
MALANJE
Há dias, um dos nossos «Batatinhas» foi surpreendido a roubar mandioca num campo. Depois descobrimos que o grupo era de 12. A dona do campo trouxe um balde cheio e o pequeno gatuno, como aqui se chama a quem rouba. Todos pensámos que nos pediria dinheiro, mas não foi assim. Apenas queria que explicássemos aos nossos pequenos que roubar é feio, que os agricultores têm que trabalhar muito para conseguir um pouco de comida, e que se um dia tiverem fome, podem pedir que ela não nega um pouco de mandioca... Agradecidos por suas palavras, oferecemos-lhe um pouco de terreno que tínhamos preparado com o tractor para ela poder cultivar.
Nestes últimos meses está sendo muito complicado controlar os rapazes, especialmente os adolescentes, pois costumam ir aos bairros vizinhos para visitar amigos e procurar alguma distracção. Na Casa do Gaiato sabemos que uma das chaves são os chefes pelo seu papel de governar e orientar a Comunidade. Mas como acontece nas nossas sociedades, quando os dirigentes estão mais preocupados com seus interesses e privilégios, o Povo começa a estar desorientado e a sofrer. Como naquele ditado que diz: «quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga». Desde que começámos o ano, dos sete chefes já foram destituídos quatro.
Este ano a maior parte da produção agrícola será feita na Casa do Gaiato e não na fazenda, já que a colaboração dos rapazes é mais fácil, e também porque os mais pequenos podem acompanhar e perceber como se tem que plantar e ajudar a crescer uma planta, para dar fruto. A Natureza sempre foi uma das escolas das Casas do Gaiato. De momento, vamos preparar viveiros de cebola, repolho tomate, alface... já temos um pequeno campo de feijão. Também este ano não vamos colocar nenhum trabalhador; tudo será feito por eles...
Padre Rafael