MALANJE

As Casas do Gaiato indicam-nos claramente que a Aldeia não é apenas uma morada. A Casa é dos gaiatos, é para eles e por eles tem de ser governada e dinamizada. O maior perigo que corremos, todos aqueles que andamos no meio da pobreza, é convertermo-nos em paternalistas de tal modo que acabamos por impedir o protagonismo daqueles que vivem uma situação de pobreza. Por esse motivo devemos, tanto directores como acompanhantes, sempre dar o primeiro lugar ao pobre, no seu desafio de sair da pobreza.

As nossas Casas são governadas pelos próprios rapazes, eleitos democraticamente por eles. A sociedade não acredita que isto seja possível e pensa que apenas lhes deixamos algum espaço para poderem organizar-se, mais a nível educativo do que administrativo ou de gestão. Para nós, não há outro caminho, tudo o mais é imitar canções com outros instrumentos.

Durante estas semanas alguns dos nossos mais velhos têm de pensar em organizar a vida. Uns porque querem ir para a Universidade, outros porque a idade lhes exige novas responsabilidades, outros porque querem trabalhar. Um dos perigos que têm as nossas Casas, é que os rapazes, por medo de enfrentar a vida, acabem por nunca sair do ninho e não aprendam a voar. Por isso, os chefes estão, diariamente, a conversar, particularmente, com cada um para ver como a Casa pode continuar a apoiá-los nesta nova etapa da sua vida: uns foram para junto dos seus familiares, outros alugaram um quarto para viver, outros passam a trabalhar em Casa com um pequeno salário, outros serão apoiados nas propinas da Universidade... toda uma lição para a sociedade e para nós... ver com que respeito e carinho se vão resolvendo os diferentes casos e como na grande maioria deles vai ser necessário um compromisso da parte dos rapazes mais velhos nas áreas produtivas para podermos conseguir esses meios económicos que vão ser necessários.

Padre Rafael