PÃO DE VIDA

Do Venerável Padre Américo

Das primícias sacerdotais

No início da sua vida pastoral, o Padre Américo não seguiu para o serviço paroquial, na Diocese de Coimbra, conforme confidenciou: Tendo sido designado para uma paróquia, o seu fundador [da Obra da Rua], no momento de tomar posse, sobrevém-lhe uma doença que o impossibilita. Ao fim de três anos e tendo-se por incapaz, pede e obtém do seu Prelado licença para se dar à visita de Pobres [O Gaiato, n. 363, 8 Fev. 1958]. A paróquia seria S. Paulo de Frades, pelo testemunho de D. Manuel de Almeida Trindade [1918†2008 - Figuras Notáveis da Igreja de Coimbra, Coimbra, 1991, p.149], que conhecemos. Foi seu aluno de Português e afilhado de Crisma, chegando a Vice-Reitor do Seminário de Coimbra [1941] e Bispo de Aveiro [1962-1988]. Embora as suas dores de cabeça tenham continuado, depois de algum tempo de indefinição pastoral e sofrimento, o Padre Américo foi procurando sintonizar a sua vocação e missão, pela graça de Deus, considerando o seu carisma e a obediência ao seu Bispo de Coimbra, conforme escreveu: Doente como então era, o meu Prelado havia-me dispensado de todas as obrigações, tendo eu tomado esta de visitar Pobres, por não servir para mais nada [Ovo de Colombo, Paço de Sousa, 1954, p. 8].

Em Agosto de 1931, com o Padre Dr. Manuel Trindade Salgueiro, mais tarde Arcebispo de Évora [1955†1965], o Padre Américo visitou o virtuoso [Venerável] Frei Bernardo de Vasconcelos - da Anunciada [1902†1932], monge beneditino, doente na Foz do Douro - Porto; de quem nos deu testemunho D. Gabriel de Sousa, Postulador da Causa de Beatificação. Eis o que o Cónego Trindade Salgueiro vaticinou sobre o seu caminho pastoral: Deixem-no determinar-se [O Gaiato, n. 357, 16 Nov. 1957].

Com as devidas licenças escritas, do seu Bispo [Arq.º Cúria Dioc. Coimbra], celebrou Missa na Capela de S. Frutuoso, em Casais do Campo - S. Martinho do Bispo [4-I-1930], como escreveu: Os tempos andaram. Deixei a vida que tinha e fiz-me, mercê de Deus, sacerdote católico. Eu sou do Papa. Apenas ordenado de Presbítero, fui enviado pelo meu Superior reger a capela de um sítio, posta, então, ao culto. [...] Preguei a Igreja Católica. Gosto de ser mandado. De vez em quando, costumo ir ter com o meu Bispo a perguntar se vou bem. Não escolho o mais sábio, pode ser que haja outros mais sábios do que o meu. Não se me dá. Não é da minha conta. Vou àquele a quem devo obediência e ele, a mim, vigilância. O meu Bispo. Ande lá [O Gaiato, n. 89, 26 Julho 1947].

Entretanto, conforme outras licenças do seu Bispo, o Padre Américo também foi celebrando Missa em mais locais de culto em Coimbra, a saber: na Igreja de Santa Cruz [14-I-1930], no Asilo da Mendicidade [3-XI1930, R. da Sofia] e no Seminário Episcopal de Coimbra.

Desse tempo, encontrámos e transcrevemos uma interessante missiva [Arq.º Cúria Dioc. Coimbra], com um pedido ao seu Bispo de Coimbra, em 21 de Agosto de 1930, pois faz alguma luz sobre o seu caminho pastoral. Eis: Mais uma vez, in nomine Domine: [...] não me prenda no Seminário, por amor do Sagrado Coração de Jesus - deixe-me ir por esse mundo fora./ Padre Américo [...].

Depois, em 16 de Novembro de 1930, foi nomeado Director diocesano da Medalha miraculosa - de Nossa Senhora das Graças, das aparições a Santa Catarina Labouré [1806†1876], das Filhas da Caridade. em 1830, na rue du Bac - Paris [P.e Aladel, C.M., trad. Conde de Samodães - A Medalha Miraculosa [...], Porto, 1884].

Sendo a fé activa no amor, pois Deus é Amor [1 Jo, 4,8], com a anuência do Bispo de Coimbra, o Padre Américo foi-se encontrando no ministério presbiteral como seu esmoler - ao serviço dos mais pobres, em especial em Coimbra, como afirmou: Sim; sirvo os Pobres nas cadeias, nos hospitais, nos tugúrios, nos caminhos - e no altar [Pão dos Pobres, III, 1943, p.94]. Na verdade, mergulhou bem fundo na espiritualidade cristã: A união das duas vidas, contemplativa e activa, constitui o verdadeiro apostolado, obra principal do cristianismo, diz S. Tomás: Principalíssimum officium [Dom J.B. Chautard - A Alma de Todo o Apostolado, Lx.ª, 1939].

Padre Manuel Mendes