PÃO DE VIDA 

Do Venerável Padre Américo

Continuação do número anterior

Perspectiva literária

O alcance dos interesses de Américo de Aguiar, com 39 anos, como seminarista em Coimbra, bem informado a nível eclesial, ficou demonstrado numa extensa missiva para o mesmo amigo no Funchal, de Novembro de 1926, da qual se transcreve o seguinte: Vai por esta mala: Um número de The Universe, jornal católico que uma tal Miss Stapleton me manda regularmente, para que v/ assim possa ajuizar da vitalidade da Igreja Universal, visto como este não o único nem o maior jornal católico que se publica em Londres. Dentro vai um artigo que rasguei doutro número, sobre a obra Maçónica na revolta do México. Vai a revista Os Estudos. Vai uma tese sobre o ideal cristão apresentado por um estudante de medicina, actualmente monge de S. Bento, em Espanha [O Gaiato, n. 437,19 Dez. 1960]. O jornal The Universe é um célebre semanário católico, fundado em 1860, sendo o mais popular na Grã-Bretanha e na Irlanda. A revista Estudos, fundada em 1922, foi o conhecido órgão do Centro Académico da Democracia Cristã [CADC]. O monge beneditino em questão era o virtuoso Frei Bernardo de Vasconcelos - da Anunciada [7-VII-1902 †4-VII-1952], afinal estudante de Direito em Coimbra.

Noutra carta para Simão Correia Neves, de 30 de Janeiro de 1927, estando a par de algumas publicações de intelectuais católicos do seu tempo, escreveu: Vai por este um estudo de Sociologia, A Ciência Social na Educação e na História, por um Lente desta Univ., Dr. Serras e Silva, que há tempos comprei [...]. Recomendo também os Santuários de Montanha, se ainda o não obteve. É interessante. O grande sábio foi nos s/ tempos Alpinista apaixonado. Descreve os fenómenos da natureza numa linguagem rigorosamente científica e extraordinariamente acessível. Chamo a s/ particular atenção para o epílogo [...]. De facto, afirma que a Religião é a base mais sólida da felicidade humana [O Gaiato, n. 441, 4 Fev. 1961]. João Serras e Silva [15-I-1868, Alcaravela - Sardoal; †8-IV-1956, ib.] foi médico e Professor em Coimbra; e Francisco Gomes Teixeira [26-I-1851, S. Coronado - Armamar; † 8-II-1933, Porto] foi célebre matemático, doutorado em Coimbra, e que chegou a Reitor da Universidade do Porto. Na mesma missiva, mais adiante, nota que: O célebre pensador francês J. J. Rousseau dizia assim: Vejo tanta injustiça na história dos homens que estou certo que as contas se saldam depois da morte. Disse uma verdade do Evangelho, ele que o não seguiu nem acreditou [ibidem].

Em 1 de Julho de 1927, em carta ao mesmo interlocutor, escreveu: [...] vai hoje um livro com uma série de conferências feitas em [19]23 na S.[Sociedade] de Geografia de Lx.ª por um lente desta Universidade, que eu anotei e sublinhei com muito interesse e peço-lhe que com idêntico espírito o leia. [...] O interesse do livro é isto: o segredo do mundo e da Vida. Os Enciclopedista (Voltaire, Renan, Collins, Hobbes, etc.) propuseram-se desvendá-lo à luz da razão pura, e não conseguiram. Depois veio a Ciência dizer o que faria, e não fez. Subsiste sempre o grande mistério, que o autor, aliás, apresenta com muita luz, ainda que isso lhe pareça paradoxal [O Gaiato, n. 444, 18 Março 1961]. O livro em apreço é o seguinte: A Igreja e o Pensamento Contemporâneo, da autoria do Dr. M. [Manuel] Gonçalves Cerejeira, Professor da Faculdade de Letras de Coimbra [Coimbra: Coimbra Editora L.da, 1924; em que o exemplar à mão tem uma significativa dedicatória: Ao Snr. Cónego Tomás Pinto, homenagem de M. Gonçalves Cerejeira, Janeiro de 1925]. D. Manuel Gonçalves Cerejeira [29-XI-1888, Lousado - Santa Marinha, Vila Nova de Famalicão; †2-VIII-1977, Buraca, Amadora] foi ordenado Presbítero a 1-IV-1911, em Braga, diplomado em Teologia e Ciências Histórico-Geográficas, em Coimbra, Professor na Universidade de Coimbra [1919-1928], ordenado Bispo em 17-VI-1928, por D. Manuel Luís Coelho da Silva, nomeado Patriarca de Lisboa em 18-XI-1929, e Cardeal a 6-XII-1929. O Cónego Tomás Fernandes Pinto [18-III-1880, Vila da Feira;†10-X-1940, Coimbra] foi Vice-Reitor do Seminário de Coimbra, de 1916 a 1936.

Padre Manuel Mendes

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