MALANJE 

Queridos leitores do Jornal «O Gaiato», em primeiro lugar, um feliz ano de 2025 cheio de saúde e amor para todos. Já faz quase três meses que estou aqui em Portugal, acompanhando a situação da Obra da Rua, além de descansar e cuidar da minha saúde. Gostaria de compartilhar, através deste cantinho, alguns pensamentos que nascem do meu ser como pai da Rua.

Todos temos, de alguma forma, consciência da situação em que a Obra da Rua se encontra no contexto actual, principalmente em Portugal. Percebemos que as Casas do Gaiato, no seu sentido mais original, não são possíveis devido às exigências das leis que, reduziram ao máximo as responsabilidades dos gaiatos nas casas e a possibilidade de oferecer uma estrutura familiar que acolha uma criança como em uma família até sua integração na sociedade.

Por outro lado, não podemos fechar os olhos às novas formas de pobreza que tantas pessoas vivem e que, sem uma alternativa, inevitavelmente acabarão na rua. A cada dia, mais pessoas vivem e dormem nas ruas. Situações como imigração, adolescentes que não se adaptam a famílias de acolhimento, jovens que aos 18 anos não estão preparados para enfrentar a vida, doentes e idosos… E assim poderíamos enumerar dezenas de situações que estão batendo às portas da Obra da Rua.

Não podemos permitir que a Obra se divida, assim como não pode acontecer em qualquer família. Todos precisamos nos alinhar em um projecto comum e saber reler os sinais dos tempos, como dizia o Concílio Vaticano II. Precisamos ser capazes de superar o pessimismo e apostar em encontrar novos modos de expressão para a Obra da Rua em Portugal. Há muito a fazer para quem ama aqueles que sofrem. Nosso ego é o maior perigo, que sempre bate à nossa porta.

Olhemos para a África como um contexto onde realidades como as Casas do Gaiato podem continuar sendo uma resposta maravilhosa para muitas crianças e adolescentes. Assim como o Gaiato de Beire, que acolhia jovens com problemáticas psicofísicas. E em Portugal, sejamos capazes de abrir novas iniciativas que façam da Obra da Rua uma alternativa de Caridade da Igreja no meio desta sociedade. Que este ano de 2025 nos conceda misericórdia para com os mais pobres e nos encha de esperanças para a nossa Obra da Rua.

Padre Rafael