MOÇAMBIQUE

Que a nossa sociedade se torne mais fraterna

Já passa das 20 horas e o telefone não para de tocar. É o Jacob, um dos nossos gaiatos. Pede ajuda. Urgente.

Jacob encontrara uma senhora com gémeos de três meses ao colo. Estava a pedir emprego pelas barracas de Boane. Jacob não conseguiu virar a cara. Foi ao encontro da pobre mãe, para ouvir a sua história.

Nessa mesma noite, mandei outra pessoa para ajudar o Jacob. Levaram a senhora para a sua casa, depois de ter arranjado leite e comida. Qual a surpresa? Em casa, estavam mais quatro crianças. Que tristeza!

No dia seguinte, Jacob foi colocar o caso e pedir apoio junto da Acção Social. O pai das crianças vive perto, mas nunca quis saber dos filhos; as outras crianças são de pais diferentes. Os tios e outros familiares da mãe vivem ali perto. A mãe e as crianças necessitam de um seguimento especial de saúde.

Ela foi orientada desde a gravidez, mas nunca mais procurou este apoio porque a urgência dela, o assunto mais importante para ela, sempre foi conseguir algo para alimentar os seus filhos.

O pai, sentindo-se ameaçado, procura resolver a situação com pancadas.

O mais grave é que passou mais de um mês e a situação permanece igual. A mamã continua, nas noites, a pedir emprego nas barracas. As crianças e a própria mãe correm risco de vida, perante a indiferença de todos.

Jesus, envia operários para a sua Messe. Operários que queiram verdadeiramente assumir a dor dos que sofrem. A Messe é grande e os operários são poucos. Que a nossa sociedade se torne mais fraterna!

Que os pais e mães sejam os primeiros a dar exemplos aos filhos. Não importa se é pai ou mãe biológico ou do coração. O importante é que Deus é Pai e Mãe.

Milho e água

Que alegria ver o nosso campo com algo de verde!

A chuva foi pouca, mas trouxe, para nós, uma grande esperança. Chegou o tempo fresco. Agora, vamos às sementeiras de hortícolas, aproveitando da água que conseguimos na pequena lagoa. Vamos lançar as sementes, multiplicar e dividir tudo muito bem. É um momento de graça.

Acabámos de colher o nosso milho. Por várias vezes tivemos que interromper, com as avarias das máquinas, mas já terminámos com a colheita.

Hoje, foi mais uma reunião para rever o ponto de situação do projecto da conduta de água da Barragem para a Casa do Gaiato.

A Direcção da Barragem, muito sensível à situação da Casa do Gaiato, coloca-se à disposição e prioriza o projecto. O Governo também dá o seu parecer positivo e recomenda o estudo do impacto ambiental. O Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural concede título definitivo do terreno da Casa do Gaiato.

Nós estamos ansiosos por começar a obra. Já sabemos que cada tubo de 5,80 metros, em PVC, custa, em Moçambique, 800 euros e precisamos de mais de 700 tubos; a vala, de 4 quilómetros com 1 metro de largura e 2 de profundidade, custa 500 euros por metro.

Como gostaríamos de fazer este trabalho com o nosso povo à volta! Foi assim que construímos a nossa Casa. Tudo com mão-de-obra local.

Meu Deus, este sonho já dura há muito tempo, mas... vamos continuar a sonhar! Que Deus coloque, no nosso caminho, sonhadores do bem-fazer e de certeza iremos acordar com a obra feita. Para juntos celebrarmos a alegria de poder ver tantas crianças felizes.

Quitéria Torres