados e prejudicados pelo uso indevido das tecnologias digitais.

Padre Manuel Mendes