CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA 

TRÁGICO OPTIMISMO

Vem aí o Natal, com os habituais votos de Paz e Bem, mas por cá e no resto do Mundo o que vai acontecendo infelizmente não é neste sentido. Por isso, achei que vem a propósito um artigo que saiu há dias num jornal americano com muita circulação e reputação sobre aquilo que Viktor Frankl designou por "trágico optimismo".

O tema também tem todo o cabimento no âmbito destas crónicas porque o trabalho vicentino não é só, nem é principalmente providenciar ajuda material a quem está em situação de carência económica. É também fazer o que estiver ao nosso alcance para ajudarmos as pessoas nas situações a que se refere este termo de "trágico optimismo", situações essas que a ajuda material não resolve e que também são muito difíceis de resolver por outras vias.

Para quem possa não conhecer Viktor Frankl, é um neuropsiquiatra austríaco que nasceu em 1905 e faleceu em 1997 e que escreveu um livro que foi um best seller intitulado "Em busca de sentido" onde descreve como foi a sua vida de prisioneiro em quatro campos de concentração nazis.

O que ele designou por "trágico optimismo" é o que acha que deve ser a atitude face a três tipos de tragédias que podem acontecer a qualquer pessoa, a saber: a perda, a culpa e a dor. A perda pode ser o falecimento de alguém que nos é muito querido, a demência ou outras situações de diminuição das capacidades cognitivas, o perder-se a capacidade de realizarmos alguma actividade da nossa vida diária (andar, cuidar da nossa higiene e da nossa alimentação, etc.), o corte de relações com algum familiar ou com alguém a quem queríamos muito e outras.

A culpa pode ser o remorso por algum mal que se fez e que já não dá para corrigir como deve ser.

A dor pode ser não só o que vem com a doença, mas também o sofrimento psicológico.

Nestas situações é muito difícil, ou mesmo impossível reverter o que as causou. Não dá para ressuscitar alguém que faleceu. Não dá para evitar algum mal que se causou a outra pessoa. Não dá para evitar uma doença que é incurável.

No trabalho vicentino ou noutro que tenha também como propósito ajudar quem precisa não é possível reverter essas situações. A ajuda material também não resolve.

Por isso, muitas vezes, em situações destas, há a tendência para se cair numa das duas atitudes seguintes: o extremo optimismo que consiste em meter a cabeça debaixo da areia, ou seja, esquecer que essas situações trágicas acontecem, ou o extremo pessimismo que consiste em cair no desânimo de que não há nada de positivo que se possa fazer para lidar com essas situações.

O que Viktor Frankl designou por "trágico optimismo" não é nem um, nem outro destes dois extremos, mas sim ter uma atitude positiva no sentido de que, mesmo numa situação trágica, há sempre alguma coisa que é possível fazer, por pouco que seja, para continuar a levar a vida para a frente até que Deus nos chame. Um doente, mesmo incurável, pode ainda ter forças para ajudar outro doente que tem ainda menos capacidades. O mal que se fez a alguém e que já não tem remédio pode ser lição para que não se volte a fazer o mesmo. A dor física ou psicológica que não tem cura pode ser um pouco aliviada com a ajuda da medicina, ou do carinho e companhia de alguém.

Que os votos de Paz e Bem que desejamos aos nossos leitores e as festividades natalícias que aí vêm ajudem a que haja mais e melhores atitudes de "trágico optimismo" tão precisas neste mundo em que vivemos!

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Américo Mendes