
PÃO DE VIDA
Amigo de Deus e dos Pobres
Com paixão por Jesus e compaixão pelos pobres e enfermos, na vontade muito firme de um mundo melhor, o Venerável Padre Américo marcou indelevelmente a Igreja e Portugal no século XX; pois, no seu itinerário de vida cheia, procurou ir ao encontro do desígnio de Deus para todos os viventes, servindo os mais frágeis. Deus ama o pobre: Ele levanta-o da terra onde jaz e ergue o pobre da lama - suscitans a terra inopem, et de stercore erigens pauperem [salmo 113 (112), 7]. Como discípulo de Jesus, o Defensor dos últimos, que Se aproximou dos indigentes e enfermos da Galileia, no seu tempo o Padre Américo seguiu o Mestre, defendendo as pessoas sem riqueza material, sem poder e sem honra, desnutridas e na miséria, com preocupação perseverante pela dignidade dos últimos. De facto, a chave teológica principal - de leitura do seu ministério presbiteral - está centrada nos Pobres e na Pobreza, conforme escreveu: A pobreza é um sacramento fundado e vivido no mundo, por Quem nele quis trocar o Nome sem jamais trocar a Pessoa; e os pobres são os sujeitos deste sacramento [Pão dos Pobres, II, 1942, p. 55].
No exercício do seu sacerdócio ministerial, viveu o essencial: seguiu pelo caminho da configuração com Jesus Cristo - despojamento, compaixão pelo próximo e misericórdia com os seus irmãos. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia [Mt 5,7]. Afinal, é esta a característica essencial da mediação sacerdotal de Jesus: Ele teve de assemelhar-Se em tudo aos seus irmãos, para Se tornar um Sumo-Sacerdote misericordioso e fiel em relação a Deus, a fim de expiar os pecados do povo [Hb 2, 17]. À imitação de Jesus, os seus passos foram movidos pela misericórdia, com amor entranhado, que o levou a entregar a sua vida pelos seus filhos, pobres e enfermos, indo ao seu encontro e cuidando deles. Ao estilo do Bom Pastor, deu a sua vida pelas suas ovelhas: foi à procura das que andavam perdidas, até as encontrar, e entusiasmou-as a seguir Jesus.
Na verdade, o Padre Américo foi um artista cristão do cuidado humano, colaborador na obra de salvação de Jesus Cristo, admirado por paisagens naturais belas [v.g., no Vale do Sousa, Serra do Gerês], mas lamentando realidades cruas e duras. Por isso, viveu sempre espantado com a melhor e mais bela obra criada por Deus - o ser humano [Gn 1, 31], procurando promover a dignidade humana dos seus irmãos ao longo da vida - desde o ventre materno à passagem para a vida eterna.
Como todas as crianças do mundo, o maior sonho de Américo Monteiro de Aguiar foi muito belo: ser grande! Por isso, benditas as terras e abençoados os pais que tal filho e tais filhos deram ao mundo e criaram. Em síntese, da sua vida de cristão, eis então este seu lindo e muito grato pensamento familiar: Quando eu era pequenino, ia ceifar erva nos campos, na companhia de outros irmãos. Ao regressar, em vez de ir directamente lançar a erva ao palheiro, ficava de cesto à cabeça, a chamar pela mãe, que viesse ver. - Olhe o meu cesto como é grande! [O Gaiato, n. 66, 7 Set. 1946].
O Padre Américo viveu na certeza da eternidade e o seu exemplo deixou boa memória na Igreja e no mundo, porque firmado na promessa de Jesus, conforme afirmou: Desejaríamos que as nossas palavras fossem carvões acesos, dessem às almas o alerta da vida e a compreensão de que a eternidade não é de maneira nenhuma aniquilamento ou fim, mas é antes a posse de si mesmo, no gozo absoluto do bem que cada um faz, sem mescla de sofrimento [Pão dos Pobres, II, 1942, p.91]. Na verdade, nem os olhos viram, nem os ouvidos ouviram, nem jamais penetrou o coração humano, o que Deus tem preparado para aqueles que O amam [1 Cor 2,9].
Numa conferência sobre o Padre Américo, em Coimbra, a 11 de Janeiro de 2013, D. António Marcelino [1930†2013], Bispo Emérito de Aveiro, afirmou: Ele foi realmente alguém que voltou às origens do Cristianismo, à vida das primitivas comunidades cristãs, ao propósito de tornar o amor do Pai visível e efectivo [Padre Américo: Precursor do II Concílio do Vaticano - A sua leitura dos sinais dos tempos. Coimbra, 2016, p. 47].
Um cabouqueiro da Causa de Beatificação do Padre Américo, D. Gabriel de Sousa, sem antecipar o juízo da Santa Igreja, afirmou que foi um Homem bom, desses a que a Igreja chama santos [Padre Américo, p.8]. Ao falarmos de santo sem S, não queremos adiantar-nos à decisão da única autoridade que tem o direito de proclamar oficialmente ao mundo a santidade de uma pessoa - a Igreja Católica [C. C. Martindale, S.J. - Que são os santos?, Coimbra, 1956, p. 191]. Sendo universal o chamamento à santidade, o Papa Bento XVI afirmou: estamos circundados, conduzidos e guiados pelos amigos de Deus. [...] Não devo carregar sozinho o que, na realidade, nunca poderia carregar sozinho. Os numerosos santos de Deus protegem-me, amparam-me e guiam-me [Homilia, 24-IV-2005 - AAS, 97 (2005), p. 708]. Na verdade, a santidade é o rosto mais belo da Igreja [Papa Francisco - Exortação Apostólica Gaudete Exsultate - Alegrai-vos e exultai [Paulinas, 2018, p. 10].
De forma muito sucinta, com base nas suas palavras eloquentes e em informações credíveis, ousámos traçar um esboço resumido de alguns acontecimentos fundamentais no arco biográfico do Venerável Padre Américo, profeta da caridade e misericórdia, continuando a procurar contribuir para que a sua memória feliz permaneça viva no tempo em que nos é dado viver, por graça, e continue a perdurar, pois ficou para a História da Igreja, em especial em Portugal e em África, como um grande amigo de Deus e dos pobres. Na verdade, Pai Américo não morreu!...
O Santíssimo Nome de Jesus foi a especial invocação do Padre Américo e que transmitiu à Obra da Rua, como cristão e devoto de S. Francisco, cuja prática é tão antiga como o Cristianismo [vd. Um monge da Cartuxa Scala Coeli - A Oração de Jesus: Caminho para a intimidade com Deus. Braga: Ed. A.O, 2013, p.13]. Louvado seja N.S.J.C....
Padre Manuel Mendes