PADRE MANUEL ANTÓNIO

O Padre Manuel António veio comigo para a Obra no mesmo ano, em 1957.

Encontrámo-nos, pela primeira vez, na inauguração da Capela do Calvário, o antigo e grande espigueiro onde secava o milho, transformado agora em Armazém do Pão da Vida.

Como o Padre Américo sorria ao ouvir o Sr. D. António Ferreira Gomes nesta bela transformação do espigueiro em capela. Como este Bispo nos encheu o coração com a sua palavra e o seu apreço.

Saímos os dois sozinhos para a mata do Calvário a falarmos do ideal comum, cheio de sonho, de alegria e de entrega.

O Padre Manuel ficou quatro anos em Paço de Sousa, onde fez, com o Padre Carlos, uma amizade única. Eu vim para Setúbal quase começar a Casa, com mais experiência que o Padre Manuel, pois desde os 18 anos, passei as férias a trabalhar com os rapazes e o Padre Horácio na Casa do Gaiato de Miranda do Corvo.

Em 1961 o Padre Manuel foi para Benguela acompanhar uma casa de rapazes, e nessa mesma quinta construiu a nova aldeia que é hoje Casa do Gaiato de Benguela.

Lembro bem a vida dura por que passou. Dormia com os rapazes numa grande camarata, cujo cheiro nocturno eu não aguentei quando, de visita, estive com ele e fui dormir para a casa-mãe em obras, sem janelas nem portas e com as paredes em osso. Ele estava afeito ao sofrimento e dormia mesmo naquelas condições.

A sua heroicidade durante a guerra civil angolana foi uma epopeia.

De rapazes da rua abandonados, fez mais de dois mil homens para aquela Casa. Em Benguela o Padre Manuel tem fama de Santo entre o povo e os cristãos.

Poucas vezes veio a Portugal. A sua vida foi uma doação até à última gota de suor, sofrimento e entrega.

Chamámo-lo para que descansasse um pouco, que restabelecesse a saúde. Estava no Calvário com o Padre Telmo, o Padre Fernando e agora o Padre Alfredo.

O Senhor levou-o, depois de vencer a pandemia, para o Céu. Será, com os outros padres e as nossas senhoras, um intercessor.

Padre Acílio