O NOSSO CALVÁRIO

As vicissitudes constantes fazem parte de qualquer vida particular, mas muito mais quando se trata de organismos ou instituições, particularmente quando as mesmas são diferenciadas de tantas outras que similarmente desenvolvem, à partida, os mesmos fins. Normalmente, e numa cultura legislativa como a vigente, a massificação parece ser o caminho possível... por vezes a identidade e cultura institucional tem de se vergar perante a normalização não raras vezes excessiva que limita a criatividade essencial para a diferenciação das propostas de cada entidade.

Temos, na verdade, de reconhecer a imprescindível regulação institucional exercida pelo Estado de direito, mais que não seja pela salvaguarda dos direitos fundamentais de que a pessoa goza numa sociedade livre e democrática. Pela experiência pessoal acumulada, subsiste em mim um misto de dúvidas, mas também de muitas certezas da necessidade de existir regulação clara e de princípios básicos para o funcionamento de qualquer instituição e mormente das de índole social. Pois estar-se sujeito apenas a alguns critérios "pessoalíssimos", pode porventura sofrer de algum padecimento degenerativo. Mas o "cunho identitário", tanto a nível individual, quanto do ponto de vista da especificidade institucional, tem de ser sempre uma aportação de mais valia, de uma identidade, das idiossincrasias específicas e distintivas de uma obra de bem fazer...

Devemos um tributo imenso aos sonhadores da nossa magnífica Casa do Calvário e do Gaiato de Beire, Pai Américo e Padre Baptista, e à exímia mestria revelada por este último, quer na concepção estrutural da aldeia, quer na dedicação e oferta total da sua vida ao serviço dos doentes e gaiatos residentes.

Por vezes as incompreensões, seja qual for a sua proveniência, acabam por provocar reacção, que acolhida com serenidade conformativa, normalmente se transforma em ponto de partida para a resolução das situações pendentes...

Estando conscientes de todo o magnífico caminho percorrido, na intersecção abrupta que sofreu há algum tempo atrás, como é do conhecimento de todos, estamos no presente momento, com a transparência fundamental de várias entidades (Instituto de Segurança Social, Município de Paredes, Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, Diocese do Porto e Obra da Rua), a construir pontes de entendimento para que, no cumprimento estrito das orientações legais, seja possível implementar a índole específica e identitária do modo operandis próprio do da Obra da Rua ou do Padre Américo numa fidelidade criativa ao pensamento do nosso Fundador. Como Pai Américo, não podemos deixar de ser "homens do tempo", ou seja, queremos utilizar e usufruir de tudo aquilo que permite uma vida digna aos que nos estão confiados.

Padre Fernando Fontoura

Continua