PÃO DE VIDA

Do Seminário de Coimbra

Quem dera que os fios da História escrita pudessem ser tecidos com documentos autênticos e seguros, preservados e a descobrir. É para lamentar profundamente a sua destruição por ventos devastadores. Sirva-nos de lição em Portugal, entre outras situações, o decreto fraticida de 28 de Maio de 1834, da mão do ministro dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça, Joaquim António de Aguiar, promulgado a 30 de Maio por D. Pedro IV, apesar do Conselho de Estado se mostrar unanimemente contra. Por força deste decreto, aconteceu a supressão das casas de religiosos em Portugal e no Ultramar, com a confiscação e incorporação dos seus bens na Fazenda Nacional. Tantas foram as cenas de triste agonia, como a pilhagem das livrarias conventuais (verdadeiro património da humanidade!) e o abandono dos seus conventos pelos religiosos (muitos deles enfermos e velhinhos), tornados à força indigentes pelas ruas, sem os seus santos panos... O Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, onde viveu Santo António, é um caso emblemático de glória para Portugal, mas que se delapidou.

Mais tarde, na sequência dos acontecimentos de 1910, no caso da Diocese de Coimbra, houve em 1917 a pretensão da saída da sua biblioteca do Seminário; o que teve a oposição do Bispo D. Manuel Luís Coelho da Silva e do seu amigo Dr. António de Vasconcelos, conseguindo-se que voltasse à posse deste Seminário. O mesmo Prelado, em 19 de Janeiro de 1918, aprovou os Estatutos do Seminário Episcopal de Coimbra, que substituíram os anteriores de 1748. Na senda de encontrar documentos atinentes ao servo de Deus Padre Américo, foi para nós motivo de júbilo encontrar noutra Diocese uma relíquia impressa do século XVIII, nomeadamente as Constituições do Seminario, de Jesus, Maria, Joseph. No frontispício reza assim: Letras Apostolicas em forma de Breve, que expedio o Santissimo Padre Benedicto XIV. Para confirmaçaõ dos Estatutos do Seminario Episcopal da Cidade de Coimbra, Os quaes com summa prudencia ordenou o Bispo moderno o Senhor D. Miguel da Annunciaçaõ, Fundador do mesmo Seminario; e propoz à Santa Sé Apostolica para que se revisse, e approvasse. Roma: Na Imprensa da R. Camera Apostolica, No Anno de 1748.

Foi neste venerando Seminário que Américo Monteiro de Aguiar, com 38 anos, foi admitido em 3 de Outubro de 1925 por D. Manuel Luís Coelho da Silva. A 18 de Fevereiro de 1936, nas últimas palavras do seu punho, este Bispo de Coimbra escreveu assim aos sacerdotes e fiéis: pedi a Nosso Senhor que vos dê um grande amor pela salvação da vossa alma, um grande amor pela Igreja Católica, um grande amor pelo nosso Seminário que é a primeira Obra da Diocese [...] e tudo o mais virá depois [...] e a grande crise será vencida. Depois, a 20 de Fevereiro, ainda assinou o decreto da criação do Seminário da Imaculada Conceição da Figueira da Foz.

Neste mês de Agosto, com a devida licença de Padres amigos, foi-nos dada a feliz oportunidade de pregar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo (e falar do servo de Deus Padre Américo), em várias comunidades da grande Diocese de Coimbra, desde Pedrógão Grande à Figueira da Foz. Sentimos fortemente a entrega desses pastores e a amizade sacerdotal, em comunidades cristãs vivas. O Povo de Deus tem sempre necessidade de ministros ordenados e está viva a promessa transmitida pelo profeta Jeremias - Dar-vos-ei pastores segundo o Meu coração.

À porta do novo ano escolar, é para esta grande causa dos Seminários, como corações das Dioceses (Coimbra, Porto...), que também nestas páginas vivamente apelamos: perseverante oração pelos seminaristas e formadores e partilha tão necessária.

Pelo seu mérito e proximidade, neste momento, abrimos aqui três excepções que envolvem amigos pastores deste presbitério: Padre Aníbal - a certeza da nossa comunhão orante, na sua provação... Padre João Castelhano - as nossas vivas felicitações pelos seus 60 anos de sacerdócio ministerial e a gratidão da Obra da Rua! Padre João Veríssimo - Nos seus 80 anos de vida, ad multos annos, sempre gratos pela sua grande amizade!

No último banco de uma Igreja Matriz, encontrámos radiante um rapaz por ter sido chamado pelo Bom Pastor!

Padre Manuel Mendes