PÃO DE VIDA
Não ter medo de ser santo
Eu leio e medito e faço desaparecer [cartas]. Eu rasgo tudo. Nem memórias, nem epitáfios. O silêncio. O esquecimento. Que a terra me coma os ossos. Soli Deo honor et gloria.
Padre Américo
O Servo de Deus Padre Américo não deixou para a posteridade uma síntese autobiográfica, tão esperada e na sua linguagem inimitável, em que revelaria com certeza e beleza os seus passos fundamentais no Caminho da Luz, com as conhecidas marteladas, e que chegou a intitular: De como eu subi ao altar. Não quis falar de si (do seu eu mais profundo), por prudência. Resistiu a essa tentação, mas essa obra muito ajudaria a traçar com fidelidade a sua vida de servo de Deus e dos pobres. Por isso, confidenciou: Se eu fosse a contar a minha vida desde o princípio, faria um livro de memórias de que muito havias de gostar; mas não. Antes quero revelar as coisas mais recentes e calar as distantes. Mais: Não são as coisas que se sabem dos homens de Deus que os levam à glória dos altares. O melhor não se sabe. Eles não o disseram. Por isso é que, por muito que os autores digam, são sempre incompletas as vidas dos santos.
Causa do Servo de Deus Padre Américo
O Padre Américo, conhecido por Pai Américo, nasceu a 23 de Outubro de 1887, em Galegos (Penafiel), foi ordenado Presbítero, na Diocese de Coimbra, e faleceu a 16 de Julho de 1956, na cidade do Porto, da Diocese portucalense. A Causa de Beatificação e Canonização deste Servo de Deus tem por autora a Obra da Rua, com sede na Diocese do Porto, da qual foi o fundador, que pediu a sua introdução ao Bispo do Porto, D. Júlio Tavares Rebimbas.
Hoje, dia 2 de Abril, é de revelar o marco discreto, mas significativo, desta data no percurso desta Causa, pois está prevista, pela Congregação para as Causas dos Santos, em Roma, a discussão dos Consultores Teólogos sobre a Positio Super Vita, Virtutibus et Fama Sanctitatis - Beatifi-cationis et Canonizationis Servi Dei Americi Monteiro de Aguiar, Sacerdotis Dioecesani (1887-1956) [P. N. 1764]. Na verdade, foi concluída a fase mais importante e empenhativa, que se tratou do estudo minucioso da vida e obra de Padre Américo, e de que resultou a dita Positio, impressa em 2004 e depois entregue em Roma. Este documento fundamental compreende a análise exaustiva da sua vida e virtudes, uma antologia dos seus escritos, a sua espiritualidade, a acção apostólica e a fama de santidade. É, assim, aguardado com esperança, pelo Povo de Deus, em especial a Igreja Católica em Portugal, o Decreto de aprovação das virtudes heróicas do Padre Américo Monteiro de Aguiar.
De forma muito sucinta, rememoram-se alguns momentos da história desta Causa de Beatificação. O Postulador diocesano D. Gabriel de Sousa, O.S.B., foi nomeado pela Obra da Rua e aceite pelo Bispo do Porto, em 8 de Dezembro de 1986, sendo apoiado pelo Padre Carlos Galamba. Em 6 de Novembro de 1990, foi dado o nihil obstat pela Santa Sé, firmado pelo Cardeal Perfeito Angelo Felici [26-VII-1919; †17-VI-2007]. O Tribunal Eclesiástico para a fase diocesana [no Porto] ficou constituído assim: Padre Jorge Teixeira da Cunha [Juiz Delegado], Padre João Paulo Campos [Promotor de Justiça] e Padre José Maria Gonçalves Moreira [Notário]. Na Sé Catedral do Porto, em 6 de Julho de 1995, aconteceu a sessão pública de encerramento da primeira fase do processo, depois de terem sido ouvidas 47 testemunhas e 4 ex officio, nos Tribunais Eclesiásticos do Porto [75 sessões], Coimbra e Lisboa, de que resultou um volumoso dossier, sobre a vida, virtudes e fama de santidade do Servo de Deus, de que constam também escritos e documentação biográfica. Em 5 de Março de 1996, foi nomeado Mons. Arnaldo Pinto Cardoso como Postulador em Roma. Entretanto, em 12 de Março desse ano, saiu o Decreto de Abertura do Inquérito Diocesano sobre as Virtudes; e, depois, em 18 de Outubro de 1997, o Decreto de Validade do Inquérito Diocesano sobre as Virtudes. Nesse ano, em 21 de Novembro, foi nomeado Relator o Padre Ols Daniels, O. P. Finalmente, em 12 de Maio de 2005, ao cabo de um trabalho eclesial persistente e seguro, foi apresentada a Positio Super Virtutibus para os Consultores Teólogos. Depois, havendo necessidade, foram nomeados e aceites um Vice-Postulador [o autor destas linhas] e o Postulador em Roma [Padre João Pedro Bizarro], respectivamente pelos Bispos do Porto D. António Francisco dos Santos [† 11-IX-2017] e D. Manuel Linda.
Não antecipamos, evidentemente, o juízo da Santa Igreja Católica e é de notar que o caminho desta Causa de Beatificação vai prosseguindo e passando por certas vertentes que, dentro do possível, não têm sido descuradas, a saber:
1 - Tornar cada vez mais conhecida a vida e a obra do Servo de Deus Padre Américo, divulgando o seu testemunho de vida, ao serviço dos pobres, na Igreja, como exemplo para o povo cristão e pessoas de boa vontade. Na Casa do Gaiato de Paço de Sousa, desde 23 de Outubro de 2017, encontra-se o Museu - Memorial Padre Américo - Obra da Rua, ao cuidado de Padre Júlio, responsável da nossa Obra.
2 - Comunicar as graças obtidas, em especial as presumíveis curas miraculosas, testemunhos e o que for julgado oportuno, à Postulação e Vice-Postulação da Causa de Beatificação do Servo de Deus Padre Américo [através da Casa do Gaiato - 4560-373 Paço de Sousa]. Depois, estas informações vão sendo publicadas no Boletim do Servo de Deus Américo Monteiro de Aguiar - AMA, que tem sido publicado desde 2014, regularmente, pela Obra da Rua, em Paço de Sousa [ama.obradarua@gmail.com].
3 - Suplicar a Deus, por intercessão do Servo de Deus Padre Américo, o dom das graças pedidas, necessárias à glorificação canónica do Servo de Deus Padre Américo, isto é, à sua beatificação e canonização. Há uma oração própria, com aprovação eclesiástica, conhecida e divulgada no Povo de Deus.
Continua no próximo número
Padre Manuel Mendes