O NOSSO CALVÁRIO
Para os nossos "bons amigos" e benfeitores podemos comunicar que as almejadas obras de "(re)contrução do Calvário estão no "bom caminho", quer as fisicamente falando, quer a implementação de dinâmicas de (re)adaptação às circunstâncias e situações exigidas nos tempos em que vivemos, mas esperamos nós, conseguir isto mesmo, no espírito do nosso Pai Américo, e como foi "sentido" pelo nosso Padre António Baptista.
As palavras que hoje escrevo, foram motivadas pela partilha com "o Admirador" que escreve no "Gaiato".
Pois, no XXI Domingo do Tempo Comum, tive a oportunidade de partilhar o ministério Sacerdotal na paróquia do Sobrado, Valongo, onde se encontra a paroquiar o meu amigo Pe. Vicente Nunes. E como Padre da Obra da Rua, ao aceitar o convite, além de ser um gesto de agradecimento para com ele (estagiei pastoralmente no 5º ano Teologia em Soalhães, sendo o P.e Vicente pároco e onde pela sua iniciativa, celebrei Missa nova) também me veio logo à lembrança, pelas conversas com o Pe Telmo, que esta poderia ser uma oportunidade para dar a conhecer o ponto de situação do "Nosso Calvário", e promover o "O Gaiato", com a possibilidade de angariação de "ajudas" para as obras e assinaturas do jornal.
No Evangelho do dia, Jesus convida os discípulos a aderirem ao seu projecto e a acolherem-n'O como "o Messias, Filho de Deus". Dessa adesão, nasceria a Igreja - a comunidade dos discípulos de Jesus, convocada e organizada à volta de Pedro. A missão da Igreja será assim, dar testemunho da proposta de salvação que Jesus veio trazer.
Na segunda parte reflecte-se sobre o chamado "poder das chaves", que Jesus entrega a Pedro como o primeiro servidor do Evangelho e congregador dos discípulos. Mas aquele que detém "as chaves" não pode usar a sua autoridade para concretizar interesses pessoais e para impedir aos seus irmãos o acesso aos bens eternos; mas deve exercer o seu serviço como um pai que procura o bem dos seus filhos, com solicitude, com amor e com justiça. Assim aconteceu com o Venerável Padre Américo, e que nós devemos de continuar a servir com a mesma solicitude.
Na primeira parte, Jesus tinha questionado os seus seguidores de quem eles diziam que era o Filho do Homem... Por isso a deste texto evangélico que é central no Evangelho de Mateus, e Ele (Jesus) se prepara para enfrentar as consequências da sua missão, também nós devemos colocar as seguintes interpelações: Serei dos que caminham com Ele? Para tal, surge a pergunta: Quem é Ele, para os outros... para mim? Mais que as palavras, importa a relação com Ele. Como está a minha fé? O que representa Cristo para a minha vida? A sua presença é tal que, em tudo e para tudo nas minhas decisões, Ele conta?
Assim, agradecendo o convite do vosso zeloso pároco para vir celebrar na vossa comunidade, desde logo, despertou no meu espírito a oportunidade que teria para poder trazer à memória alguém, que decerto calcorreou estes lugares, dando testemunho pessoal com a sua palavra e vivência plena da resposta às palavras de Jesus, que ele descreve na primeira pessoa dirigindo-se a um amigo: «sabes...é uma "martelada". Olha é uma "martelada"! Não sei explicar-te melhor.» Foi esta experiência de encontro intimo com Jesus que levou o Venerável Padre Américo a uma entrega incondicional ao Evangelho da Caridade, no serviço dos mais pobres e marginalizados do seu tempo, como há uns tempos nos propunha o Papa Francisco na encíclica "A Alegria do Evangelho": a igreja pobre para os pobres como uma Igreja em saída para as periferias económica, sociais e existenciais.
Quem dizes que eu sou? O Padre Américo responde: "A Obra da Rua (sua fundação) é já, por si, uma afirmação da Divindade de Jesus (Pedro disse: Tu és Cristo, O Filho de Deus vivo); ela é o mandamento novo em marcha. O amor ao próximo sem cerimónias..." E nesta resposta pessoal a Jesus coloca-se ao serviço dos irmãos: "A Obra da Rua é o amparo da criança abandonada. Ela prefere os mais repelentes. Os mais difíceis...e exclama - oh riqueza da altíssima pobreza do Evangelho; só tu sabes fugir do lixo... e do luxo!"
Como uma verdadeira intuição, devido às prementes situações que se encontravam muitos doentes incuráveis colocados porta fora dos estabelecimentos de saúde, o nosso fundador, em 1954, no Coliseu do Porto propôs-se construir o que viria a ser a futura realização da Obra, O Calvário, dizendo: "o êxito de uma obra assim não se discute. Não há homem de bem que possa duvidar..."
Assim, dava início ao Calvário, que diferentemente das outras casas já em funcionamento, vinha dar resposta a algo igualmente emergente: os doentes incuráveis e abandonados familiar e socialmente. Realidade esta que permanece até aos nossos dias. O próprio Padre Américo intuía o surgir de estruturas que pudessem replicar esta sua proposta: "Noutras vilas, noutras aldeias abram-se casas desta natureza", quais serviços de cuidados continuados e paliativos, hoje implementados.
Apesar de finalidade diferente do objectivo primeiro da Obra da Rua, mas imposta pela tal premência, como acontecera com "os gaiatos", Pai Américo sempre acreditou no seu sucesso, porque obra de fé: "Mas há ainda outra razão mais subida do seu formidável êxito, e esta não pode faltar - é a vontade de Deus"
Também nós hoje e com a ajuda de todos os que acreditam na alegria do Evangelho e no serviço aos irmãos (como a Obra da Rua que não recebe subvenções, nem subsídios do Estado, apenas confiando na generosidade das pessoas e que se encontra a renovar e restruturar o Calvário que acolhe doentes e pessoas portadoras de deficiência, sem nada esperar em troca, pois normalmente são de classes com baixos rendimentos económicos e com situações familiares destruturadas), queremos continuar a acreditar nas palavras convictas do seu instituidor: "A pobreza é a única fonte que alimenta as Obras de Deus...elas são sempre moças, fecundas, queridas das almas, abençoadas por Deus."
Tal como no seu tempo, também no nosso, continuamos a querer dizer um sim pleno a Jesus através dos nossos gestos de beneficência e partilha! Deste modo, ficamos a esperar com o vosso apoio e contributo!
No final das celebrações Eucarísticas, celebradas na igreja Matriz de Santo André do Sobrado e na Capela de São Gonçalo, fez-se apelo à assinatura do Jornal "O Gaiato" e oferenda para as obras do Calvário, concluindo-se com a reza da Oração pela causa de Beatificação do Padre Américo.
Deixo as minhas saudações especiais em Cristo para o
Reverendo Pe. Vicente Nunes e a sua comunidade!...
Pe. Fernando Fontoura