MALANJE

O Bento veio buscar-me cedo para visitar as casas dos idosos. Tratava-se de um Lar construído há mais de dez anos para acolher avós abandonados. Cada habitação tinha dois quartos e uma casa de banho. A paróquia, juntamente com várias organizações, dedicava-se a apoiá-los sobretudo na alimentação e na medicação. Era, de facto, um pedaço de céu para aqueles que já não tinham família ou haviam sido deixados para trás.

Quando chegámos, encontrámos uma senhora idosa que saía para pedir na rua, dizendo que a fome era demasiada. A maior parte deles sai a pedir pelo bairro e, quando recebem alguma coisa, partilham com aqueles que já nem se conseguem mover. As instituições do Estado afirmam não ter condições para ajudar, e a Cáritas, por vezes, oferece algum apoio no início do mês. Aproximaram-se rapidamente e o Bento — antigo sacerdote e fundador do projecto — apresentou-me como o Padre do Gaiato. Fui logo cumprimentado, e muitos perguntaram pelo Padre Telmo. O coração começou a chorar. A história repete-se: são sempre as crianças, os idosos e os doentes os primeiros a sofrer a violência da pobreza.

Ali encontrámos também algumas crianças abandonadas com os seus avós, porque a família as havia rejeitado. Algumas tinham deficiências físicas e psíquicas, o que me fez recordar o nosso lar para crianças. Saí de lá com a promessa de lhes levar algo para comer, pois tinha ido de mãos vazias — algo que nunca se deve fazer quando se vai à casa de um pobre.

No regresso, o catequista que havia ajudado o padre a construir aquele lar confidenciou o seu receio de que, ao morrer, Deus lhe pudesse perguntar: "Porque construíste um lar para os idosos se agora eles passam fome?". Os Padres da Rua devem sair ao encontro dos pobres e desamparados — e hoje eu fiz isso. A malária de que me encontrava a tratar parecia dar lugar ao sofrimento estampado naqueles rostos. Amanhã levaremos alguns sacos de arroz, peixe e azeite, para que pelo menos possam comer durante alguns dias.

Como dizia o Padre Américo: "Para que os pobres sejam menos pobres, é necessário que os ricos sejam menos ricos. Não vim para dar, mas para repartir."

Padre Rafael