PÃO DE VIDA

Padre Américo!

Neste tempo muito festivo em especial para a família da Obra da Rua, da Igreja Católica em Portugal, pelos 90 anos de ordenação presbiteral do Servo de Deus Padre Américo, não se surpreenda o prezado leitor por deixarmos registados vários relatos simples relativos a esse acontecimento eclesial muito significativo e mostrarmos alguns retratos com os seus condiscípulos. De facto, há uma história viva, tecida por figuras destacadas ou simples, em contextos próprios, que se pode perpetuar na memória colectiva e cuja segurança histórica depende da fiabilidade documental. O mundo histórico é como um oceano onde afluem todas as histórias parciais.

Acontece que dois anos antes de partir para o Céu, em Julho de 1954, o próprio Padre Américo teve de pedir, ao seu Bispo de Coimbra, um documento comprovativo de estar no legítimo exercício das suas Ordens!... Por ser verdade, foi-lhe passado, como iremos comprovar, pelo que não há nenhuma dúvida do que escreveu, em 1947: Sou da Santa Madre Igreja Católica, aonde espero morrer.

Considerando a luta entre o homem [Américo Monteiro de Aguiar] e a Graça e outras dificuldades sofridas no seu itinerário vocacional, sempre conduzido por Cristo Jesus, O Bom Pastor. chegou a esse momento extraordinariamente feliz, no Seminário Episcopal de Coimbra, em que recebeu a imposição das mãos pelo seu Bispo de Coimbra, D. Manuel Luís Coelho da Silva. Laus Deo Virginique Matri! Por isso, desde esse dia - 28 de Julho de 1929 - que o Padre Américo apôs ao seu nome de baptismo um significativo ponto de exclamação: P. Américo!

No jornal diocesano Correio de Coimbra [3 de Agosto de 1929], são dadas mais informações sobre a sua ordenação presbiteral, pelo que também fica arquivada nesta coluna a notícia correspondente, desta forma:

Ordenação no Seminário/ No domingo passado, 28 [de Julho], S. Ex.a Rev.a o Senhor Bispo Conde conferiu as seguintes ordens:

Presbítero - aos Revs. Diáconos: Américo Monteiro de Aguiar, de Galegos, Diocese do Porto; Augusto Nunes Pereira, de Fajão; José Marques da Silva, de Almoster;

Diácono - aos Revs. Subdiáconos: Artur das Neves, do Louriçal; Ceias [César] Pereira Roque, de Unhais-o-Velho; José da Costa Melo, de Arganil; José Martins dos Santos, da Pampilhosa da Serra.

Subdiácono - aos Revs. Minoristas: António Gomes, de Areias; Silvestre Dias Gouveia, de Buarcos.

No registo do P.e Américo Monteiro de Aguiar, no Arquivo Diocesano de Coimbra, no ano de 1929 vem anotado o seguinte [a lápis, pelo Cónego André Freire]: or. [ordenado de Presbítero] 28-7-1929 - cap.la [capela] [de Nossa Senhora da] Anunciação - Seminário [de Coimbra].

No dia seguinte à sua ordenação presbiteral, o Padre Américo celebrou a Eucaristia de início de ministério, conforme restante notícia supra citada, do Correio de Coimbra, muito interessante e que informa assim:

Na segunda-feira, 29 [de Julho], rezou a sua Missa nova, no Seminário, o P.e Américo de Aguiar.

Assistiram-lhe o Rev.mo Cónego Nogueira e seu irmão, o Sr. P.e José M. [Monteiro] de Aguiar.

Cerimónia comoventíssima, em que o tom particular daquela festa sempre tão linda, mais fez realçar a unção verdadeiramente sacerdotal do "Homem de Deus", que ora vai começar uma nova vida, semeando Jesus nas almas...

Que N. [Nosso] Senhor o abençoe e nos abençoe a nós por ele.

Entretanto, no registo biográfico referido [a tinta], foi anotado o seguinte: 1929 - 30 - Julho - Pede licença para a 1.a e mais Missas. "P. P. na forma do estilo".

Deste requerimento, foi dada nota no jornal Correio de Coimbra, nestes termos: Movimento da Câmara Eclesiástica/ 23 a 31 de Julho [de 1929] / [...] Licença para celebrar a primeira e mais missas - aos Revs. Padres Américo Monteiro de Aguiar, da freguesia de Salvador de Galegos, diocese do Porto; Augusto Nunes Pereira, da freguesia de Fajão; José Marques da Silva, da freguesia de Almoster.

O Padre António Moreira da Rocha, preclaro investigador penafidelense, que ainda conhecemos pessoalmente em S. Miguel de Paredes (Penafiel), deixou uma pormenorizada descrição dos momentos antecedentes e da Ordenação Presbiteral e da Missa Nova do Padre Américo, em 28 e 29 de Julho de 1929, Domingo e segunda-feira, no Seminário Episcopal de Coimbra, cujo testemunho vamos relembrar aqui, como gratíssima memória do seu início de ministério presbiteral, há 90 anos.

Ora, eis: Tendo em conta a idade e as habilitações literárias que já possuía, o Prelado de Coimbra, ao cabo de quatro [três] anos de estudos filosóficos e teológicos, julga-o digno de receber o presbiterado. Assim o anunciava ele jubiloso em carta de Abril de 1929, em que me dizia estar prevista a ordenação para Julho desse ano. Pedia que não faltasse ao acontecimento, obtida previamente licença de meu Pai. A minha resposta afirmativa motivou nova epístola, a 4-6-29, em que dizia: "Eu já tinha uma carta feita para cima, a perguntar se ainda rabiava. Obrigado; estou radiante com a deliberação paterna. Virá em dia que a seu tempo avisarei: talvez no último sábado de Julho". De seguida, descia a pormenores, marcando-me para essa ocasião uma estadia de oito dias em Coimbra. Celebrada a "primeira Missa", dizia, e feitos "uns giros por estas formosíssimas redondezas, seguimos acima, a celebrar a minha segunda - primeira Missa em Paço de Sousa aos meus irmãos, acto muito íntimo, muito recolhido, com o amor e fervor das catacumbas, comungando todos das mãos pecadoras deste que foi, se não o maior pecador, com certeza um dos grandes pecadores do mundo!".

Padre Manuel Mendes