
MALANJE
Com o início do mês de Setembro, começa a escola e damos como concluída a entrada de novos rapazes. Este ano, praticamente saíram dez e entraram outros dez. Os que saíram de Casa, uns foram para junto da família, para continuar a sua formação; outros alugaram um quarto. Aos que saíram, a Casa continuará a apoiá-los durante um ano em termos académicos e em alguns gastos, enquanto procuram trabalho ou colaboram com a Casa. A Obra não abandona o rapaz na sua incorporação na sociedade, sim acompanha-o à distância. Todos têm um certo receio de enfrentar a vida, mas são conscientes de que têm que enfrentar este desafio.
Dos que entraram, cada um traz uma história na sua mochila de menino: um, com 4 anos, é irmão de outro que já cá temos; outro, a mãe vive na mais absoluta miséria carregada de filhos; outro, órfão de pais, vive com a avó que com seus 75 anos ainda trabalha no campo; outros três irmãos, entre os 9 e 12 anos, nunca foram à escola... e assim até aos dez. São dezenas que ficaram à porta da entrada... agora, toca a fazer de cada um deles um homem.
Chegam-nos notícias de que Padre Alfredo se está preparando para vir a Angola para conhecer as Casas do Gaiato e ao mesmo tempo estará uns meses em Malanje, para que eu possa ir fazer uma revisão médica e ver se me retiram algum material da perna. Continuamos com o projecto de construir quatro novas salas para começar no próximo ano a Formação Profissional Básica do 7.° ao 9.° anos com o grande desafio de podermos ter um Centro de Formação Profissional na nossa Casa do Gaiato. Para a construção, contamos com o apoio de Manos Unidas, e para o resto, com a colaboração generosa dos Amigos da Obra e Leitores do Jornal.
Há uma semana bateu à nossa porta uma mulher que tinha um filho deficiente numa perna e num braço, há um mês outro surdo-mudo... assim são dezenas de rapazes que aparecem todos os anos e que, como dizia o nosso saudoso Padre Manuel António, é o clamor dos Pobres a pedir um Calvário para Angola. Rezemos e comprometamo-nos para que este sonho um dia seja uma realidade.
Padre Rafael