PÃO DE VIDA
Do Padre Américo
Conheci algumas pessoas que me deram uma ideia do que poderia ser a santidade e, como duas dessas já morreram, até vou dizer o nome que tinham. Um chamava-se Américo de Aguiar e outro Abel Varzim.
António Alçada Baptista
Em 16 de Julho, comemoram-se 63 anos da partida de Pai Américo para a casa do Pai celeste e no próximo dia 28 de Julho, Domingo, ocorre o 90.º aniversário da ordenação presbiteral de Américo Monteiro de Aguiar [AMA], por D. Manuel Luís Coelho da Silva, Bispo de Coimbra. São datas memoráveis no seu itinerário vocacional e para a Obra da Rua. Por isso, é sempre bom ir lembrando como memória muitíssimo grata e para nosso exemplo o Padre heróico e feliz que Padre Américo foi, no século XX, deixando vivo o seu testemunho - em especial pelos pobres, na Igreja Católica!
Neste intuito, poderemos dizer o seguinte, com fundamento no Catecismo da Igreja Católica [CIC 828]: esperando que um dia seja reconhecida canonicamente, pela Santa Igreja, a santidade do Servo de Deus Padre Américo, reconhecemos que, para além do seu extraordinário serviço aos Pobres até ao fim, de ter fundado a Obra da Rua e revelar-se um grande escritor cristão, o que de facto contribuiu para manifestar a santidade da sua vida, isso acontecerá porque praticou heroicamente as virtudes e viveu na fidelidade à graça de Deus. A Igreja declara santos e santas os homens e mulheres não pelos seus êxitos, mas pela sua santidade, pois tomaram a sério o duplo mandamento do Amor e levaram-no à prática em grau heróico. Na verdade, a santidade é a perfeição da caridade, como diz S. Paulo: A caridade é o vínculo da perfeição [Col 3, 14].
Assim, do jornal Voz de Fátima [Ano XXXV, N.º 409, 13 de Outubro de 1956], na época dirigido por Mons. Manuel Marques dos Santos, é oportuno respigar um artigo muito acertado [e não assinado], que foca essencialmente o seu carácter presbiteral e a sua vida de piedade e devoção, intitulado O Padre Américo. Eis:
Não precisou a Voz de Fátima de anunciar a sua morte. A notícia espalhou-se como um relâmpago em Portugal inteiro, na manhã do dia 16 de Julho [de 1956], dia de Nossa Senhora do Carmo, há quase três meses.
Ninguém ignora o seu desaparecimento, nem o seu grandioso e maravilhoso apostolado, através da Obra da Rua, do Património dos Pobres e do Calvário.
O que muitos desconhecem é a beleza da sua alma sacerdotal, a força da sua vida interior, totalmente doada ao Senhor, fazendo aos 41 anos [em Outubro de 1928, quando foi admitido ao Subdiaconado], nas mãos do Senhor Bispo de Coimbra [D. Manuel Luís Coelho da Silva], os votos de pobreza, castidade e obediência, em termos inequívocos.
O que muitos pensam é que o Padre Américo não passava de um homem bom, uma santa alma, um Padre livre, que não queria nada com os Bispos ou que vivia à margem dos problemas e da disciplina da Santa Igreja, espécie de filantropo a quem sobretudo interessava matar a fome, ou fazer casas para pobres... Nada mais falso.
Quem ouviu pregar os seus sermões, quem o viu celebrar a Santa Missa, ou a orar recolhido, ou a confessar-se humildemente, quem o viu a pedir os sacramentos todos da Igreja, plenamente consciente, na véspera da sua morte, quem leu o seu testamento e conhece o teor dos seus votos, quem pôde ler a sua carta ao Senhor Bispo de Coimbra em Junho de 1928 e, sobretudo, quem conviveu com ele na intimidade de muitos dias, sabe ao certo e pode demonstrar à história e à posteridade que o Padre Américo era, acima de tudo, um homem de Deus e um carácter sacerdotal, um Padre da Santa Igreja Católica, à maneira de S. Francisco de Assis, de S. João Bosco, de Santo Inácio de Loiola ou de S. Vicente de Paulo.
Quem escreveu estas linhas conhece um Sacerdote a quem o Padre Américo enviava pessoas, homens e senhoras, cujas almas precisavam de cuidados espirituais particulares e frequentes, que ele, por sua vida dispersa, não podia continuar a dispensar.
A ternura pela Pessoa adorável de Nosso Senhor Jesus Cristo e a devoção ao Seu Santíssimo Nome, eram-lhe peculiares. Passava horas esquecidas junto do sacrário, sobretudo quando tinha de tomar alguma iniciativa importante. Rezava diariamente os três terços do seu Rosário a Nossa Senhora. Só por gravíssimo motivo deixava de celebrar a Santa Missa.
Assim se prendia a Cristo aquele que d'Ele aprendera a vê-l'O em seus irmãos pobres e sofredores.
Que ninguém pense que é obra puramente humana a do Padre Américo. Traz o selo da caridade mais perfeita. Por isso há-de continuar-se com a Santa Igreja e dentro dela, como ele afirmou expressamente na última alocução que pronunciou em público - 8 de Julho [de 1956], no Património dos Pobres do Carvalhido [Porto].
Evoquemos a memória do saudoso Padre Américo. A melhor maneira de o fazer será viver o seu espírito e continuar a sua Obra.
Ainda no artigo supra, por baixo de uma bela e significativa fotografia do Padre Américo tirada em Fátima, vem este parágrafo, que também registamos: O Padre Américo fez a homilia da Missa dos Doentes, na peregrinação de 13 de Maio de 1952. Com aquele pequenino sermão - que mais foi uma ORAÇÃO, como lhe chamou o redactor da revista belga Médiatrice et Reine - alastrou rapidamente por Portugal inteiro a obra magnífica do Património dos Pobres.
Aquelas palavras, recordadas sentidamente neste significativo mês de Julho, são um retrato sacerdotal muito certeiro e pertinente, como testemunho eloquente sobre o teor da sua vida presbiteral, de grande apaixonado de Jesus Cristo, com muito amor à Igreja e predilecção pelos pobres. Realizando o seu ideal na Igreja, viveu condoído, próximo e actuante junto dos irmãos mais pobres e sofredores. Por isso, a exemplo do único Mestre, foi sinal de contradição no seu tempo e para o nossos dias. Ao deixar a vida terrena, no Porto, entrou na vida eterna, por morte muito dolorosa, qual martírio - acidente de automóvel, em S. Martinho de Campo. Assim, é de registar com alegria a sua evocação tão grata nessa bela terra de Valongo e depois em Coimbra, onde felizmente foi recebido no seu Seminário Maior e ordenado de Presbítero da Igreja Católica, em 28 de Julho de 1929 - Padre Américo!
Padre Manuel Mendes