PÃO DE VIDA

Do Venerável Padre Américo

A caminho do Altar

O grande Santo Agostinho [354†430], relativamente à sua conversão, confessou: Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei [Confissões-10,27]. No seu itinerário vocacional, Américo Monteiro de Aguiar, à beira dos 38 anos, não terá chegado tarde ao Seminário da Sagrada Família de Coimbra, mas na sua hora - a hora estabelecida por Deus! A sua admissão aconteceu em 3 de Outubro de 1925, com recomendação de seu irmão mais velho, Padre José Monteiro de Aguiar, e do franciscano Fr. Inocêncio [José] do Nascimento [1877†1936]. Nesse dia muito significativo, foi recebido pelo Bispo de Coimbra, D. Manuel Luís Coelho da Silva, também penafidelense [de Bustelo, 1859†1936], que afirmou: Que venha. Vamos a ver o que sai [O Gaiato, n. 326, 1 Set. 1956]. Este Prelado firme, justamente homenageado na sua terra e em Coimbra [2015], esteve desterrado em 1912, em Vizela, por defender a Igreja Católica na Diocese do Porto. Américo de Aguiar continuou assim a dar uma resposta amadurecida e afirmativa ao chamamento de Jesus, o Bom Pastor, na linha do sacerdócio ministerial. Eis o seu termo de matrícula, escrito pelo Vice-Reitor do Seminário de Coimbra, Cónego Tomás Fernandes Pinto [1880†1940]: Américo Monteiro de Aguiar, de 37 anos, filho legítimo de Ramiro Monteiro d´Aguiar e Teresa Ferreira Rodrigues, natural de Galegos, concelho de Penafiel, diocese do Porto, foi admitido neste Seminário em 3 de Outubro de 1925 como aluno interno pensionista [Arq.º Sem.º Coimbra - Liv.o matríc.as, 1925, n. 262].

Em 1925-26, frequentou as aulas de Filosofia, sendo seu professor o Padre Alírio Gomes de Melo [1894†1973]. Em 6 de Julho de 1926, fez exame e foi aprovado com 14 valores. Sendo aluno do 1.º ano do Curso Teológico, de 18 a 20 de Dezembro de 1926, recebeu a Prima Tonsura e as quatro Ordens Menores [Ostiário, Leitor, Exorcista e Acólito], conferidas pelo Bispo de Coimbra, D. Manuel Luís [Boletim da Diocese de Coimbra, ano 12, 1926, p.171]. Em 28 de Junho de 1927, fez acto do 1.º ano Teológico, sendo aprovado com 13 valores. No final de 1927, na sua viagem a Portugal, deu-se uma passagem importante por Coimbra do célebre Padre Matéo Grawlei Boevey [1875†1960], caixeiro-viajante do Sagrado Coração de Jesus, que deixou em Américo de Aguiar uma profunda impressão. Em carta ao seu irmão Jaime Aguiar referiu um caso extraordinário: Durante a conferência conversei com Deus, de joelhos. Pedi para que aqueles intelectuais vissem todos o que eu dantes não via e agora vejo. Mas pelo menos um, Senhor, disse eu. [...] No final da conferência aparece um cavalheiro [...] com os olhos marejados, me agradece tamanho favor [O Gaiato, n. 496, 16 Março 1963].

Como seminarista em Coimbra, entre candidatos mais novos, Américo de Aguiar foi um bom exemplo para os seus companheiros, como Nunes Pereira [1906†2001], por quem intercedeu no seu percurso artístico, ajudando-o nesta sua opção: Pode-se ser padre e artista [...]. Repara, por exemplo, em Fr. Angélico que, sem deixar de ser um bom monge, foi o artista que foi [Correio de Coimbra, 7 Ago. 1980, p.4]. Do pictor angelicus [1395†1455], na Carta aos artistas [4-IV-1999, n. 6], o Papa João Paulo II disse: Modelo eloquente duma contemplação estética que se sublima na fé são, por exemplo, as obras do Beato Fra Angélico. No Seminário de Coimbra, revelou-se um grande artista das palavras escritas, com um veio franciscano; pois, nesse tempo formativo fundamental, redigiu crónicas belas e saborosas sob o pseudónimo franciscano de Frei Junípero, na preciosa revista dos alunos - Lume Novo [do n. 1, 8-XII-1926, ao n. 13, Junho 1930 - Arq.º Sem.º Coimbra; ed. Coimbra, 2015].

Em Junho de 1928, fez um requerimento ao Bispo de Coimbra, em que escreveu: No conceito da sociedade que abandonei, o Padre é um homem inútil e prejudicial; a Religião, uma fábula e Deus, um mito. Eu mesmo assim considerava e confessava as coisas! Hoje, porém, vejo a verdade e quero convencer os que deixei. Com argumentos? Inútil. Como então? Subindo para que me vejam. Subir como? Desprendendo-me do que tenho e do que sou [O Gaiato, n. 325, 18 Agosto 1956]. Em 19 de Junho de 1928, fez exame de Canto Eclesiástico e ficou esperado; mas, em 16 de Setembro ficou aprovado com 11 valores, conforme escreveu: Gosto loucamente de Música. Os meus mestres do Seminário de Coimbra deram-me uma gata a cantochão, mas não me tiraram o ouvido nem o gosto [O Gaiato, n.9, 25 Junho 1944]. Em 20 de Junho, fez acto do 2.º ano Teológico e foi aprovado com 12 valores. Em Outubro de 1928, por escrito e ao seu Bispo de Coimbra, comprometeu-se com votos de pobreza e obediência [O Gaiato, n. 325, 18 Ag. 1956]. Em 23 de Dezembro de 1928, foi ordenado de Subdiácono [Boletim da Diocese de Coimbra, ano14, 1929, p.158].

Continua

Padre Manuel Mendes