
MALANJE
Há umas semanas, apareceram do INAC (Instituto Nacional da Criança) com um menino que aparentava ter uns 4 anos. Pediram-me para o receber e eu logo desconfiei, pois não trazia qualquer documento. A técnica do INAC tirou-lhe a camisa e pude ver como tinha as costas e parte do pescoço cheios de cortes e cicatrizes. Abracei-o imediatamente… o seu corpo já trazia escritos todos os documentos necessários para ser recebido no Gaiato.
Segundo a informação, o pequeno apareceu no hospital com uma malária muito avançada, e ao verem o seu estado, os médicos avisaram a polícia, que por sua vez informou o INAC. O caso estava na justiça e precisavam de um lugar onde o menor pudesse ser acolhido.
Jovani, como é chamado o menino, não dizia uma palavra, apenas apontava as coisas. Rapidamente demos-lhe um banho, cortámos-lhe o cabelo e vestimo-lo com uma roupinha limpa. Já passaram três semanas desde então. Agora o pequeno já sorri e começa a dizer as suas primeiras palavras. Desde que chegou, tenho procurado cuidar dele pessoalmente — de tal forma que, mal acorda, vem até à varanda e começa a chamar: "Padreeee, padreeee!", até eu abrir a porta.
Alguém me disse que esse menino, em quinze dias, recebeu mais amor do que em quatro anos de vida. O Gaiato tem essa magia de devolver a voz e o sorriso às crianças.
Este ano, ao abrir a possibilidade de que os mais velhos possam continuar os seus estudos universitários em Casa, e de que aqueles que passam para o segundo ciclo do ensino secundário possam escolher a sua área de estudos, teremos um grande desafio económico. Realmente não sabemos se conseguiremos responder a tudo, mas estamos conscientes de que uma família, quando investe na educação dos seus filhos, está a prepará-los para o futuro e para contribuírem para uma sociedade mais justa.
Da parte dos chefes e de toda a comunidade, há a vontade de recuperar as áreas produtivas da Casa.
O projecto do Calvário de Malanje continua a dar passos firmes e estamos a ultimar o anteprojecto que será apresentado ao Governo Provincial para aprovação. Este mês começam as obras de reabilitação do galinheiro com a colaboração da Mundo Orenda; certamente também precisaremos da ajuda de algum benfeitor entre os nossos leitores.
Graças ao apoio de um grupo missionário de uma paróquia de Zaragoza, vamos ainda ampliar a enfermaria e, se tudo correr bem, colocar um tecto falso em algumas das salas da escola.
Agradecemos de coração por todo o apoio que permite que a Obra da Rua e o espírito do Padre Américo continuem a fazer-se presentes no mundo. Rezemos para que nós, padres da Rua, sejamos também capazes de encontrar novos caminhos, para que outros encontrem no nosso modo de viver — discípulos pobres ao serviço dos pobres.
Padre Rafael