PÃO DE VIDA
O nosso Bispo D. António Francisco
Partiu cedo demais, aos olhos humanos, ao encontro de Deus, deixando órfãos os seus filhos espirituais. São desígnios insondáveis de Deus! Pertence-nos implorar de Deus a sua beatificação e canonização para que a sua presença e a sua bênção se afirmem mais claramente em nós e na sua vida e missão encontremos um exemplo a seguir.
D. António Francisco, Bispo do Porto.
As belas palavras, ricas de significado, que encimam esta memória viva sobre um amigo de Deus e pastor da Igreja foram pronunciadas numa Eucaristia festiva da Obra da Rua, na Casa Diocesana de Vilar, no Porto, em 19 de Julho de 2014, e dizem respeito, sim, ao Servo de Deus Padre Américo, em cuja Causa estava muito empenhado. Contudo, D. António também partiu cedo demais...
No dia 11 de Setembro, inesperadamente (a vida é um ai...), a meio da manhã, pela Renascença foi transmitida a notícia dolorosa do passamento súbito (do coração!) do nosso Bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos, ocorrido no Paço da Diocese portucalense. Em Agosto, no silêncio beneditino, subimos a escadaria dessa casa vários dias por mor da Causa de Padre Américo. Eis algumas linhas breves do seu percurso biográfico, no caminho do Bom Pastor: Nasceu em Tendais, Cinfães (29-VIII-1948); foi ordenado Presbítero em Lamego (8-XII-1972); prosseguiu (em 1974) estudos em Paris, onde se diplomou em Filosofia e Sociologia; Professor e Vice-Reitor do Seminário de Lamego (1986-1991); recebeu a ordenação episcopal (19-III-2005), com o título de Meinedo e como Auxiliar de Braga; foi Bispo de Aveiro cerca de sete anos (2006-2014); depois (21-II-2014), pelo Papa Francisco, nomeado Bispo do Porto, grande Diocese de Antuã ao Marão...
O acontecimento da páscoa repentina do nosso Bispo do Porto é, para nós, ocasião também de encontrar ligações entre D. António Francisco e Padre Américo, nos seus itinerários de vida, no seguimento de Cristo Bom Pastor e Servo. Foi ordenado Bispo em dia de S. José. Assim, evocou a memória abençoada de seu pai Ernesto Francisco: que perdera lá longe no Brasil, quando eu tinha apenas quinze anos. Ao Padre Américo o seu Bispo de Coimbra D. Manuel Luís, em 19 de Março de 1932, confiou-lhe a Sopa dos Pobres.
Há ainda outra recordação familiar de eterna gratidão, evocada na sua homilia de 6 de Abril de 2014, na Igreja Catedral do Porto. Na verdade, no lema episcopal de D. António Francisco - In manus tuas - também se espelhava a ternura materna: o rosto sofrido da minha Mãe [Donzelina dos Santos], a braços com grave e prolongada doença.
Na sua entrada na Diocese do Porto, D. António acenou logo modelos de serviço aos pobres para a Igreja Portucalense e em Portugal: Sejamos ousados, criativos e decididos sempre mas sobretudo quando e onde estiverem em causa os frágeis, os pobres e os que sofrem. Esses devem ser os primeiros porque os pobres não podem esperar! Temos na história da Igreja do Porto modelos de caridade que nos podem guiar neste caminho.
Voltando a 19 de Julho de 2014, nesse dia confidenciou recordações de jovem seminarista e uma referência episcopal no Porto: Foi na Casa do Gaiato de Paço de Sousa, onde, com os meus condiscípulos, como jovens estudantes, fazíamos voluntariado durante as férias, que conheci o senhor D. António Ferreira Gomes, em 16 de Julho de 1969, na primeira visita que ali fizera, apenas regressado à Diocese. Recordo as suas palavras na Homilia da Eucaristia que celebrou. [...] Elogiou as crianças e os jovens da Casa, dizendo-lhes que as flores mais belas não são as que nascem cuidadas nos melhores jardins, mas sim aquelas que se encontram à beira dos caminhos ou na aridez das montanhas ignoradas e dos tugúrios desconhecidos. Assim eram para ele as crianças do Gaiato!
De forma muito determinada, conforme missiva de 24 de Maio, confirmou presença em 16 de Julho de 2016: Venho confirmar a minha disponibilidade para presidir à celebração da Eucaristia na igreja da Trindade e assim poder participar na celebração dos 60 anos da morte do Padre - Pai Américo. Refiram-se, ainda, outros momentos importantes de proximidade, em momentos difíceis: lançamento do livro É tempo de falar do Padre Américo (da Modo de Ler), na Praça da República (onde há uma estátua sempre com flores frescas...), no Porto, em 22 de Outubro de 2016; presença na Recolecção de Advento dos Padres da Diocese do Porto, no Seminário Maior da Nossa Senhora da Conceição, em 22 de Novembro de 2016, em que foi apresentada uma Súmula Biográfica do Padre Américo; a Nota Pastoral Obra da Rua e Padre António Baptista dos Santos, sobre o Calvário em Beire, a 24 de Março de 2017; e o colóquio comemorativo dos 61 anos da morte do Padre Américo, em 13 de Julho de 2017, na Universidade Católica Portuguesa (Foz - Porto).
No último dia de Agosto, chegou-nos uma bela missiva com palavras que não se devem perder, mas registar gratamente nestas colunas de saudade e esperança: Asseguro-lhe a certeza da minha oração e da minha bênção e peço que reze também por mim e me abençoe. De Roma insistem para que nos mobilizemos de forma mais activa no Processo de Canonização do Padre Américo para que sejam reconhecidas as virtudes heróicas. Veja o que devemos fazer. Dedicado e grato em Cristo: + António, Bispo do Porto.
Entretanto, a 9 de Setembro, viveu intensamente e com muita alegria, conforme retrato do seu rosto feliz, a linda peregrinação diocesana a Fátima, deixando como que um testamento, do qual respigámos o miolo: Igreja do Porto: Vive esta hora, que te chama, guiada pelas mãos de Maria, a ir ao encontro de Cristo e a partir de Cristo a anunciar com renovado vigor e acrescido encanto a beleza da fé e a alegria do Evangelho. Viver em Igreja esta paixão evangelizadora é a nossa missão. A vossa e a minha missão!
Finalmente e neste caminho ascendente, a 13 de Setembro, pelas 15 horas, uma multidão impressionante, de muitos milhares de pessoas, participou na Catedral do Porto e no Terreiro da Sé na Missa exequial por D. António Francisco. Foi uma celebração muito comovente e de gratidão por um Bispo amigo, testemunhada por tantos amigos seus, que se despediram no pórtico da Catedral e na descida no lajedo granítico da Capela de S. Vicente, ao pé dos Bispos do Porto D. Agostinho e D. Armindo. Que descansem em Paz!
Foram cumpridas na sua vida, de verdade, estas palavras suas na entrada na Diocese do Porto, como Bispo sábio, bondoso e próximo: Só pela bondade aprenderemos a fazer do poder um serviço, da autoridade uma proximidade e do ministério uma paixão pela missão de anunciar a alegria do Evangelho.
Junto de Deus, estará próximo de Padre Américo, que partiu com 68 anos e também experimentou como homem das dores a sua fé no mistério de Deus, ao dizer (em 1933): Morremos todos sem saber jamais as coisas inenarráveis que Deus tem para dizer aos mortais, em horas de suprema angústia. D. António Francisco foi um homem de Deus, de ora et labora. É bem possível e desejável que nos vá dando notícias da Causa de Padre Américo e de vocações para a Igreja, também para o serviço aos pobres, que não podem esperar!
Padre Manuel Mendes