NOVO LIVRO DA NOSSA EDITORIAL
Padre Baptista - Alma, Corpo, Mãos, e Coração de O CALVÁRIO
Durante sessenta anos (quantas horas e dias têm sessenta anos?), com a facilidade que dá a prática, Padre Baptista alimentou, limpou, virou, mudou, cuidou corpos e mentes retorcidos como nós. Foram eles, afinal, o corpo de delito que (...) o condenou...
Alguém, que estou certo não gostaria de ser nomeado, entre muitos outros, materializou ideias, sugerindo se avançasse com um instrumento jurídico de carácter excepcional: um pedido de indulto, subscrito por pessoas idóneas e dirigido ao Presidente da República Portuguesa.
O presente livro reúne, pois, as peças documentais testemunhais de um pedido de indulto que no seu conjunto configuram e documentam um processo singular como, de resto, singular é o homem em torno do qual tudo gira. Aqui depõem: António Ramalho Eanes, Jorge Sampaio, Aníbal Cavaco Silva, Cunha Rodrigues, Anselmo Augusto Lopes e Augusto Lopes Cardoso.
O condenado recebeu o indulto do Presidente da República, Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa, no Natal de 2018.
(...) Incomoda-me a ideia de que um só leitor possa pensar que foi Padre Baptista quem, esmagado, sofredor, estigmatizado, etc., sentiu necessidade de pedir um indulto, apelando à benevolência de quem lho podia conceder. Ao que julgo saber, assim o determinam a forma e a terminologia de lei. Na verdade, sabem alguns da dificuldade de tão-só convencer o condenado a deixar avançar a ideia...
«Foi e é só mais uma prova. Já não é nada. A minha vida está serena. Sinto-me com mais tempo para estar comigo e com Deus. E se às vezes sinto alguma dor, ela é serena.» Acredito nestas palavras, ditas ao telefone, um dia destes. Sei que a corrente que o leva é mais funda, alheia ao movimento das marés e tempestades.
Colocar este homem em lugar exaltado é diminuí-lo. O Calvário que edificou é da ordem do extraordinário, extravasa rótulos ou categorizações. Por isso, qualquer análise ou retrato seu terá de passar por uma visita àquela casa e seu cemitério; e, no pressuposto de que «o escritor não diz só o que escreve; diz também o que é», terão de ler-se os três volumes de O Calvário ou, ao menos, a antologia O Calvário [Páginas escolhidas e documentário fotográfico], organizada por Walter Osswald, coordenada por José da Cruz Santos e editada pela Casa do Gaiato. Nas palavras do homem que sempre se mostrou forte entrevêem-se marcas de uma sensibilidade em carne viva. Sim, os seus textos «parecem poemas místicos», têm textura de poesia e oração, não raro, é como se as frases neles se incendiassem e as palavras nos queimassem. Tudo o mais me parece secundário senão mesmo trivial.
Nem tangencialmente quero comentar o processo que deu origem aos textos que adiante se apresentam, mas estou convicto de que, no tribunal do Tempo, não será Padre Baptista a sentar-se no banco dos réus.
Da Apresentação do livro
Prof. Doutor Henrique Manuel Pereira