
PÃO DE VIDA
Do Venerável Padre Américo
Padre Américo!
Com oração, estudo e perseverança, Américo Monteiro de Aguiar foi-se preparando e vivendo com muita alegria as etapas do seu Caminho da Luz, em direcção ao sacerdócio ministerial. Assim, na certeza da fé e com esperança fundada em Jesus Cristo Pastor e Servo, para o serviço da caridade, que sempre o marcou, foi ordenado Diácono por D. António Antunes [1875†1948], Bispo Coadjutor de Coimbra [Boletim da Diocese de Coimbra, ano 15, 1929, p.20], em 7 de Abril de 1929, na Capela de S. Tomás de Aquino, do Seminário de Coimbra, Em 25 de Junho de 1929, fez acto do 3.º ano Teológico e foi aprovado com treze valores [Arq.º Sem.º Coimbra], assinando a acta os Padres Luís Lopes de Melo [1885†1951], Manuel Trindade Salgueiro [1898†1965] e Elias Luís Aguiar [1880†1936].
De 22 a 27 de Julho de 1929, esteve em retiro espiritual com outros ordinandos. Finalmente, chegou o dia 28 de Julho, em que, na Capela de Nossa Senhora da Anunciação, do Seminário de Coimbra, Américo Monteiro de Aguiar, com 41 anos, Augusto Nunes Pereira [de Fajão] e José Marques da Silva [de Almoster] foram ordenados de Presbítero pelo Bispo de Coimbra, D. Manuel Luís [Boletim da Diocese de Coimbra, ano 15, 1929, p.66]. Do seu Bispo escreveu: Deu-me Ordens Sacras, fez-me Sacerdote: o maior de todos os títulos para a maior de todas as gratidões [Correio de Coimbra,14 Março 1936, p. 4]. Desde esse momento determinante, tão desejado e fundamental na sua vida ao encontro do Mestre, passou a assinar de forma muito significativa: Padre Américo! No seu percurso espiritual, manifestou dúvidas sobre a presença Eucarística, mas acabou por se entregar na beleza da nuvem do Ser divino, quando o Bispo de Coimbra lhe impôs as mãos e o ungiu para celebrar os Mistérios da Fé. Em 29 de Julho, na Capela das Irmãs Coadjutoras do Seminário de Coimbra, celebrou Missa de início de ministério, sendo assistido pelo Cónego Manuel Fernandes Nogueira [1861†1944], director espiritual, e pelo seu irmão Padre José de Aguiar. Por essa altura, disse: Já não tenho tempo de perder mais tempo! [Penafiel, n. 1,1972, p.44].
Em 5 de Agosto de 1929, celebrou Missa Nova na Igreja paroquial do Salvador de Paço de Sousa, conforme relatou em carta a Simão Neves [11-VIII-1929]: no dia 5 do corrente fui a Paço de Sousa celebrar em comemoração dos nossos mortos, à beira dos vivos. Igreja cheia. Festa toda espiritual, silenciosa, grande como o pensamento, modesta como as violetas. Não houve nada que fizesse olhar para fora; tudo para dentro! Meu irmão Jaime, ex-discípulo de Renan, Voltaire e outros, recebeu das minhas mãos pecadoras o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Da mesma maneira outros irmãos que há muitos anos o não faziam e muita gente da terra, muita, muita gente. Antes, fiz uma pequenina alocução acerca da presença real, do mistério da Eucaristia [O Gaiato, n. 401, 25 Julho 1959].
Sobre este momento muito forte da vida cristã, é oportuno recordar modelos que se revelaram inspiradores. É notório o que diziam de S. Vicente de Paulo [1581†1660]: Meu Deus, como este Padre diz tão bem a Missa! [P.e Berbiguier - Vida popular de S. Vicente de Paulo, Porto, 1889, p.173-174]. Sendo muito devoto deste sacerdote, amigo dos pobres, escreveu: Vicente de Paulo, na piolhice das mansardas e à beira das galés, a aliviar das grilhetas os condenados a elas - ele que tinha lugar marcado à mesa de reis - o Padre mais Padre de todos os tempos [Pão dos Pobres, I, Coimbra, 1941, p.87]. Num encontro significativo após a ordenação [1841] de S. João Bosco [1815†1888], a mãe Margarida [1788†1856, Venerável], olhando-o nos olhos, disse: És padre: dizes a Missa; a partir de agora estás mais perto de Jesus Cristo. Recorda-te, porém, que começar a dizer Missa quer dizer começar a sofrer [Arthur J. Lenti - Dom Bosco: história e carisma, 1, EDB, 2012, p. 315]. Na vida deste apóstolo das crianças e adolescentes também se inspirou, dizendo: Eu quero os meus filhos no Paraíso [O Gaiato, n. 68, 5 Out. 1946].
Em 1929-1930, o Padre Américo continuou os seus estudos Teológicos. E, ainda, foi nomeado Prefeito, dos alunos médios [segunda prefeitura], e Professor de Português, dos Preparatórios, no Seminário Episcopal de Coimbra. Em 20 de Outubro de 1929, na abertura solene das aulas, recebeu um prémio de 100$00, por se ter distinguido nas homilias na Igreja do Seminário [Boletim da Diocese de Coimbra, ano 15, 1929, p.89]. Finalmente, com 42 anos, concluiu o Curso Teológico [4.º Ano], no Seminário de Coimbra, conforme se verifica: No dia quinze de Abril de mil novecentos e trinta, fez, por concessão de Ex. mo Prelado, acto do quarto ano Teológico: Américo Monteiro de Aguiar, filho de Ramiro Monteiro de Aguiar, natural do Salvador de Galegos (Diocese do Porto), que foi aprovado com doze valores/ †António, Bispo Coadjutor/ Tomás Fernandes Pinto/ José Antunes [Arq.º Sem.º Coimbra]. Contudo, veio a cair doente, cansado de cinco anos de estudos filosóficos e Teológicos, em Latim.
A devoção do Padre Américo pelo Poverello mereceu lugar de destaque [v.g., imagem na Capela da Casa do Gaiato de Paço de Sousa], conforme escreveu: Sinto desejos de ser Francisco de Assis, para abraçar este espaço imenso de luz e de vida, desprendido, como o Pobrezinho, de tudo quanto possa ligar a gente às ninharias do mundo [Pão dos Pobres, I,1941, p.45]. Deste modo, foi insistindo na sua readmissão à Ordem dos Frades Menores, conforme é comprovado. Assim: O Definitório, a 29.12.1929, perante o pedido de readmissão, resolve-se readmiti-lo ao noviciado, mas só depois de se falar com o Ex.mo e Rev.mo Sr. Bispo de Coimbra, em cuja diocese o interessado se ordenou e reside, e com o R. P. Luís do Patrocínio, que foi Mestre de Noviços dele. Não foi readmitido. Em face de novo pedido, o Definitório, a 11.9.1931, resolve readmiti-lo. A readmissão, porém, não se concretizou [inf.ão P.e Henrique Pinto Rema, OFM; Arq.º Ordem dos Frades Menores, Lx.ª].
Padre Manuel Mendes