
O NOSSO CALVÁRIO
As obras que decorrem no Calvário de Beire, Paredes, da Obra da Rua, dizem respeito à legalização e alteração de dois dos edifícios existentes para continuarem a servir ao acolhimento de pessoas idosas e doentes, sem outro suporte que não o que lhe presta a Obra do bem-aventurado Pai Américo. Tiveram início em Maio de 2020 e têm conclusão prevista para Setembro de 2021.
Apresentamos aqui as impressões e alguns elementos, em forma de conversa com a Arquitecta Margarida Osswald, que nos oferece a fiscalização da obra a cargo da empresa Engivallis. Agradecemos essa disponibilidade e generosidade.
PF - Recorde-nos, a mim e aos leitores do nosso jornal O Gaiato, como foi a primeira reunião desta obra tão significativa e urgente?
AMO - Foi diferente de todas as que já vivenciei. Por causa da pandemia necessitávamos de manter a tal distância de segurança entre nós, e também de usar máscara. Reunimos na sala grande no 1º andar, do edifício do consultório e da farmácia, onde a lareira, um piano velho e alguns restos de pinturas nas paredes indicavam o uso anterior da sala. Ali em pé, formámos um círculo amplo, e todos, o Arquitecto Seca, autor do projecto, o Engenheiro Carlos Oliveira, empreiteiro, os encarregados Miguel Mota e Engenheiro João, o Padre Rafael e eu ouvíamos o senhor apresentar a Obra e resumir a história desta alteração aos edifícios, e sublinhar o facto de este ser um trabalho especial, para uma comunidade que vive de doações e não de subsídios, da entrega de cada um, pedindo, por isso mesmo, a compreensão de todos no decorrer dos trabalhos.
PF - Como é trabalhar para uma instituição onde os doentes estão de olhos postos no vosso trabalho e esperam ansiosamente a sua conclusão?
AMO - Eles sempre nos lembram para que espécie de instituição trabalhamos, recordam-nos as pessoas dos fundadores (Pai Américo e Padre Baptista) que tornaram possível a sua existência ao longo de seis décadas. Neste caso concreto do Calvário é ainda mais importante fazer bem, cumprir prazos e sempre que possível fazer os impossíveis acontecerem: tratar delicadamente os granitos como se fossem fáceis de trabalhar; manter a traça original sonhada; não danificar guardas e beirais; preservar os painéis de azulejos!
PF - Em obras de remodelação de edifícios mais antigos há sempre surpresas.
AMO - Sim, houve coisas que não foi possível manter: as madeiras da estrutura do telhado estavam "cansadas" e tiveram de ser substituídas por uma estrutura metálica leve; a laje do teto do piso superior não apresentava condições de segurança e teve de ser removida; os vãos das janelas já foram recolocados e aumentados de acordo com as exigências legais (como se nada se tivesse passado, foi "só" deslocar as pedras de granito dos peitoris, o que significou desmontar parte do vão e remontá-lo mais abaixo); o telhado em breve estará todo com telhas novas (isolado ao frio e estanque à água); as paredes divisórias para os quartos estão de pé; os rasgos para as tubulações de esgoto, água, eletricidade e restantes instalações estão feitas.
PF - Um sinal da evolução da estrutura edificada é a plataforma/ cúpula de união entre os edifícios dos pavilhões dos doentes e dos antigos gabinetes médico e de enfermagem.
AMO - Certo. Manteve-se intacta a rampa e desde o solo avança uma nova laje. A execução do ferro segue bem e os envidraçados estão a ser preparados.
Os edifícios manterão as suas funções originais com capacidade para 43 doentes (4 quartos triplos, 13 quatros duplos, 5 quartos simples), refeitório, salas de actividades e convívio, instalações para a direcção, para os funcionários e os voluntários, acessos aos jardins e comunicações verticais mecânicas.
PF - Somos confrontados com adiamentos...
AMO - Claro que as surpresas e algumas incertezas de
projeto fazem com que os trabalhos se atrasem. Mas, como dizia um mestre mais
antigo: "gema o patrão, mas não gema a obra!" Querendo com isto dizer, que
precisamos de uma obra bem edificada que enfrente bem os muitos anos que se
pedem e que continue a servir bem os actuais e novos doentes. Em suma,
desejamos uma obra bem pensada e bem executada, de acordo com os parâmetros e
exigências dos nossos dias, tal como, há longos anos atrás, com os parâmetros e
exigências de então, a sonhou e executou o Padre Baptista.
Padre Fernando