PÃO DE VIDA

Elisabeth Leseur

Continuação do número anterior

Uma alma que se eleva

eleva o mundo inteiro.

Elisabeth Leseur

Do matrimónio à crise de fé

Como resultado deste itinerário, Elisabeth voltou de novo à prática da fé católica com uma força inquebrantável. Este percurso interior é feito na oração, como deixou escrito: Senhor, sede o caro Companheiro da minha solidão interior, o Hóspede divino da minha alma. Vivei nela e dai-lhe sem cessar, na comunhão e na oração, as vossas mais íntimas graças. Fazei de mim o apóstolo do vosso Coração, pela prece, pelo sofrimento e pela acção.

Desde esse tempo, voltou a viver intensamente a vida cristã e o centro principal da sua vida era a oração, especialmente pela conversão do seu marido. Foi um caminho oculto, de união com Deus, no ambiente de casal e na vida social, como confessou: Eu desejo viver apenas para Deus, generosamente fazer tudo o que puder em seu serviço e, acima de tudo, abandonar-me inteiramente à sua vontade. Elisabeth acreditava fortemente no valor redentor do sofrimento, afirmando que o sofrimento que é aceite e oferecido, é a melhor das orações.

Aos seus amigos incrédulos - quem a procurava ou com quem se correspondia, vai procurando ajudar com as suas palavras, cheias de convicção - conselhos espirituais - a sua amizade e especialmente com a sua oração e o seu sacrifício, conforme disse: Deus se encarrega de fazer por nós, e melhor do que nós, o que sonhamos empreender. A influência que quiséramos exercer, Ele a emprega no bem das almas, enquanto nós Lhe oferecemos unicamente o nosso silêncio, a nossa fraqueza e inércia aparente.

Entre 1899 e 1901, os esposos Leseur empreendem novas viagens, visitando: Rússia, Ásia Menor, Grécia, Itália, Espanha, Marrocos, Bélgica e Holanda. Ao regressarem da última viagem, surgem problemas de fígado a Elisabeth, cuja doença a afectou para o resto da sua vida. Em 1902, durante o Verão, instalaram-se numa casa em local aprazível em Jougne, em Jura - Doubs, o que beneficiou a saúde de Elisabeth. No ano seguinte, em 1903, a 1 de Março, conheceu o P. Hebert, O. P. - dominicano, que se tornou seu confessor e director espiritual. Em 11 de Abril de 1903, com um casal de amigos, viajaram até Roma, para a Semana Santa. Nesse lugar tão importante para a Igreja, têm uma audiência com o Papa Leão XIII, o que ajudou no percurso espiritual de Elisabeth. Na Quarta-feira de Cinzas, na Basílica de S. Pedro, na Comunhão, Elisabeth teve uma experiência mística, pois sentiu-se renovada por Cristo, conforme confessou no seu Diário: Senti o divino Jesus, o próprio Deus realmente presente, que vivia em mim e me dava um amor inefável. A sua alma bendita falava à minha, inundando-a na infinita ternura do seu amoroso Coração. Jamais se apagará em mim esta divina marca! O Cristo triunfante, o Verbo eterno, Aquele que, feito Homem, amou e sofreu, o Deus uno e vivo, naquele inolvidável instante, tomou posse da minha alma por toda a eternidade. Sentia-me renovada por Ele até ao mais profundo do meu ser, preparada para empreender a nova vida, para cumprir com os deveres e levara a cabo a obra disposta pela sua Providência. Entreguei-me a Ele sem reserva, abandonando-Lhe por completo o meu futuro.

Em 1904, Elisabeth expressou o seu afecto por Félix e a sua fé cristã, escrevendo: há que ser indulgente com umas convicções que o tempo e Deus tornaram profundas, e graças às quais não converti num ser amargurado e egoísta. Elisabeth, amando muito o seu esposo, desejava vê-lo regressar a Deus. Por isso, oferecia as pequenas penas, contrariedades e humilhações, que enchem os seus dias, assim como as tribulações mais penosas da sua enfermidade e os sofrimentos morais.

No ano seguinte, em 1905, com tuberculose, morreu a sua irmã Juliette, de quem era especialmente próxima e cuja perda deixou uma ferida permanente no seu coração. Contudo, passa a aceitar os sofrimentos com mais paz. Os laços familiares e espirituais, que continuam para além da morte, fazem-na tomar consciência da Comunhão dos Santos, conforme escreveu: Graças a esse bendito dogma, inclusive o ser mais isolado, o mais pobre, o que se vê prostrado num doloroso leito ou cuja vida a obrigam a humildes renúncias e sacrifícios diários, um ser assim pode exercer influência sobre outros e alcançar, mediante a graça divina, quem a sua acção quiçá não teria afectado. Nem uma das nossas lágrimas, nem uma das nossas orações se perde, e têm uma força que muitas pessoas desconhecem. Eis, ainda, este seu pensamento muito conhecido e tão belo: Cada alma que se eleva, eleva o mundo.

Padre Manuel Mendes