PÃO DE VIDA
Notas estivais de ocasião e gratidão
Para não ficarem escondidas debaixo do alqueire, de simples notas estivais sobre caminhos eclesiais e periféricos andados, em que a tónica principal é a gratidão, atrevemo-nos então a dizer bem de alguns encontros - acontecimentos e pessoas, em comunhão - muito significativos!
Em Maio, de 11 a 16, na Casa Diocesana de Vilar - Porto, decorreu a Reunião anual do Conselho Geral Internacional da Sociedade de S. Vicente de Paulo, marcando os seus 140 anos no Porto e os 180 anos do Conselho Geral Internacional da S.S.V.P., cujo Presidente geral [16.º] é o brasileiro Renato Lima, que orientou com serenidade os trabalhos. Participaram representantes de mais de sessenta países, bem acolhidos pelo Conselho Central do Porto, com Manuel Carvas Guedes à frente. Dando o exemplo de Padre Américo, encontrámo-nos com outros vicentinos, v.g.: Juan Manuel Gómez (Espanha), Sebastian Gramajo (Argentina) - ligado à Causa de Canonização de Frédéric Ozanam - Ralph Middlecamp (EUA) e o P. Bertin Sanon, dos Religiosos de S. Vicente de Paulo. Para além de assuntos internos, como a mudança de sede, registámos a intervenção do Padre Andrés Motto, C.M. - Atacar as Raízes da Pobreza - que referiu o enorme extermínio de povos nativos na Guatemala e foi claro: além do serviço directo com o pobre, a SSVP deve combater com maior esmero as causas que mantêm a pobreza, como os desequilíbrios ecológicos, o crime organizado, políticas e economias desacertadas e a corrupção política. Os simpáticos participantes foram presenteados com o néctar do Douro e um livro expressamente redigido para esta reunião magna e a reverter para os pobres: Fréderic Ozanam - Esboço de Cronologia. Esta publicação foi apresentada depois, em 8 de Setembro, em Guetim (Espinho), celebrando o dia do trânsito do Beato Ozanam [1813-1853], que sublinhou: A caridade é o samaritano que deita óleo nas chagas do viajante atacado. Cabe à justiça prevenir os ataques. Nesta linha de compaixão e amor, própria duma Igreja samaritana, sobre os vicentinos escreveu Padre Américo: O samaritano é o homem que o próprio Jesus assinalou. No Seu alto conceito, as obras de misericórdia estão em primeiro lugar. Pela sua perseverança no serviço desinteressado aos Pobres, imagem de Jesus pobre e sofredor, felicitamos vivamente a grande família vicentina, cujo carisma é sempre actual, na Igreja!
Numa tradição louvável, desta feita na capela de Nossa Senhora da Ajuda, em 6 de Julho, celebrámos a Eucaristia no 39.º Encontro dos Antigos Alunos do Colégio de Nossa Senhora do Carmo, em Penafiel. Vinte anos depois da sua fundação, é de lembrar que o Amériquinho do Bairro, em Setembro de 1897, foi para a rua do Paço, da velha Arrifana de Sousa; e, em 8 de Agosto de 1899, Américo Rodrigues Monteiro de Aguiar [sic] habilitou-se com o exame do 2.º grau [4.ª classe]: fiz exame de primeiras letras mesmo na pontinha do derradeiro quartel do século XX. Antes, também foi frequentado por Leonardo Coimbra [1883-1936], convertido filósofo, que revelou: Sim, foi no colégio que aprendi a cismar.
Em 16 de Julho, para celebrar 271 anos do lançamento da primeira pedra do Seminário de Coimbra, fundado por D. Miguel da Anunciação, houve homenagem sentida ao Padre Póvoa dos Reis [n. 1907], sábio de ciências naturais, do qual o bom amigo D. António Marcelino ouviu esta confidência, a chorar: [...] se Deus põe tanta beleza nestas pequenas coisas, o que não será a beleza da minha alma, a riqueza que Ele me destina, o projecto misterioso que Ele tem a meu respeito, pelo amor que me dá a conhecer em Jesus Cristo seu Filho. Em Eucaristia, na igreja do Seminário de Coimbra, foram recordados os seminaristas e os formadores desta veneranda casa, incluindo Padre Américo - aluno, prefeito e professor - de quem nesse dia se celebravam 63 anos de passamento - para o Paraíso, que desejou para os seus filhos, como S. João Bosco!
Em estreita ligação com a homenagem justíssima, em 2015, no centenário da ordenação episcopal do Bispo de Coimbra, D. Manuel Luís Coelho da Silva, que recebeu e impôs as mãos ao Padre Américo, a Paróquia de S. Miguel de Bustelo (Penafiel) editou um livro comemorativo sobre a vida deste grande Prelado conimbricense; e, em 24 de Julho, também celebrou a dita ordenação presbiteral, numa Eucaristia na igreja do antigo mosteiro beneditino e com palavras de gratidão!
Em 28 de Julho, Domingo, no Seminário de Coimbra, foi celebrado festivamente o 90.º da ordenação presbiteral de Padre Américo, especialmente numa Eucaristia, presidida pelo Bispo de Coimbra e cantada pelos rapazes da casa-mãe da Obra, como foi dado a conhecer neste jornal e noutros meios de comunicação social, pois marcou de forma indelével um acontecimento de enorme alegria. No salão de S. Tomás, na segunda apresentação do livro Uma história do Pai Américo, o Padre José Alfredo sintetizou o seu pensamento: contactar com o Padre Américo é aceder ao sentido da vida, da santidade, do mistério de Deus! E D. Virgílio apontou o caminho da Causa de Beatificação do Servo de Deus Padre Américo: Há pessoas a lutar e que não deixam morrer esta figura, que queremos tenha um impacto ainda maior. A figura do Padre Américo é motivo de grande honra para a Diocese e o Seminário de Coimbra, onde bateu à porta e foi aceite. Que o Padre Américo seja figura inspiradora do nosso modo de estar na Igreja - na senda da caridade, do amor aos pobres, e na promoção das vocações sacerdotais. Bem-hajam os que tornaram possível a celebração deste dia, de gratíssima memória!
No final de Julho, foi necessário visitar sítios e agregados donde promanam boa parte dos membros desta comunidade, quatro dezenas deles dispersos por vários lugares, nomeadamente da área metropolitana de Lisboa, para revermos in loco situações e limitações, tendo em vista a continuidade do acolhimento residencial, num quadro legal e de relacionamento permanente com os serviços oficiais, em que surgem às vezes contratempos e pontos de vista diferentes.
Em face das despesas correntes e com obras (necessárias) de arranjos dos telhados e quartos deste velhinho edifício, que acolheu os primeiros gaiatos vai para 80 anos, foi preciso mesmo fazermo-nos à estrada, como tem acontecido quando é possível, pois o Domingo é dia de Missa e de estar por casa. Em lembrança agradecida, começamos pela zona de Góis, onde Padre Américo levou os pioneiros a chapinar nas águas do Ceira, em 1937-1939. Depois, no terceiro Domingo de Agosto, como é boa tradição, a comunidade cristã da Figueira da Foz e bons amigos (em férias, nessa bela praia) acolheram de braços abertos alguns rapazitos nas Eucaristias dominicais, ligando o Evangelho à vida de serviço aos pobres. Caríssimo Padre João Veríssimo, bom amigo e zeloso prior, a nossa grande estima e gratidão! No Domingo seguinte, voltámos às terras da Maia (Moreira) e de Vila do Conde (Mosteiró), pastoreadas pelo Padre Augusto, companheiro de Seminário e músico, a quem agradecemos a oportunidade de celebrar a Eucaristia nessa catedral, com amigos, cuja história monástica nesses sítios remonta ao século IX. Obrigado!
No início de Setembro, urgiu ir ao encontro de algumas chamadas aflitivas, ajudando discretamente membros débeis, com a devida protecção de dados que a lei exige e a boa consciência aconselha, em situações de várias fragilidades.
Com o ano escolar a dar os primeiros passos, em meados de Setembro, fomos bem atendidos em nove marcações, agendadas no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras [SEF], para Agualva - Cacém. Para quando a gratuidade do título de residência para as crianças com junta médica e até os estudantes pobres dos países lusófonos (ou outros), em especial, a quem se requer autorização de residência permanente ou nacionalidade portuguesa para usufruírem de plenos direitos, nas escolas?... Na Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, diante da enorme tragédia actual dos refugiados, o Papa Francisco lembrou que não se trata apenas de migrantes e apelou ao acolhimento sem exclusões.
Padre Manuel Mendes