MOÇAMBIQUE

É tempo de Fé, é tempo de esperança. Por vezes, fico incomodada quando perguntam "como estás, e a Casa do Gaiato, e os rapazes?". Respondo com confiança: caminhando, estamos bem. Só Deus sabe o quanto me custa dar estas respostas. A Obra é de Deus e Ele continua presente em todos os momentos da nossa vida.

Sr. Padre José Maria era um homem de fé e profunda união com Deus. Sempre tinha em mente o hoje, o amanhã e o depois. É assim que olhamos para o futuro.

Todos os dias no refeitório diante dos rapazes, com os olhos neles, a minha alma fica inquieta. Questiono-me: como devo fazer para garantir a estes rapazes comida, medicamentos, água, luz, educação... Logo me vem à mente uma resposta: Confiança, serenidade, não estás só. Porque te preocupas com o dia de amanhã se Deus cuida até dos pássaros. É importante continuar a envolver toda a sociedade pois os pobres são de todos.

Quantos pedidos aparecem em nossa Casa. Por vezes sinto a amargura em ter que dizer não, e em alguns momentos tenho que parar e ir à procura dos pais, tios e avós para chamá-los à responsabilidade.

Lembro-me em 1998 quando o Sr. Padre Baptista esteve em nossa Casa, e perante o que viu alertou-nos para perigos que a sociedade moçambicana poderia vir a enfrentar. E dizia-nos "preparem-se para acudir muitos casos de tuberculose, desnutrição e outras doenças, pois conforme vejo vocês estão em perigo". Isto parecia algo impossível, mas perante o nosso dia-a-dia realmente ele tinha motivos para fazer esta colocação. Este ano, dos 24 rapazes que recebemos 18 carecem de cuidados especiais. Um deles foi tirado de um esconderijo com 14 anos e tinha apenas 13 quilos. Hoje é a alegria da nossa Casa.

Estamos perante uma sociedade de extremos. Nas refeições com os nossos rapazes mais velhos, que estudam na cidade, os comentários fazem-se sentir. Aparecem jovens de 18 anos que chegam a ter 6 viaturas e diariamente ostentam esses bens aos colegas mostrando a sua prepotência. E dizem que não gostam de pobres. Outros, que estudam em faculdades no exterior, chegam a servir grandes banquetes para exibir o quanto são importantes. Que a justiça de Deus não tarde!

Há dias atrás fomos à Igreja de Santo António da Polana agradecer aos paroquianos o gesto de solidariedade que têm tido para com a nossa Casa. Um grupo de rapazes fez uma apresentação e sentimos o calor humano daquela comunidade cristã. Era uma grande manifestação do Amor de Deus por nós. O Sr. Padre José Maria desejou muitas vezes ter ido até lá, mas não foi possível. Hoje fomos nós, que damos continuidade ao que ele iniciou, com tanto carinho em nome de Deus. Tendo sido um fiel discípulo de Padre Américo, de certeza que no Céu ficou muito contente em ver os seus filhos numa atitude de gratidão e humildade. O jornal O GAIATO tem sido distribuído naquela comunidade. Fizemos um apelo para que as pessoas fossem assinantes e a resposta veio de imediato.

Hoje, Jesus convida Pedro, Tiago e João para o monte e lá acontece a primeira revelação da ressurreição, a Transfiguração. Que Jesus nos ensine no meio das incertezas a ter a coragem de continuarmos firmes a servir os mais pobres e abandonados, dando continuidade ao carisma do nosso fundador, Padre Américo.

Quitéria Paciência Torres