MALANJE

O sino da capela toca quando o carro entra na nossa Aldeia. Começam a ouvir-se os gritos dos Rapazes, cheios de alegria. Todos eles se juntam em frente à casa-mãe. Por um momento, parece que o tempo para e nos convida a contemplar um momento de sonho. Quando chegamos, os «Batatinhas» ficam-se olhando, imaginando como é que me vão cumprimentar neste tempo de pandemia... Sorrindo, digo-lhes que as pessoas, em casa, se podem abraçar.

Depois de a todos cumprimentar, um dos rapazes traz-me um menino com cerca de 4 anos e diz: "Este é o caçula" (o mais pequeno). A princípio, ao ver a cor da minha pele, olhou para mim com certa desconfiança... Inclino-me e pergunto-lhe como é que se chama... e ele responde com uma vozinha: "Beni". E digo-lhe: agora tens um pai branco; e todos começaram a rir... entretanto o chefe da casa-mãe diz-lhe: "saúda o teu pai..." e eu dou-lhe um abraço.

À noite entro em nossa capela, fico diante de Jesus, peço desculpas, mais uma vez, por ter demorado tanto, agradeço a oportunidade que ele me deu novamente de me reunir com meus filhos, e juntos celebrarmos o reencontro com nossa amada África. Ele começa a reviver em minha mente todos os momentos em que esteve ao meu lado e sussurra em meu ouvido: "bem-vindo a Casa".

No dia seguinte, após a oração do Terço, conto como foi este ano para mim e as limitações físicas que tenho. Em seguida, explico que vou-me encontrar pessoalmente com cada um deles para ver como foi o ano. E que finalmente teremos uma reuniões para avaliar o curso e as responsabilidades. Sentarmo-nos para ouvir e falar, com o fim de acompanhar, continua sendo um dos grandes desafios.

Vem-me à mente o dia em que o Padre Alfredo passou por Angola com o Sr. Pacheco e ficou em nossa Casa um par de dias. Isto foi há dois anos. O Espírito o foi conduzindo até às portas da Obra da Rua. Hoje, gritamos cheios de alegria - como estes rapazes, quando chega seu padre. Celebramos a vinda de um novo Padre, decidido a fazer-se pobre com os pobres.

Padre Rafael