PÃO DE VIDA
De ontem e de hoje - é Natal de Jesus
N'O GAIATO, de 13 de Abril, confiantes, deixámos esta nota: É, assim, aguardado com esperança, pelo Povo de Deus, em especial a Igreja Católica em Portugal, o Decreto de aprovação das virtudes heróicas do Padre Américo Monteiro de Aguiar. Esta Causa de Beatificação começou com afinco em 1986 - há 33 anos, tendo o grande amigo beneditino D. Gabriel de Sousa preparado os primeiros escritos processuais, seguindo-se outros cabouqueiros que já nomeámos. Nesta hora de júbilo, em que o Servo de Deus Padre Américo foi declarado Venerável, é justíssimo lembrar todos aqueles que tornaram possível este momento feliz, com os seus testemunhos vivos, a sua colaboração documental e escrita e a sua oração perseverante, em especial os que já partiram e se alegram com esta boa notícia no Céu! É, pois, com muita alegria que todos agradecemos vivamente a prenda natalícia que o Papa Francisco fez chegar à Igreja em Portugal, a 12 de Dezembro, conhecida logo pela manhã deste dia inesquecível, em especial para a Obra da Rua, e que mereceu ampla divulgação nos meios de comunicação social e uma Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa, saudando com profunda alegria a decisão do Santo Padre. Nesse dia, o Papa recordou que a santidade permeia e acompanha sempre a vida da Igreja, muitas vezes de forma escondida e quase imperceptível. Da notícia tornada pública pelo Vaticano, que veio impressa em L'Osservatore Romano [Ano L, n. 2596, 17-24 Dez. 2019, p.14], registamos o seu teor:
A 11 de Dezembro, o Santo Padre Francisco recebeu em audiência o Cardeal Angelo Becciu, prefeito da Congregação para as Causas do Santos. Durante a audiência, o Sumo Pontífice autorizou a mesma Congregação a promulgar os Decretos relativos: [...] - às virtudes heróicas do servo de Deus Américo Monteiro de Aguiar, sacerdote diocesano; nascido em Salvador de Galegos (Portugal), a 23 de Outubro de 1887 e falecido no dia 16 de Julho de 1956, no Porto (Portugal). [...]
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Continuando com a descrição dos primeiros passos da Obra da Rua, nos 80 anos de vida da primeira Casa, retomamos da pena de Padre Américo, na página 7, do opúsculo Casa de Repouso do Gaiato Pobre [1941], mais algumas linhas históricas. Ora, eis:
Surgia, porém, uma dificuldade de ordem moral, que se tornava necessário remediar: - os garotos pediam para ficar mais tempo, que a gente em casa, passamos fome; os pais escreviam a pedir aos Dirigentes que deixassem ficar seus filhos por mais algum tempo, que a gente agora não ganha; e, finalmente, mesmo sem pedidos nem cartas, via-se perfeitamente a necessidade de prolongar o estágio a certos deles, cujo estado de fraqueza era evidente.
Urgia, pois, arranjar casa própria com organização permanente, na qual se pudesse amparar por tempo indeterminado, o pequeno do tugúrio - e assim se fez.
Adquiriu-se uma casa de habitação, dentro de uma pequenina quinta, a trinta quilómetros da cidade de Coimbra, com horizontes rasgados e banhada de sol todo dia; à qual se chamou, para ficar a ser - Casa de repouso do Gaiato Pobre.
Inauguração/ No dia sete de Janeiro do ano de mil novecentos e quarenta, deu entrada na Casa do Gaiato um grupo de três deles, que foram os pioneiros da Obra; e, no final do mesmo, verificou-se, pelo livro de registo, terem feito a sua cura de repouso, em sua casa, quarenta e dois gaiatos da rua.
Não se cuide, porém, que a fundação da Casa do Gaiato destruiu as Colónias de Campo do Garoto da Baixa. Não. Estas funcionam precisamente como dantes, dentro da mesma quinta, sem prejuízo da Obra. [...].
Foi este simples acontecimento, de serviço eclesial aos pobres, que se tornou uma bola de neve e é referido, em 1999, por uma Cronologia do Século XX: O Padre Américo funda em Miranda do Corvo (Coimbra) a primeira Casa do Gaiato.
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No frenesim comercial da época natalícia, é de dizer bem alto Quem é celebrado pelos cristãos neste tempo. Assim, permitam-nos uma nota simples de visita enriquecedora, a propósito do extraordinário mistério do Natal de Jesus, sobre um menino finório que encontrámos algures em bairro populoso. Há muitos milhões deles com tantas carências, pois há Herodes que não olham a meios para atingir os fins. Sua mãe conseguiu deixar a sua terra, africana, para tratamentos urgentes por neoplasia, e trouxe outro pequenino no colo. Alertados a tempo e horas para tal situação, tivemos de ir por outro caminho para dar com um lindo presépio vivo e foi uma alegria encontrá-los radiantes aos cuidados de sua mãe, em leito comum, com avó por perto. Vimos ternura e encanto pelo mistério da vida humana, comprometendo-nos com aquela família.
Por instantes, tivemos mesmo de ir até Belém da Judeia. Do Papa Francisco em Admirabile signum, sobre o significado e o valor do Presépio: Parece impossível, mas é assim: em Jesus, Deus foi criança e, nesta condição, quis revelar a grandeza do seu amor, que se manifesta num sorriso e nas suas mãos estendidas para quem quer que seja. É mesmo a Verdade e não há outra e outro Nome no qual temos a salvação: Jesus!!! Deus fez-Se homem para todos, em especial para os últimos e mais frágeis, como tantos meninos, enfermos e velhinhos sem amparo, gemendo as suas dores. Na dita Carta Apostólica, é claríssimo: são os mais humildes e os mais pobres que sabem acolher o acontecimento da Encarnação. A Deus, que vem ao nosso encontro no Menino Jesus, os pastores respondem, pondo-se a caminho rumo a Ele, para um encontro de amor e de grata admiração. Deus veio salvar-nos em carne humana e há muita gente que espera por pais natais... Para uma Humanidade ferida por muitas mazelas, o Menino conta com todos e em cada lugar do nosso mundo. Basta um sorriso de uma criancinha, mas ao longo do ano, porque só nesta quadra não chega para a grandeza do Natal de Jesus, cuja vinda mudou a face da História humana - da salvação.
Padre Manuel Mendes